Construída entre 1769 e 1771, a igreja São Francisco, em Campos, localizada na rua 13 de Maio, reúne, anualmente, dezenas de animais para a tradicional bênção no dia do santo, comemorado em 4 de outubro. Em celebração à data, na manhã desta sexta-feira (4), na área externa do templo, tutores acompanharam os pets para um encontro com o bispo da Diocese de Campos, dom Roberto Francisco Ferrería Paz, que fez uma oração, com pedidos pelo fim de rinhas e maus-tratos, e abençoou, coletiva e individualmente, todos os animais presentes.

Para o bispo, é necessário que estejamos atentos à natureza, aos animais e à importância do cuidado com o meio ambiente para a permanência da vida na Terra.

— Esse dia é dedicado a São Francisco, que é padroeiro do meio ambiente e também dos animais. As duas coisas são interligadas, porque, se não cuidarmos do meio ambiente, desaparece a vida. Então, os animais, entre outras coisas, nos ajudam a ter essa consciência ambiental, cósmica, na qual Deus nos colocou como jardineiros da Terra. O papel do ser humano, com sua inteligência, não é dominar, mas justamente cuidar. A palavra é “cuidado”. Por isso, é muito importante este dia com São Francisco. Com essa espiritualidade de amar a todas as criaturas e ver nelas o rosto de Deus, é que nós podemos realmente ter o planeta Terra como uma casa comum dos seres humanos e de todas as espécies, como o Papa Francisco diz.

Entre os que esperavam a bênção de Dom Roberto, estava a pequena Vitória, uma cabrita de quatro meses de idade. Ela atraiu atenção, curiosidade e carinho dos fiéis. Com laços e coleira cor-de-rosa, postos sobre os pelos de cores branca e caramelo, ela observava não apenas a movimentação no pátio da igreja, mas também interagia com quem se aproximava e acompanhava os passos da tutora Vânia Simões Riscado, de 78 anos, e sua amiga Gisele Manhães, de 37 anos.

— Cuidado para ela não desamarrar seu tênis. Ela adora fazer isso — alertou Vânia, sorrindo, enquanto se recordava da adoção de Vitória, em julho, quando ela foi encontrada pelo filho da idosa na praia do Açu, no município de São João da Barra. — A gente passa o verão em Grussaí. Vamos aos finais de semana. Nós fomos ao Açu. Meu filho foi de frente, porque era muito banco de areia. Está com tantos barrancos que a gente não consegue subir e descer. Tem que pescar do alto. Aí, vem ele de volta, com um “negocinho” na mão e umbigo pendurado. Peguei e trouxe elazinha. Estamos criando na mamadeira e, agora, ela está desmamando. Ela ia ficar procurando onde tinha cabrito perto do Açu, mas não tem. Aí, fiquei com ela.

Aposentada, Vânia gosta de adotar animais de rua e cria peixes, pavões, gansos, galinhas e cachorros. Mas, conforme relatou a idosa, o encontro com Vitória foi especial.

— Nós a encontramos dia 4 de julho. A vida com a Vitória é uma bênção. Quando ouve a voz dela (Gisele), Vitória fica louca. Ela é muito carinhosa com a gente e com os animais lá em casa. Ela lambe a orelhinha dos cachorros, mexe com os gatos. Vitória é um amor e uma bênção de Deus. Trouxe muita alegria. Eu me arrepio até hoje quando penso onde encontrei e como ela sobreviveu. Eu trago os animais (para a igreja) todos os anos. Isso aqui é tudo. Essa bênção, mais do que nunca, a Vitória merece, porque ela foi uma bênção de Deus — contou.

Ex-companheira de trabalho e amiga de Vânia há 16 anos, Gisele contou que a chegada de Vitória trouxe novidades para a rotina da família. Durante o dia, a cabrita fica solta no quintal, na companhia de outros animais. À noite, ela entra na residência para dormir. Quando chegou à casa de Vânia, Vitória era alimentada com leite e água em uma mamadeira, mas, agora, está se adaptando à nova alimentação.

— Olha, olha a Vitória, que linda! Ela é muito lindinha — comentou uma senhora, que se aproximou repentinamente para conhecer e acariciar a cabrita pouco após a bênção aos animais, na área externa da igreja.

— Ela tem uma inteligência incrível e é muito carinhosa. Agora, está começando a comer folha e feno, mas ainda pede mamadeira e não gosta de ficar sozinha — revelou Gisele, rindo. — Isso tudo é muito bom.