Uma ferramenta denominada Só Favela, que está sendo divulgada como “Mapa do Inferno” e que utiliza o Google Maps para segmentar as regiões geográficas dominadas por facções criminosas, tem gerado compartilhamento nos grupos de WhatsApp. O aplicativo mostra, em todo o estado do Rio de Janeiro, a localização de comunidades, segundo a facção criminosa presente: CV (Comando Vermelho), TCT (Terceiro Comando Puro), ADA (Amigo dos Amigos) e 5M (milícias).

Em Campos, o dispositivo reconhece o domínio de duas facções rivais em apenas dois pontos do município: ADA no Parque Aldeia, área de Guarus, e TCP, no Parque Califórnia, na região da comunidades da Tira Gosto e Matadouro, na área central. Se de um lado há os que destacam a utilidade do mapa, do outro, autoridades na área de segurança pública afirmam não o reconhecerem como fonte oficial ou fidedigna, além de julgarem que a ferramenta acaba por “promover” as facções.

O comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Luiz Henrique Monteiro Barbosa, destacou as vantagens do mapeamento para a população civil, além do auxílio para a promoção de um policiamento estratégico.

— Os batalhões de Polícia Militar já contam com o próprio mapeamento, importante para o planejamento das operações e para entender as movimentações de possíveis tomadas de território. Mas com a ferramenta, o mapa também pode ajudar a população a saber quais são as áreas sensíveis, que requerem cuidado maior ao se transitar — declarou o comandante, que, enquanto autoridade policial, evita divulgar o nome da facção presente nos locais com ocorrências de prisão, apreensões ou outros crimes.

O especialista em segurança pública e policial federal Roberto Uchôa destacou que, recentemente, a grande mídia tem evitado nomear organizações criminosas.

— Me preocupa que um mapa desse torne possível novamente uma glamorização das facções. Com relação ao cidadão comum, no dia a dia, não vejo muita utilidade, a não ser atiçar a curiosidade, com ressalva a motoristas de aplicativo”, disse o especialista.

Concorda com o especialista o motorista Leonardo Aroeira, que destacou os riscos da profissão. “Em 2020, completamos 17 anos no segmento de transporte de passageiro individual, tanto no táxi quanto nos transportes por meio de aplicativos. Após 17 anos dedicados a táxi, migrei para o ramo por aplicativo. Vale destacar a eficiência da tecnologia na vida de todos os motoristas, levando em conta que ela pode agregar e fazer evitar vários incidentes a esses profissionais, através das suas prevenções, a exemplo desse mapa. Por meio dessa ferramenta, o motorista pode se precaver de forma digital, melhorando o seu mapeamento e suas direções”, informou.

Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que “desconhece tal ferramenta”. Por nota, a Secretaria de Estado de Polícia Civil também questionou a veracidade das informações. “O mapa faz menção a vários lugares do estado, que conta com 200 delegacias de polícia, não sendo possível checar se o domínio de cada região por essas facções é verdadeiro ou não. É certo de que cada unidade conta com mapeamentos próprios, se baseiam em provas e elementos técnicos que se buscam ao longo das investigações. Desconhecemos a utilização dessa ferramenta como auxílio de investigação. Levamos em consideração o que é oficioso”.

Para acessar o “Mapa do Inferno” e checar as áreas de domínio das facções nos municípios, clique no link e aproxime a imagem.