Nildo Cardoso: "Guerra maior é por nominatas"
Primeiro vereador a mudar para a base do prefeito Wladimir Garotinho (PP), ainda dentro da pacificação entre os Garotinhos e Bacellar, Nildo Cardoso (União) não demonstra arrependimento da escolha. Pelo contrário, passou a ser um dos mais atuantes na defesa do governo, sem deixar de fazer suas cobranças para que recentes falhas da gestão sejam apuradas e os responsáveis punidos. Ao participar do Folha no Ar da última quarta (1º), o vereador falou sobre a Central de Abastecimento de Campos (Ceascam), projeto idealizado por ele e apontado como a maior causa para ter passado à base. As idas de Nildo e Abdu Neme (Avante) para o grupo governista deram início à crise na pacificação, que chegou ao fim há cerca de 20 dias com outros vereadores também pulando da oposição. O fim do acordo já resultou na CPI da Educação e embates cada vez mais acalorados, mas para Nildo o motivo de toda “guerra” é a dificuldade para se montar nominatas. Com duras críticas a alguns colegas do grupo do qual participou para eleger o presidente da Câmara, Marquinho Bacellar (SD), o vereador também comentou a pesquisa Iguape, na qual o atual Legislativo é reprovado pela população. “Discute coisas mais pessoais do que realmente produtiva”, avaliou. Encomendada pelo grupo dos Bacellar, a pesquisa feita em 10 de julho, com 1.001 campistas, apontou, por outro lado, a aprovação do governo Wladimir em 74,7% e projetou a reeleição do prefeito no 1º turno. “Eu acho que pode vir um adversário, pode vir esse Poubel; pode vir Carla (Machado), a quem faço uma exceção pelo carinho e respeito que tenho a ela (...), Wladimir ganha a eleição do ano que vem no 1º turno, contra qualquer um desses candidatos colocados à mesa”.
Ida para a base do governo — Desde 2020, quando eu tinha oportunidade de estar com Wladimir, também com vários vereadores de oposição, sempre falei: “Eu quero o Ceascam”. No início do ano, a mesma coisa: a meta era o Ceascam. Não fui lá para negociar que quero cargos, indicar chefe disso ou daquilo, tantos RPA’s. Quem fez essa ponte com Wladimir, desde o ano retrasado, foi Felício Laterça (ex-deputado federal). O prefeito tem um bom relacionamento com Felício, e eu, nem se fala: a gente ajudou ele na medida do possível, fizemos aquilo que a gente pôde fazer de melhor, e mantenho essa amizade essa amizade, essa relação estreita com ele até hoje. No primeiro contato que ele fez, eu falei: “E o Ceasa?”. “Ah, mas o Ceasa...”. Eu falei: “Ceasa, amigo. Bota na mesa! Sem Ceasa, não tem conversa”. Eu tinha liberdade para falar, e a conversa foi essa. Assim foi indo. Wladimir chamou para uma conversa, e a gente passou a abraçar o projeto. Ele entendeu que o projeto era importante para Campos. Também existiu em relação a Frederico (Paes). A minha relação com o vice-prefeito é muito estreia. Então, as coisas estavam andando em paralelo. A gente conversava, chegava o prefeito, vinha o vice... Quem fazia o contato direto com o prefeito era o deputado Felício. Chegou um determinado momento em que conversamos a três, inclusive: eu, o vice-prefeito e o prefeito. A partir daí, a coisa começou a andar. Quando a coisa começa a ir estreitando, aí vai fluindo. Tenho convicção de que essa é uma viagem sem volta: vou estar na base do governo até terminar o meu mandado, se Deus assim permitir.
Conversa com Abdu Neme — Eu e Abdu, somados, temos nove mandatos: um com quatro, e o outro com cinco. Aí você chega lá e tem vereador, com todo respeito, porque foi eleito tanto quanto a gente e tem representatividade como nós temos, mas não adianta juntar quatro e ir fazer reunião com o prefeito. A gente tinha conhecimento disso, não é segredo para ninguém. Iam para falar em nome de dois vereadores que, somados, são nove mandatos? Eu chamei Abdu e falei: “Ou a gente vai junto ou você vai ficar aí, porque eu estou tomando a minha decisão”. E ele: “Estou com você”. Aí, passamos a caminhar juntos. Mas, o meu projeto era aquele que havia sido assumido pelo prefeito, assim como o SOS Coração foi um compromisso que o prefeito assumiu com o Abdu. São coisas que atendem ao interesse pública, atendem aos interesses da população: um salva vidas, e o outro, dá vida, porque dá emprego, condições de trabalho. Eu tenho convicção de que 5 mil pessoas de Campos vão estar trabalhando dentro do Ceasa, na parte interna, e tenho certeza que, no campo, vão ser pelo menos 40 mil, 50 mil, 100 mil pessoas das regiões Norte e Noroeste. Tenho convicção disso!
Críticas da oposição — Os vereadores de oposição, no início do governo, estavam com a Fundação da Infância Juventude dividida para três vereadores. No início, pediram ao prefeito, eu estava junto: “Ah, queremos isso para fulano, fulano, fulano”. Eles foram e ficaram em determinado período lá. Eu não pedi nada! Pergunta se eu tenho uma senhora da limpeza ou coisa parecida no período em que eles estavam lá. Eu não estava! Fábio Ribeiro era o presidente da Câmara, mas eles tinham espaço dentro do governo. Eu, não! Aí quando eu tomo uma decisão, eles querem intervir na minha decisão? Eles querem mandar no meu voto? Querem mandar no meu mandato? Não votaram comigo nem vão votar, porque eu tenho que dar satisfação para eles? Vereador vai para lá e diz:“Ah, Nildo saiu... Ah, Nildo está lambendo bota do prefeito...”. Se eu estivesse no plenário, não falava isso. Falou porque eu estava fora da cidade e o sinal estava ruim. Quer dizer: eles lamberam a bota no início do governo e assumiram cargo. Até uns dias atrás, quando o prefeito exonerou, estavam lá com 200 cargos no governo. Eu falei isso na tribuna e dei a quantidade de RPA e DAS em cada secretaria que eles estavam, que são Trabalho e Renda e Turismo. E aí, eles metem o cacete no governo?! Eu tinha cargo na Faetec, de funcionários de escola; naquele Isepam, na Barcelos Martins... Algumas pessoas foram colocadas. Foram lá e tiraram todo mundo, mas eu não fui para a tribuna falar com ninguém, isso é problema deles. Se eu estou com o governo, eu acho justo que eles tirem, não tem problema. Mas, eles querem tirar os dos outros e querem estar dentro. Eles tiram, mas continuam lá. Eles têm a Câmara. Eu não tenho cargos na Câmara. Eles têm a limpeza, têm vigia, recepção... Aquilo tudo ali é dividido. Pode chegar lá e perguntar quem colocou, foi tudo cargo de vereador. Aí você vai para o estado, tem o Detran, tem a UPA, tem as escolas do estado todo: da limpeza, da cozinha, da portaria. Tudo isso é cargo que passa pela mão dos vereadores. Agora querem os da Prefeitura também? Só está faltando irem a Brasília e pedirem a Lula para indicar lá um ministério, para assumirem cargos em Brasília também. Os caras querem tudo, aí vão para lá com discurso de que vão fazer e acontecer? E ainda estão preocupados com o meu voto, que é problema meu. Têm é que tomar conta da vida deles, porque eu não tomo conta da vida deles, tomo da minha. Eu levei 14 anos na oposição. No dia em que eu chego perto do governo, faz mal para os outros. Deveria fazer mal para o prefeito ou para mim.
Pacificação — Vou dar um exemplo: pacificação de Hamas com Israel, mas um dali resolve continuar atirando. Tem pacificação? Não tem! Pacificação é quando se resolve a parar de atirar. Não tem pacificação se um para de atirar e outro manda bomba em cima.
Regimento interno — O que mais me preocupa na Câmara é que nesse período, por exemplo, agora entra na discussão do regimento interno, que, na minha opinião, tem que partir mais da parte jurídica, entre os advogados. Como é que você passa isso para a sociedade? Você acha que a sociedade campista já pegou um regimento interno, uma lei orgânica do município, para ver o que consta lá? Tem vereador que nunca abriu uma folha para ver o que é regimento interno, o que é lei orgânica ou vice-versa, já que o regimento interno é um complemento da lei orgânica. Aí eu pergunto: alguém já viu? Já leu? Não! Então, o que se passa para fora, se passa para meia dúzia de pessoas, que são pessoas do direito que atuaram na Casa. Se não atuaram na Casa, também não sabem. Então, é muita discussão ali de coisa que fica ali dentro.
Reprovação da Câmara em pesquisa — A Câmara nunca foi aprovada por ninguém em ano nenhum. Desde quando eu entrei naquela Casa, sempre deu que a Casa era um ponto negativo, porque muitas vezes se discute coisas que não traz retorno para a sociedade. Discute coisas mais pessoais do que realmente produtiva. E com relação a essa guerra agora, eu vou bater na ferida. Pode escrever o que eu estou falando, mas eu vou bater na ferida. A guerra maior de estar na pacificação, sem estar na pacificação, se chama nominata. Vamos imaginar aqui, como é que eu pego um grupo de 11 vereadores, ou 10, ou 9, você precisa de 26 nomes, inclusive 8 mulheres, para fazer a nominata para você se eleger. Como é que você consegue isso hoje? Na máquina você tem tem líder comunitário, tem supervisor de bairro, de distrito, chefe de posto médio, diretora de creche, diretora de escola, aí você tem secretário, subsecretário e por aí vai. Você consegue formar uma nominata, porque tem também ex-vereador que está na base. Como é que é a oposição, vamos imaginar que tivesse os 14 que virou o ano, como é que você vai dividir esses 14 aí em quantos partidos e como é que você vai fazer o meio de campo do partido e a cauda? Como? O governo ia fazer 70% dos vereadores, o restante lá ia fazer só o cabeça, para baixo não ia fazer ninguém mais. Isso é matemático. Então o problema que está acontecendo ali é que os vereado-res foram acordando e vendo que você ia ter a cabeça, ia ter o meio e a cauda, aquele que interessava. Vamos supor que tenha cinco partidos na oposição. Se eles tivessem 15, teriam 3 vereadores em cada. Então seriam cinco partidos com oito mulheres, são 40 mulheres. Você imagina 40 mulheres com voto aonde? Fala para mim. Onde é que você vai achar isso? Se hoje você está difícil de encontrar as mulheres para participar, você imagina com voto.
Formação de nominatas — Eu acho que quem estiver com medo não entra na política, vai embora para casa. Se tem medo de disputar a eleição, vai para casa. Acabou a eleição? Pega o boné e vai embora para casa, não participa. Agora, se quer disputar a eleição, tem que disputar com quem tem voto. Disputar eleição com quem não tem voto não vai fazer legenda. Ou eu estou ficando maluco? A realidade é essa. Mas, pela quantidade de partidos hoje, acredito que a máquina pode colocar de dois a três vereadores, no máximo, em cada partido, e ter uma nominata forte, com secretários, subsecretários, ex-vereadores. É uma leva de pessoas que já tiveram dois, três mandatos na Cãmara e podem ser candidatas. Hoje, a máquina tem um peso significativo em termos de nominatas para poder disputar o pleito. É melhor ter muitos e disputar com quem tem voto, porque aí você vai fazer três, vai fazer quatro. Se estiver disputando com seis, sete candidatos de potencial, você tem chance. Mas, se na cauda não tem nada e tem três em cima, qual é a chance? Elege um só, e dois ficam fora. Eu acho que a matemática é essa.
CPIs — Eu acho que CPI é um motivo para começar uma briga, porque tinha várias em andamento. Inclusive, tinha uma lá do IMTT, da qual eu fazia a parte e passei a nem frequentar mais, porque o presidente se elegeu deputado, e aí, naturalmente, o vice-presidente da CPI teria que assumir e escolher um outro membro para compor os cinco nomes. Eu estava lá como membro. O relatório não foi ao plenário. Quer dizer, a CPI parou no meio do caminho, atropelou, não passou pelo plenário, que deveria ter lido o relatório. Não se pode parar uma CPI no meio do caminho. Infelizmente, o que aconteceu foi isso: foram matando a CPI, por decisão da própria mesa diretora, para encaixar alguma coisa que pudesse atingir de alguma forma o governo. Eu não sou contra CPI, mas acho que demora muito, para chegar lá na frente e não dar em nada. Eu fui presidente de duas CPIs na Câmara. Apresentamos um relatório, até a Brasília nós fomos, até ao Ministério Público nós fomos. Entregamos na Alerj, na época Edmilson Valentim. Era a CPI da Ampla. Deu em quê? Hoje, falta energia lá em Santa Maria e o pessoal leva três dias sem energia, perdendo leite, porque os resfriadores não conseguem manter. Como a própria população está analisando, o Legislativo está produzindo muito pouco para o interesse público. Quando fui presidente de uma, nós terminamos o relatório. Estou dizendo que nós fizemos a nossa parte, encaminhamos. (No caso da nova CPI da Enel), ela não poderia ser sepultada de maneira nenhuma. “Ah, porque não está na pandemia”. Nosso problema não tem nada a ver com pandemia. A empresa presta um péssimo serviço ao município. A gente tem que brigar por isso. Agora, vão lá sepultar três (CPI’s) para botar uma. Querem lançar uma outra CPI já, também na frente. Acho que tem várias lá que poderiam apurar várias irregularidades. Vou dar um exemplo: na gestão de Fábio Ribeiro, até 31 de dezembro do ano passado, nós tivemos um aumento de aproximadamente R$ 10 milhões no orçamento da Câmara, do ano passado para este ano. Aí eu não sei, vamos esperar... R$ 10 milhões! 70% têm que ser destinados para pagamento de pessoal, e 30% para custeio. O orçamento da Câmara é de R$ 42 milhões. Então, nós temos R$ 12 milhões para custeio ao ano. Vamos ver quanto vai sobrar, porque na gestão de Fábio, mesmo com recurso bem inferior, sobrou dinheiro.
Projeção da eleição a prefeito — Se a eleição fosse hoje, já teria terminado com Wladimir ganhando no 1º turno. Isso é fato! Agora, a vida de amanhã não nos pertence. A gente opina, mas Aquele lá de cima é quem sabe. Se as coisas continuarem no ritmo que estão, com tudo o que está pare acontecer, com a projeção da questão do Ceasa, com o apoio à agricultura, com estrada para atender o homem do campo, com a saúde dando uma guinada; com os terminais funcionando no transporte, que todos nós esperamos que precisa melhorar; o subsídio do combustível precisa continuar, para não mexer no preço da passagem e não dificultar as pessoas do interior de chegarem até a cidade... eu acho que pode vir um adversário, pode vir esse Poubel (deputado do Rio); pode vir Carla (Machado), a quem faço uma exceção pelo carinho e respeito que tenho a ela, inclusive pelo irmão, Fred, que foi vereador comigo desde 2012... Então, tenho um respeito muito grande, mas na minha opinião, ela não pode ser candidata. E se pudesse também, vou manter a minha opinião: Wladimir ganha a eleição do ano que vem no 1º turno, contra qualquer um desses candidatos colocados à mesa.
Investigações da base na gestão de Marquinho — Se nós não temos condições de investigar a nossa Casa, como nós vamos investigar a casa dos outros? Se eu não tenho condições de administrar a minha própria Casa, não posso administrar a do vizinho, mesmo sendo pública. A nossa também é pública. A população tem que tomar conhecimento sobre para onde está indo o próprio dinheiro da Casa.
Partido para 2024 — Vou deixar isso um pouquinho para frente, mas no União eu não fico em hipótese alguma. Chance zero de ficar. Agora, para onde eu vou, eu também não sei. Na hora certa, eu vou falar.
Nota para o governo Wladimir — Se eu falei que ele vai ganhar no primeiro turno, não preciso dar nota. Mas, vou dar 8. Deixa 1 para melhorar a saúde e mais 1 para melhorar o transporte.
Nota para a gestão de Marquinho — Não vou dar nota para ele, está muito cedo ainda. Vamos ver o final, onde vai terminar isso.