Anthony Garotinho: 'Não existe negócio de eleição ganha'
Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira, Edmundo Siqueira e Matheus Berriel 06/04/2024 08:43 - Atualizado em 25/04/2024 11:51
Garotinho no Folha no Ar
Garotinho no Folha no Ar / Rodrigo Silveira
“Não existe esse negócio de eleição ganha, nem em primeiro nem em segundo turno”. Assim afirmou que o ex-governador e pré-candidato a vereador no Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, sobre as eleições municipais em Campos, que tem o seu filho Wladimir como favorito nas pesquisas para reeleição em primeiro turno. Para Garotinho, mesmo favorito, todo cuidado é pouco. Em entrevista ao programa Folha no Ar, dessa sexta-feira (5), o radialista também avaliou a gestão de Wladimir, que para ele está indo bem apesar de ter algumas áreas que precisam ser avançadas, como é o caso do transporte público, apontado como um dos desafios. De uma linhagem de família de políticos, tendo sido ele, sua esposa e seu filho prefeitos de Campos, Garotinho admitiu que Rosinha foi a melhor administradora entre eles. Com projeções futuras para a Câmara do Rio, o pré-candidato afirmou que o nível da atual Legislatura carioca é fraco e que ele vai lutar para ser o mais votado nas eleições municipais da capital. O ex-governador também falou sobre a sua relação com o ex-prefeito Arnaldo Vianna, cuja reaproximação aconteceu nesta sexta após mais de 20 anos em lados opostos.
Avaliação do governo Wladimir — O governo do meu filho está indo muito bem. Tem erros, tem problemas, mas recuperou a cidade de uma catástrofe que foi a administração Rafael Diniz, por vários motivos. Claro, a arrecadação estava menor, o Rafael teve poucos recursos, mas também uma gestão muito fraca, um secretariado que o Rafael escolheu muito fraco. O Wladimir está sabendo fazer uma boa política. É nítido você andar pela cidade e ver que a cidade tomou outro rumo, embora eu ache que, nesse segundo mandato, se a população conferir a ele, ele precisa avançar em alguns pontos, sobretudo em duas áreas. A principal delas é retomar o programa da tarifa social. Não com valor de R$ 1, como era no governo Rosinha, mas uma tarifa subsidiada, com um valor para que a pessoa possa sair de Santa Maria, vir para Campos e ir para o Farol. Então, Campos tem que ter um sistema de transporte mais eficiente. Mas, não dava (para resolver em um só mandato). Quando Wladimir assumiu, todas as UBS’s estavam fechadas. Então, tinha que resolver o problema das UBS’s. A cidade estava toda esburacada, suja e com um monte de funcionários sem receber. Então, para o que ele se propôs, que foi tirar Campos daquele marasmo que o Rafael Diniz colocou a cidade pela sua soberba, pela sua presunção de que poderia resolver as coisas muito solitariamente, eu acho que o Wladimir está cumprindo um papel importante.

Pré-candidatura a vereador do Rio — Eu acho o nível da atual Câmara do Rio muito ruim. A Câmara do Rio de Janeiro é muito fraca. Você vê os nomes mais expressivos se elegerem deputado federal, como o Tarcísio, do Psol; o Lindbergh e outros nomes mais expressivos da política do Rio de Janeiro. Ficou ali sobrando o César Maia, que não é orador. Então, você não tem um tribuno no Rio de Janeiro. Eu acho que eu vou fazer algum sucesso na tribuna e vou ter condições de abordar temas que alguns vereadores teriam dificuldade de abordar, por falta de conhecimento mesmo. Por exemplo, você pega determinados vereadores e manda o orçamento da Prefeitura para lá, ela não sabe o que é rubrica de quê e tal. Eu acho que eu vou poder ajudar muito. Se eu ganhar a eleição, depende de como ganhar. Se eu for só eleito, vamos supor que eu faça aí 30 mil votos, que é uma votação boa para o Rio de Janeiro, mas não é uma grande votação. Na última eleição, o vereador mais votado foi o Tarcísio, com 80 mil votos, e em seguida Carlos Bolsonaro, com 71 mil. Eu, quando fui candidato a deputado federal, tive 700 mil votos, 696 mil votos, e na cidade do Rio de Janeiro eu tive 174 mil votos. Ninguém nunca alcançou uma votação dessa na cidade do Rio. Então, eu vou lutar para ser o mais votado. Eu fui votado em todas as zonas eleitorais, mas a minha grande votação foi em Bangu, Campo Grande, Santa Cruz, Ramos, Olaria... Zona Norte, Zona Oeste e aquele Corredor da Antiga Leopoldina. Então, eu vou lutar para ser o mais votado. Sendo o mais votado, fazendo um bom mandato, o futuro a Deus pertence.

Rosinha melhor prefeita da família — Olha, você não pode analisar o governo sem as circunstâncias do momento. Eu fui prefeito num momento em que não tinha royalties. Então, era outra coisa. Eu fiz muitas coisas importantes, deixei aí um legado. Por exemplo: o (Teatro Municipal) Trianon. Quer coisa mais importante para Campos que o Trianon? Mas foi uma luta que eu tive que lutar contra o Bradesco, ir até o Osasco, consegui, enfim. Deixei a reabertura do Hospital Ferreira Machado. Campos não tinha um pronto-socorro, porque tinha havido uma briga entre o Zezé Barbosa e o César Caldas, que era o provedor da Santa Casa, e Campos não tinha pronto-socorro. O Ferreira Machado estava fechado, eu reabri. Hoje se fala de ciclovia. Antes de se falar, eu construí a ciclovia da 28 de Março, que corta a cidade de ponta a ponta. Ainda não existia essa onda que se fala hoje de ciclovia. Eu reabri a Fundação da Infância e da Adolescência, a Fundação do Menor, e criei políticas para menores. Criei programas inovadores, como hortas comunitárias. Enfim, eu criei muitas políticas novas, que depois se expandiram pelo Brasil. Mas, sendo muito justo, não fossem aqueles dois últimos anos da Rosinha, em que o dinheiro despencou e acabou, em termos de gestão de planejamento e execução, a Rosinha foi a melhor, na minha opinião. Por quê? Lá atrás, quando eu resolvi entrar para a política, eu fiz um estudo dos planos de Campos. Então, o plano que Campos tinha de desenvolvimento, feito ali por volta de 1930, tinha sido abandonado. E qual era a necessidade naquele momento? Era incorporar as pessoas que vieram do interior para a periferia de Campos, e essa periferia era abandonada. Então, o que tinha que se fazer ali? Quando eu assumi, Campos tinha duas creches; quando eu saí, tinha 40. Levar proteção à criança, aumentar a assistência de saúde. Guarus era tudo chão. Eu pavimentei — na época não tinha asfalto — em paralelepípedo o Parque Prazeres, o Parque Guarus, o Parque Lebret, o Parque Cidade Luz, a Penha, vários bairros. Eu comecei um processo de integrar aquelas pessoas que tinham deixado Santa Maria, Santo Eduardo, os lugares onde as usinas floresceram e depois murcharam. Elas vieram para a cidade em busca de trabalho e criaram um bolsão de abandono e pobreza em volta da cidade. Então, quando eu venho, eu venho com essa proposta de incorporar a cidade. Mas, faltaram algumas políticas. Eu consegui avançar na área de proteção à criança; na área da saúde, com a abertura do hospital; na área da infância e da juventude, com a então Fundação do Menor; e uma série de outras políticas. Mas, por exemplo, uma questão não tinha sido resolvida: a questão habitacional. Vem o governo Rosinha e implanta o maior programa habitacional da história de Campos. Ela entregou quase 8 mil casas a populações que moravam na Ilha do Cunha, que moravam penduradas dentro do rio Paraíba, ali na Aldeia, na Beira da Linha. Quem chegava a Campos, a primeira impressão que tinha era de que a entrada de Campos era um imenso, vamos dizer assim, favelão. Todo aquele pessoal foi morar no Tapera 1, no Tapera 2, nos bairros que foram criados. Então, ela fez um programa habitacional grande. Outro problema que essa migração do interior para a cidade trouxe foi o problema do transporte. Ficou inviável a pessoa morar no interior e trabalhar em Campos, pelo preço da passagem. Aí nós criamos a Passagem Social, que permitiu integrar o município de Campos. Então, ela deu continuidade àquele processo de integração da cidade. Wladimir vem num outro contexto, pega terra arrasada. Ele está levantando, teve avanços em várias áreas. Sem falsa modéstia, eu creio que, entre eu, Rosinha, e Wladimir, a Rosinha foi a melhor administradora.

Ao Livro Verde — Tem uma proposta que meio quem está coordenando esse trabalho é o (jornalista Aldefran) Lacerda. Eu acho que é a proposta mais viável no momento. A Prefeitura pode entrar e tem respaldo jurídico, técnico. É viável economicamente, como tudo tem que ser. É um gol de placa.

Possibilidade de reeleição de Wladimir no primeiro turno — Não existe esse negócio de eleição ganha, nem em primeiro nem em segundo turno. Lembro a minha eleição contra o César Maia, quando eu me elegi (governador). O César Maia tinha acabado de sair da Prefeitura do Rio de Janeiro muito bem avaliado; tinha feito o seu sucessor, que era o Conde, e era franco favorito. Eu quase ganhei no primeiro turno. Faltou menos de 2% para eu ganhar no primeiro turno. Então, não existe isso! Wladimir é favorito, mas todo cuidado é pouco em eleição. Tem que se tomar vários cuidados, e acho que ele está tomando. Ele tem o que mostrar. E aí, eu lamento uma coisa: Campos ter uma oposição sem propósito, porque isso enfraquece o debate político. Se Campos tivesse uma oposição com propósito, talvez a cidade fosse mais rica na discussão política. A oposição aqui é muito vazia e acaba caindo numa coisa que, às vezes, botam a culpa em mim; acaba caindo muito na discussão pessoal. E não é uma questão pessoal, é uma questão de ideia. As pessoas não apresentam planos. As pessoas dizem o que está errado, mas o que vão fazer? Tem que apresentar planos. Por exemplo, a questão da Ao Livro Verde, que a gente falou aqui, tem um plano, tem um projeto. Para outras questões, como a questão do transporte, que eu considero hoje um problema razoavelmente grave, tem proposta elaborada. Talvez não tenha havido tempo e recursos suficientes para implementar, devido à situação caótica que o Wladimir herdou do Rafael, mas certamente vai fazer no segundo mandato, se ele for reeleito. Então, eu creio que vai ser uma eleição em que a população vai olhar para trás e vai ver o que foi, e vai ver a perspectiva para frente. Tem algo melhor do que o projeto que está sendo realizado para votar? Voltar ao governo Rafael Diniz é melhor do que Wladimir? Então, eu acho que fica bem simples de analisar. Se voltar é ruim e para frente não tem nada melhor, é melhor continuar com o projeto que está caminhando.

Projeções para a eleição a vereador em Campos — O quadro não está definido ainda. Embora hoje (ontem) já seja a véspera da definição, dizem que é nessas horas que os espíritos da traição saem das tumbas. Então, vamos ver o que vai acontecer. Não quero citar nomes aqui para não gerar polêmica, mas acho que a Câmara podia ser um pouquinho melhor do que é. Pelo amor de Deus! Você tem três ou quatro vereadores que propõe alguma coisa. O Juninho Virgílio é um que está sempre na tribuna falando, é combativo. O Álvaro Oliveira também vai, também fala muito. Do lado da oposição, é muita crítica, mas não apresenta proposta; é muito xingamento. Apresenta proposta! Então, eu acho que a Câmara vai dar uma renovada grande, acho que vão surgir nomes novos.

Cenário atual é igual a Garotinho 98? — Não... Primeiro, eu quero dizer o seguinte: a maior vitória eleitoral de um político em Campos para prefeito foi a minha segunda eleição. Eu tive a primeira, em 1988, e depois eu fui prefeito por um ano e meio, saí, fui ser governador, e Arnaldo (Vianna) assumiu no meu lugar. Arnaldo foi o meu vice. Nessa eleição, eu fiz 76% dos votos válidos. Ninguém nunca teve isso. E estava disputando com Rockefeller, Luciano D’Ângelo e uma série de candidatos competitivos. Eu ganhei em todas as urnas de todas as seções de todas as zonas eleitorais de Campos. Então, o preconceito que existe contra mim nasce de duas situações. A primeira: “Não conheço, mas não gosto”. Nunca conversou comigo, mas não gosta. Nunca parou para trocar uma ideia, saber o que eu penso, conhecer um pouco da minha história, mas não gosta. E a segunda nasce um pouco do meu estilo pessoal. O meu estilo pessoal vem do momento histórico que eu vivi. Os meus filhos já pegaram caminhos abertos, não tiveram que lutar, como eu lutei, contra dois grupos políticos poderosos que existiam na cidade, que eram os grupos de Zezé Barbosa e Alair Ferreira. Eu enfrentei isso tudo sozinho. Então, eu tinha que ser muito duro. Tinha o Muda Campos, mas eu fui o candidato. Então, tive que ir para o enfrentamento. Isso me gerou um pouco de desgaste na classe média de Campos, que era toda ligada. Quem me elegeu naquela eleição foi Guarus, a 76ª. Eu ganhei no Santa Rosa, em Custodópolis, Eldorado, Calabouço, Alvorada, enfim. Naquela época, eram 75ª, 76ª, 98ª, 99ª e 100ª. Enfim, houve aquele momento de embate. Depois que a trilha está aberta, não precisa se brigar tanto. Então, cada um tem seu estilo, e a gente respeita o estilo.

Relação com Arnaldo Vianna — Arnaldo Viana foi meu vice, era uma pessoa da minha total confiança, porque ele era médico da minha mãe, inclusive. Naquela época, aconteceu um fato inusitado. (Leonel) Brizola não queria que eu voltasse para Campos de jeito nenhum. Ele dizia: “Você foi candidato a governador, em 94, e teve 3 milhões de votos. Vai fazer o quê em Campos? É o mesmo que eu voltar para Carazinho. Você não tem que voltar pra Campos...”. E eu estava muito bem naquele momento, porque estava comandando um programa das 6h às 9h na Rádio Tupi e eu tinha 20% do faturamento dos Diários Associados inteiros, em três horas de programa. Eu estava no auge do rádio. Então, eu não queria voltar. Mas aí, ficaram indo ao Rio Arnaldo, Pudim, Fernando Leite... “Você tem que voltar, você tem que voltar. O governo de Sérgio (Mendes) foi muito ruim. Paulo Feijó vai ganhar. Se você não voltar, Paulo Feijó vai ganhar”. Eu não queria voltar. Eu estava no Rio, e o Brizola não queria. Chegou a um ponto em que tinha que decidir; eu transferi e voltei para Campos. Então, eu e Arnaldo tivemos diferenças, mas nunca tivemos inimizade. Estou falando sério: eu nunca fui inimigo dele. Como é que eu vou ser inimigo do cara que era médico da minha mãe? Não tinha isso! Nós tivemos diferenças políticas. Pessoas que estavam perto dele e que eu não concordava; pessoas que estavam perto de mim e que ele não concordava. Mas, isso é a vida, isso é a política. E reencontrá-lo e lhe dar um abraço, conversar sobre a política, sobre a vida, lembrar quantas coisas nós fizemos juntos... Ele foi meu secretário de Saúde. O primeiro mandato dele nasce de ele ser meu vice. Ele vira prefeito quando eu saio e renuncio à Prefeitura para ser candidato a governador. Ele é uma pessoa muito doce no trato pessoal, muito carinhosa. Então, essas coisas são para ser superadas. A gente tem que olhar para frente, não ficar preso no passado.

União entre Caio e Wladimir, e críticas a Rodrigo Bacellar — Acho essa união de Caio e Wladimir muito importante para a política de Campos, porque algumas pessoas em Campos — e aí eu vou citar o cargo, mas não vou citar o nome —, pelo pouco espaço que já ocupam, imaginam ter mais poder do que tem. É importante ser presidente da Assembleia? É! Mas, ainda precisa comer muito espinafre para, depois de ser presidente da Assembleia, ser governador do estado, fazer a esposa governadora, ser candidato a presidente da República, ser prefeito da sua cidade duas vezes. Eu fui deputado estadual também.

Possibilidade de Bacellar virar governador — Não (se iguala a Garotinho), porque ele não foi eleito. Uma coisa é você ser eleito, outra é você ser colocado numa situação. Quando fui deputado estadual, fiquei dois anos, porque renunciei para ser prefeito de Campos. Fui deputado de 1986 a 1988. Mas, na escola em que eu estudei, no currículo escolar não tinha a matéria em que ele (Rodrigo Bacellar) é especialista: chantagem. Eu não estudei essa matéria! Estou sendo claro, bem objetivo.

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