Campos tem mais de 110 pessoas vivendo nas ruas
- Atualizado em 11/08/2023 19:39
População em situação de rua
População em situação de rua / Rodrigo Silveira
Campos tem 114 pessoas vivendo nas ruas. O número foi identificado através do 1º Censo Sobre a População em Situação de Rua de Campos, divulgado nesta semana. Realizado pela secretaria de Desenvolvimento Humano e Social, o objetivo do Censo foi contabilizar e traçar um perfil dessas, e, assim, produzir um diagnóstico para elaboração de políticas públicas municipais voltadas a essa parcela da população.
Do total de pessoas em situação de rua, 49 disseram que dormiram nas ruas, em casas ou em prédios abandonados há uma semana antes das entrevistas. Já 42 pessoas disseram que utilizavam a rua como forma de trabalhar. A pesquisa foi realizada entre os meses de setembro e novembro de 2022.
Quanto ao perfil, 87% são homens e 13% são mulheres. Sobre a cor, 39% são declarados pretos, 29% pardos e 28% brancos. A idade média de pessoas em situação de rua é de 40 a 59 anos. Do total de entrevistados, 28% declararam possuir alguma deficiência/transtorno/síndrome. Destes, 49% tinham transtorno psiquiátrico.
A formação escolar também foi um ponto para a elaboração do Censo. Sabem ler e escrever 70% dos entrevistados. Outros 18% afirmaram que não sabiam ler e nem escrever. Com ensino fundamental incompleto eram 53%.
O Censo perguntou qual era a origem das pessoas e qual o deslocamento eles haviam feito. O levantamento traz que 48% dos entrevistados são nascidos em Campos. E 5% são nascidas na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Pessoas que vieram de várias partes do Estado do Rio eram 30%, do Espírito Santo 6%, e de São Paulo 4%. Dos 48 migrantes, 40% declararam que vieram por recursos próprios, 10% chegaram a pé e 10% via carona. Os que declararam que moravam há mais de 5 anos no município foram 20% e os que informaram que moram há um ano foram 19%. Já 14% possuem o território do Parque Guarus como última referência, seguido de Chatuba e Jóquei com 4% cada.
Ainda segundo o levantamento, 58 entrevistados disseram estar nas ruas por conflitos familiares, 37 pelo desemprego, 29 pelo uso de álcool ou droga, 10 pessoas por transtorno psiquiátrico, 6 por conta do risco em locais que moravam, 4 pelo risco de vida. Já 7 pessoas elencaram outros fatores.
O tempo de permanência nas ruas também foi abordado, sendo que 25% dos entrevistados estavam há mais de 10 anos, enquanto 31% estavam há menos de um ano. Das formas de sobrevivência através da rua, o trabalho informal era 27%, trabalho formal 18% e doações 18%.
Segundo o secretário da pasta, Rodrigo Carvalho, a secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social tem o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) como referência para a oferta de serviços à população de rua da cidade, como abrigos, regularização de documentos, encaminhamento para serviços de saúde e emprego. “Estamos reforçando a politica de acolhimento e garantia de autonomia dos usuários. Criamos o Acolhe Campos que oportuniza as pessoas em situação de rua um vaga no mercado de trabalho e mantemos diálogo permanente com a sociedade para aprimoramos nossas ações e fortalecermos a rede socioassistencial”, destacou.
Pesquisa também abordou outras questões
O Censo também levantou outras questões relacionadas às pessoas em situação de rua, como vínculos familiares, alimentação, trabalho e renda, saúde e outros.
Sobre os vínculos familiares, 53% dos entrevistados responderam que possuem um ou mais filhos. Outros 31% são de famílias unipessoais e 7% com 7 ou mais membros. Um entrevistado afirmou que o filho estava sob seu cuidado, enquanto 88% declararam que os filhos estavam com familiares e 3% que estavam em uma Unidade de Acolhimento para crianças e adolescentes.
Em relação à rotina alimentar, 47% dos entrevistados disseram que se alimentaram no Serviço de Acolhimento no dia da entrevista; 46% no Centro Pop; e 4% no Restaurante do Povo. Os que informaram que não conseguiram realizar uma refeição na semana anterior à aplicação do Censo foram 11%.
O Censo mostrou também que a maioria das pessoas em situação de rua (65%) já teve alguma experiência profissional; 53% já tiveram carteira assinada; 47% declararam possuir uma profissão; 31% não têm renda; e 19% fizeram algum curso de capacitação profissional.
Montante de pessoas em situação de rua entrevistadas também está no contexto de inserção dos programas sociais. No programa Auxílio Brasil eram 74, com o Seguro Desemprego eram 2, com Benefício de Prestação Continuada (BPC) eram 2 e uma pessoa com aposentadoria.
Saúde — As doenças declaradas pelas pessoas em situação de rua entrevistadas variam entre Hipertensão, Diabetes e Câncer, com 10, 5 e 1 convivendo com as doenças, respectivamente. Dos 114 entrevistados, 33% fazem uso de medicamento contínuo. Destes, 15% acessam o medicamento via secretaria de Saúde, 18% compram diretamente na farmácia e 45% com uso de substâncias psicoativas.
Violação de direitos e Violência - O levantamento mostra que 38% das pessoas são egressas do sistema penitenciário. Destes, 30% afirmaram ter tido problemas para retornar ao território após sair do Sistema Penitenciário. Também dos egressos, 19% já tinham trajetória de acolhimento para crianças e adolescentes. O Censo também mostra que 24% já sofreram algum tipo de violência da Polícia (Civil ou Militar) e 14% de outras pessoas em situação de rua.
Município conta com rede de acolhimento
A Prefeitura informou que diariamente são feitas abordagens pelas equipes do Centro Pop em diversos pontos da cidade, porém a decisão de ir ou não para o abrigo ou se aceitar o atendimento é do indivíduo. Através do Centro Pop, as pessoas são encaminhadas para quatro abrigos municipais: Casa de Passagem, Lar Cidadão, Manoel Cartucho, e uma Organização da Sociedade Civil (OSC) cofinanciada pela secrataria de Desenvolvimento Humano e Social.
Previsto no Plano Municipal de Assistência Social, o Censo foi realizado através da Política Nacional para a População em Situação de Rua, que determina, dentre seus objetivos, a contagem oficial da população.
De acordo com a gerente da Vigilância Socioassistencial, Mericelly Bastos Vilela, os indicadores sociais servem para implementar a rede de atendimento a esta população. “A gente entende que para pensar, planejar e executar ações a gente precisa conhecer a quem a gente está atendendo. O papel da Vigilância neste contexto é de avaliar e monitorar os serviços de política de assistência. O Censo trouxe um diagnóstico sobre essa população para levar para diferentes atores da rede, que são as gestões, os conselhos e as equipes técnicas sobre quem são essas pessoas que nós atendemos. Assim, juntos, vamos planejar ações efetivas de atendimento ao público”, disse.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS