Oswaldo Almeida: Em tempo de pandemia, um registro histórico nos Campos dos Goytacazes
Oswaldo Almeida - Atualizado em 14/09/2020 18:02
a pandemia que estamos sofridamente vivenciando em nossa região dos Campos dos Goytacazes, presos em casa e rebuscando a história de nossa terra, nos deparamos com um fato que tem muito a ver com a crise que nossa geração está hoje testemunhando. O registro que vamos fazer guarda características muito próprias por ter ocorrido em nossos Campos, envolvendo dois dos três pilares da formação da etnia campista: o colono português, ávido por assumir as boas terras da região, e o índio Goytacaz, que as ocupava, dominava e as defendia das tribos vizinhas desde o ano 600, quando aqui chegaram.
Tudo se passou em torno do ano de 1600, quando os portugueses, após expulsarem os franceses do Rio de Janeiro e de Cabo Frio, ali se fixaram e dali buscaram alcançar novas terras no sentido norte, em direção aos Campos por fim chamados “dos Goytacazes”.
Estes índios, que constituíam a grande Nação Goytacá, tinham uma das suas três tribos sediadas ao sul da Lagoa Feia, com sua área de ação estendida, fazendo fronteira com Cabo Frio. Representavam o primeiro grande obstáculo a essa expansão colonizadora portuguesa.
De início, foi estabelecida uma fase de escaramuças entre as partes na fronteira, até que o novo governador do Rio de Janeiro, Salema, após liquidar com os Tamoios em Cabo Frio, sob pressão, resolveu enfrentar os Goytacazes e mandou uma expedição (uma bandeira) contra os índios que, surpreendidos, lutaram o quanto puderam em área próxima à lagoa, na briga dos arcabuz contra o arco e flecha.
Ao perderem este primeiro round, rapidamente os Goytacazes se retiraram para os Campos. No ano seguinte foi mandada uma nova e mais forte expedição contra os Goytacazes. Desta vez, chegaram aos Campos em uma embarcação armada, que entrou pelo rio Paraíba, buscando enfrentar outra tribo Goyacá, de guerreiros mais fortes. O combate se fez em área próxima à foz do rio Muriaé no Paraíba. Durou um bom tempo, e os Goytacazes estavam vencendo o combate quando chegaram reforços de combatentes portugueses com índios aliados vindos do Espírito Santo, o que mudou o destino da luta com grandes perdas para os dois lados. Ao sentirem sua desvantagem, os Goytacazes rapidamente se retraíram para os Campos.
Os portugueses, retornando ao Rio de Janeiro, passaram a preparar uma terceira expedição. Nesse interregno de tempo, os colonos portugueses de Cabo Frio resolveram apelar para a mais condenável das práticas de guerra. Passaram a colocar, na zona de fronteira dos Goytacazes, roupas infestadas de varíola, apanhadas inadvertidamente pelos índios, promovendo entre eles “a primeira epidemia nos Campos dos Goytacazes”, não com o vírus invisível de nossos dias, mas com o vírus implantado pelo próprio homem na primeira tentativa de uso da “guerra biológica” na região e no Brasil colonial.
Tudo indica que Cabo Frio tenha sofrido a incidência de varíola à época, até porque, seu Capitão Mor, D. Estevão Gomes, instalou um “posto de saúde” para atender os locais.
Os Goytacazes, com grandes perdas com a varíola e sem qualquer meio para enfrentá-la, se dirigiram a Cabo Frio, onde foram bem recebidos pelo Capitão Mor, a quem ficaram muito reconhecidos.
À mesma época, os Jesuítas estavam se encaminhando para a região e se dispuseram a atuar no problema. Buscaram apaziguar os Goytacazes com “o crucifixo” e “a palavra”, substituindo o trabuco e as expedições armadas. O Jesuíta D. João Lobato e o irmão Gaspar Fernandes se dispuseram a entrar nos Campos em missão de paz. Convidaram para acompanhá-los o Capitão Mor D. Estevão Gomes, e com ele foram bem recebidos pelos abatidos Goytacazes. Assim foi aberta a fronteira dos Campos dos Goytacazes à colonização portuguesa.
Este fato traz à tona a bravura de um de nossos ancestrais, o Goytacaz, na defesa de seu território — registre-se, até hoje não reconhecida na história de nosso país. Este fato também marca o uso de uma “epidemia implantada” pelo homem para alcançar de forma desumana um objetivo secundário perante o conceito das Nações. E, finalmente, registra a atuação da Igreja Católica, através dos Jesuítas, na proteção e preservação dos nativos da nova colônia portuguesa.
Esta narrativa foi extraída, pelo autor, de sua pesquisa para elaboração do livro que registrou a ocupação dos Campos dos Goytacazes.

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