Carlão Rezende: "Graduação será menina dos olhos"
Rodrigo Gonçalves, Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira, Edmundo Siqueira e Matheus Berriel 16/09/2023 09:24 - Atualizado em 16/09/2023 09:25
Rodrigo Gonçalves
A comunidade acadêmica da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) vai definir no voto, a partir deste sábado (16), quem estará à frente da sua reitoria. Candidato mais uma vez, o professor Carlos Eduardo de Rezende, o Carlão, encabeça a chapa 30 “É Tempo de Uenf: Juntos para Avançar”, que é oposição à atual gestão. Ao lado da professora Daniela Barros de Oliveira, ele enfrenta a atual vice-reitora e candidata da situação Rosana Rodrigues. “Tenho o compromisso de resgatar a Uenf para os trilhos da história que foi iniciada por Darcy Ribeiro e vários outros personagens políticos e da ciência brasileira”, disse Carlão, que ao ser entrevistado no Folha no Ar, da Folha FM 98,3, falou sobre suas propostas, caso assuma a reitoria da Uenf em 2024. Prometendo investimentos para a modernização da graduação, o candidato diz que o segmento “será a menina dos olhos nos próximos quatro anos, de forma a resgatar o protagonismo que a universidade teve em criar cursos novos”, destacando, ainda, a importância da valorização também dos estudantes e profissionais dos núcleos de ensino a distância da Uenf. O atraso na reforma do Solar dos Jesuítas, que abriga o Arquivo Público Municipal, com R$ 20 milhões liberados pela Alerj à Uenf desde outubro de 2021, foi criticado por Carlão, que falou sobre como pretende tratar da situação que “expôs negativamente a universidade diante da comunidade”.
Baixa procura e evasão — Isso tem sido muito discutido internamente, em todas as reuniões que eu tenho feito. Na realidade, isso vai ter que ser um esforço muito forte para a gente fazer uma retomada da procura. É muito difícil explicar por que uma universidade pública que possui várias políticas de permanência do estudante na universidade tem tido uma procura pequena. Nós temos cursos que têm uma entrada muito pequena. E presenciamos esse fenômeno da evasão (...) A gente tem que dar uma olhada, porque essa questão é multifatorial. Eu acho que a universidade tem que se modernizar também na graduação. Recentemente, foram comprados vários equipamentos para pesquisa, mas faltou um pouco de atenção na graduação. Então, foram R$ 20 milhões em equipamentos, anunciados pelo próprio reitor; isso consta claramente na fala dele em vários lugares; e, para a graduação, pouquíssima coisa foi adquirida. Então, esse é um ponto que eu acho que tem que ser colocado: a adequação das salas de aula, a modernização. A demanda hoje dos estudantes é totalmente diferente do que era há 10 anos, há 15 anos. Eles funcionam muito mais hoje na forma digital. Outro dia, eu estava conversando com o pessoal da agronomia... A gente não tem um drone, por exemplo, para que o aluno da agronomia ou da área de biologia possa fazer um tipo de experimento que hoje é necessário na agricultura, é necessário em vários aspectos ambientais também para se fazer um diagnóstico. Então, eu acho que nós perdemos essa oportunidade exatamente no ano passado, quando se aprovou o plano de desenvolvimento institucional, que é o PDI. Foi um plano extremamente burocrático, que não avançou obviamente na modernização dos nossos cursos. E os alunos percebem isso, obviamente. Temos a ampliação dos cursos aqui na região, mas não é possível que uma universidade privada tenha mais procura do que uma universidade pública nos moldes da Uenf, com tantas políticas de permanência dos estudantes dentro da universidade. Então, a gente tem que, realmente, fazer uma reflexão muito forte sobre essa questão. Colocando outro ponto: houve um descaso muito grande ao longo desses últimos oito anos em relação ao ensino à distância. Hoje, nós temos o equivalente de estudantes no ensino à distância ao do presencial. Visitando os polos onde a Uenf é responsável pelos cursos de biologia, pedagogia e química, há uma reclamação muito similar em todos os polos. A falta de atenção que a instituição promoveu para esses estudantes é uma coisa que realmente é muito séria. Então, acho que a graduação será a menina dos olhos nos próximos quatro anos, de forma a resgatar protagonismo que a Uenf tem ao ter chegado aqui, logo no seu início, criando cursos novos, como foi o primeiro curso no Brasil de engenharia de petróleo. A gente tem que aumentar os cursos presenciais, essa é uma demanda real não só aqui, mas também expandir para regiões aonde a constituição do estado sinalizou para a gente desde o início da criação da Uenf, que é a região Noroeste Fluminense.

Expansão — Existem propostas, inclusive aprovadas no Conselho Universitário de Cursos. A gente pretende discutir internamente. Já estamos tratando dos temas em cursos que a gente não precisa de muita contratação de professores, de forma que a gente abra alguns horizontes internos (...) A ampliação significa também a gente ampliar o quadro docente, que há 30 anos a gente não conseguiu superar mais de 50%. Agora, nós ultrapassamos a barreira dos 50%. O quadro permanente da Uenf, de docentes, deveria ser de 600 professores. Agora, segundo informação da própria candidata da continuidade dessa gestão, nós temos 318 professores. Vou ser bem sincero: pretendo, logo de cara, trabalhar intensamente, corrigir as rotas dos cursos que estão funcionando, inclusive do ensino à distância. Nós temos que reequipar todos os polos, que são 13 hoje. Tem 3.078 estudantes que precisam ser atendidos de forma adequada, inclusive pelas políticas de permanência na universidade, uma coisa que não se faz hoje. Hoje, os alunos do ensino à distância sequer têm uma carteirinha de que são alunos da Uenf (...) Não tem como o estudante que está ligado à Uenf não poder estar relacionando as questões dele, plano de estudo, tem uma carteirinha da Uenf. A gente tem muito passivo para ser resolvido. Mas, certamente, tem cursos a serem discutidos. Por exemplo, em Macaé há uma demanda de se fazer um curso de engenharia mecânica; um curso na área de atmosfera e oceano, nos moldes do que foi criado nos Estados Unidos há um tempo atrás, aonde depois os cursos de oceanografia se desenvolveram. Tem um curso já aprovado de engenharia de alimentos. Então, a gente vai ter que escalonar uma série de coisas e trabalhar junto ao governo do Estado, obviamente, para que a gente consiga expandir essas vagas com horizonte, obviamente, de atingir a região Noroeste Fluminense. E aí, a gente precisa, obviamente, conversar com o poder público municipal dessas regiões (...) Eu tenho o compromisso de resgatar a Uenf para os trilhos dessa história que foi iniciada por Darcy Ribeiro e vários outros personagens políticos e da ciência brasileira (...) A ampliação da ação da Uenf, mas de forma ordenada, respeitando o que a gente precisa formar de forma consolidada aos nossos estudantes, será uma das nossas missões mais importantes nesse início de gestão.

Transporte — A gente teria que conversar com o município (...) Indo ao ponto do ônibus, se comprar, seja através de aditivo de pauta parlamentar ou através do orçamento da Uenf, o que a gente pensa é fazer o que algumas instituições fazem: existe um ônibus que sai, a determinado momento, do Centro da cidade ou de pontos da cidade para levar um grupo para dentro da universidade; ou dois horários, ou três horários, para que a gente possa ter esse deslocamento. A gente tem que ter um ponto comum (...) Eu acho que não tem que reinventar, existem exemplos em vários lugares. A gente teria que discutir com a comunidade, com os estudantes principalmente, e com os técnicos não possuem transporte (...) A universidade precisa não só de ônibus para isso, como para as nossas atividades de campo, para levar os alunos para fazer experimentos e aulas práticas.

Arquivo Público — Durante dois anos, eles não fizeram nada praticamente. Então, não dá para tratar a chapa liderada pela Rosana, que é vice-reitora, como sendo uma novidade. Ela é continuação e ela é coautora de toda essa gestão que está aí na Uenf. Por isso, a nossa candidatura é uma candidatura que traz uma nova perspectiva, um novo olhar para dentro e para fora da instituição. Eu já me posicionei, inclusive publicamente, em relação ao Solar do Colégio. A primeira coisa que eu fiz foi visitar a Rafaela (Machado) lá no Arquivo Público, e levei comigo um engenheiro civil. Acho que a pior coisa de um administrador ou de um gestor público ou de um político é a arrogância. Então, no caso, eu fui lá com uma pessoa, porque eu não entendo absolutamente nada de engenharia civil. E eu levei uma pessoa que, caso, obviamente, no dia 19 a gente saia consagrado como o próximo gestor da Uenf, vamos tratar desse assunto com o devido respeito e resgatar toda a relação que a Uenf tem. Inclusive, o lugar ali é espetacular para a gente fazer reuniões e seminários (...) Eu acho que realmente é uma falta de respeito com aquelas pessoas que estão ali, trabalhando com seriedade, a forma como foi conduzido isso pelo Raul e pela Rosana. Isso tem que ficar claro para toda a comunidade. Não é a Uenf. São Raul e Rosana que estão à frente da gestão, se comprometeram a fazer essa parte, mas não se aproximaram das pessoas que têm capacidade técnica para resolver o problema. Já vão se completar dois anos que esse dinheiro está com a Uenf. Eu estive lá visitando: não se comprou o scanner para fazer o que tinha que fazer com os documentos, agora estão contratando bolsistas. Isso aí poderia ter sido feito, independentemente de qualquer coisa: licitar material para aquisição e para salvar, guardar os equipamentos, isso podia ter sido feito de tempo zero. Recebeu o dinheiro, faz a licitação. A parte de engenharia, obviamente, eu entendo que demoraria um pouco mais. Mas, inclusive, teria que estar com pessoas qualificadas ao lado dele para resolver essa situação. Fora isso, isso expôs negativamente a Uenf diante da comunidade, o que, para mim, é uma coisa muito séria, porque o nome da Uenf ficou numa situação em que uma pessoa se comprometeu em nome da instituição, mas não envolveu o corpo técnico qualificado para resolver essa situação. Portanto, nossa visita ao Arquivo Municipal foi para dizer a Rafaela e toda a equipe liderada por ela que, ganhando a eleição, nós vamos nos dedicar, a partir do dia 20, a todas as questões que são relativas às pendências que a Uenf tem com o Arquivo Municipal e com outras questões que, obviamente, serão necessárias serem tratadas a partir de 1º de janeiro de 2024. Então, nós estamos empenhados em resolver isso. E mais: quero levar atividades, seminários, para que as pessoas conheçam o Arquivo Municipal, aquela área belíssima, aquela construção belíssima que tem lá (...) Eu fiquei muito impressionado com toda a recuperação de material que eles fazem ali. É um trabalho muito sério, uma coisa que a gente realmente deveria trazer para dentro da Uenf, como uma forma até de formação de profissionais para esse tipo de atividade. É um campo muito importante, é uma coisa que tem que ser discutida. Mas, eu vejo que a Uenf pode, sim, ir além de estar responsável pela recuperação do patrimônio.

Villa Maria — Eu acho que o trabalho feito pelas pessoas que estão lá foi um bom trabalho. Faltou a Uenf divulgar mais. Acho que, dentro da própria Uenf, a gente não sabe o que está acontecendo muito na Villa Maria. Eu não sei por que cargas d’água essa questão não tem sido visualizada, difundida. A Villa Maria está realmente muito bonita, como sempre foi (...) Vejo a Villa Maria realmente como protagonista da Uenf na pedra da cidade. Estive lá na reabertura, que foi muito legal, salvo algumas exceções. A gente tem que colocar na Villa Maria, por exemplo, exposições de arte, coisas para realmente balançar um pouco mais a cultura e trazer um protagonismo junto com as outras instituições. Acho que a relação com a UFF, com o IFF, tem que ser um pouco mais intensa nessa questão cultural também. Eu acho que todo mundo pode doar um pouco para que essa coisa aconteça de uma forma onde a Villa Maria vire realmente um centro um pouco mais intenso da vida cultural da cidade.

Pesquisa e inovação — Durante oito anos, a agência de inovação (da Uenf) não fez o dever de casa. Ela não tem feito o trabalho dela. Nós temos pesquisas lá, por exemplo, com mamão, com goiaba, que tem sido levadas para o Espírito Santo, mas não se consegue colocar aqui. A agência de inovação tem um papel fundamental dentro desse processo, e ela não tem feito isso durante os últimos oito anos. Temos empresas que estão fazendo o trabalho dela, produzindo sementes de feijão, sementes de milho, que têm sido procurados por produtores de outras regiões. E aqui não se sabe. Então, falta exatamente mostrar que existe essa possibilidade de diversificação da agricultura local, com produtos que estão sendo feitos aqui. Quando nós fizemos o nosso plano de gestão, foi até alvo de crítica durante o debate que nós fizemos lá: “Ah, você só tem seis pontos”. Eu prefiro propor menos e fazer mais do que propor demais e fazer menos. Ali, são seis pontos que eu considero fundamentais, inclusive a adequação da agência dentro da própria lei, que, mesmo não estando aprovada, precisa estar adequada. Tivemos uma reunião na Finep (...) já vislumbrando a possibilidade de estarmos à frente da reitoria, exatamente sobre a questão de inovação nessa região. O Peregrino foi presidente do Confies, que é a Confederação das Fundações das Instituições de Ensino Superior, durante muitos anos. Estávamos conversando exatamente sobre a lei de inovação. É uma lei grande, tem cento e tantos artigos. A gente precisa adequar a nossa agência a essa lei. Assim como também falei com a Fundenor. A gente precisa colocar a Fundenor dentro do Confies também, porque ela administra projetos que são de recursos extra orçamentários, de convênios. Muitas vezes, se colocarmos dentro do orçamento do estado, esse dinheiro acaba não retornando com certa agilidade. Então, para isso, muitas vezes se usa as fundações. A gente já tem tratado desse assunto. Obviamente, isso vem de muito tempo, não é de agora, mas a inovação é uma coisa que realmente precisa ser tratada com mais cuidado, até mesmo porque eu sei que existem empresas lá que, até hoje, não circularam dentro dos trâmites institucionais. Então, essa é uma coisa que a gente precisa tratar com muito cuidado ao longo desse processo que estará à frente. Sobre pesquisas, (...) o tempo do político muitas vezes acaba sendo incompatível com o tempo da ciência, mas a gente tem que encontrar essa área de convergência para que a gestão pública seja feita com base no conhecimento científico.

Relação com os Poderes — É importante as pessoas entenderem que um reitor tem status de um secretário de estado. Portanto, a postura de um reitor diante dos governadores, diante da Assembleia e da Câmara, ela é fundamental. É fundamental manter essas relações. O que não pode e não deve acontecer são situações como essas que nós presenciamos recentemente, que gerem entraves junto ao governo, seja municipal, estadual. É o que eu digo: ideologia política de um gestor público é uma questão. Agora, o ideal institucional é outro. Então, eu vejo que a Uenf é o partido que deve ser defendido e harmonizado junto com as diferentes esferas do poder, seja municipal, estadual ou federal. Muitos dos recursos também podem vir da escala federal, e essa interlocução é muito importante. Eu pretendo, a partir de janeiro, estar dedicando parte da minha semana no Rio de Janeiro, podendo conversar com os deputados, com o secretário de Ciência e Tecnologia, ter agenda com o governador. O comportamento de um reitor da universidade é muito importante, nas três esferas. Dentro da universidade, eu costumo dizer que o exemplo tem que vir de cima, e eu pretendo ser esse exemplo de conduta dentro da instituição e fora da instituição.

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