Antero, Apolinho, Silvio Luiz e um vazio no jornalismo esportivo
Maria Laura Gomes 17/05/2024 15:06 - Atualizado em 17/05/2024 15:14
Divulgação
Em menos de 24 horas, o jornalismo esportivo brasileiro foi abalado por uma onda de tristeza com a perda de três de seus grandes ícones. Na quarta-feira (15), Washington Rodrigues, carinhosamente conhecido como "Apolinho", faleceu aos 87 anos no Rio de Janeiro, após uma dura batalha contra um câncer agressivo. No dia seguinte, quinta-feira (16), Silvio Luiz, lendário locutor esportivo, partiu aos 89 anos em São Paulo, vítima de falência múltipla de órgãos. No mesmo dia, o respeitado comentarista da ESPN Brasil, Antero Greco, nos deixou aos 69 anos, também em São Paulo, após lutar contra um tumor no cérebro. Admiradores e colegas de profissão lamentaram o falecimento desses ícones.
Washington Rodrigues, além de jornalista, era ex-treinador do Flamengo e um dos principais nomes do rádio esportivo no país. Desde 1999, ele comandava o programa “Show do Apolinho” na Rádio Tupi, que liderou a audiência por mais de duas décadas. Seu estilo inconfundível e carisma cativaram gerações de ouvintes.
Silvio Luiz, conhecido por seus bordões icônicos e estilo único, teve uma carreira brilhante como narrador esportivo. Sua voz marcou momentos históricos em diversas Copas do Mundo, deixando um legado inesquecível para o esporte brasileiro.
Antero Greco começou sua jornada no jornalismo no início dos anos 70 no Estadão, onde foi editor de Esportes. Ele também atuou como editor e colunista no então Diário Popular e, nos anos 90, se destacou como comentarista de futebol na Rede Bandeirantes. Antero possuía um conhecimento profundo e análises precisas.
O campista Cahê Mota, setorista da Seleção, lamenta e destaca a importância de valorizar a história dos jornalistas, que impactaram várias gerações. O Silvio Luiz marcou a sua infância e adolescência e embora tenha conhecido Antero mais tarde e Washington em eventos, ele reconhece a influência de todos.
— Quando a gente fala muito em legado, a gente fala muito no impacto de figuras de profissionais como Antero, como Apolinho e como o Silvio Luiz. Nas novas gerações, eu acho que tem que ficar essa reflexão do comportamento, na forma de exercer a profissão, na forma de se relacionar com as pessoas, na forma de entender o norte ético e de respeito que a gente tem que ter — disse Cahê.
O jornalista e escritor Péris Ribeiro expressou seu pesar e refletiu sobre a contribuição inestimável de cada um desses profissionais para a imprensa esportiva e para os fãs de esportes em todo o país.
— A imprensa esportiva está muito defasada hoje em dia. Eles vão deixar saudade. Silvio Luiz, em São Paulo, ganhou vários prêmios, criou jargões que marcaram. Antero era um homem culto, que enriquecia com seus comentários e o Apolinho foi bastante diferenciado. São personagens singulares, vidas diferentes e muitos similares, não vão aparecer outros — finalizou Péris.
Eraldo Leite, radialista, compartilhou memórias emocionantes sobre sua profunda amizade com Apolinho. Mais do que colegas de profissão, Leite e Apolinho cultivaram uma relação que transcendia os estúdios de rádio e se fortalecia nas quadras de futebol.
— Minha ligação com Washington ia muito além dos microfones de rádio. Gostávamos mesmo era de uma boa pelada nas noites de segunda-feira. No Montanha, no Clube Federal, nas quadras do América ou da Gávea, era assim que a gente se realizava, materializando o sonho frustrado de ser um jogador de futebol. Bola na trave às vezes até alterava o placar, dependendo de quem falasse mais alto. O Rádio e as peladas, somados às centenas de viagens que fizemos mundo afora, nos tornaram íntimos amigos, ainda que ele fosse o mestre e eu o aprendiz. Ele nunca quis ser o "professor", apenas um amigo mais vivido — completou Eraldo.
Matheus Berriel, jornalista, blogueiro do Folha1 e ex-editor de Esportes da Folha da Manhã também comentou sobre a perda dos jornalistas. "Sem dúvida, é uma das semanas mais tristes da história do jornalismo esportivo brasileiro. Não lembro e imagino que nunca tenha havido três mortes de figuras desse quilate num intervalo de apenas 12 horas. Tanto Apolinho quanto Antero e Silvio Luiz ficam marcados pela competência, mas também pela irreverência”, finalizou Matheus.
O colunista Arnaldo Garcia expressou sua tristeza ao comentar sobre Washington e como isso simboliza o encerramento de uma geração épica no rádio brasileiro. "A saída de cena do Apolinho marca o fim de uma geração épica no rádio. As brincadeiras, as gozações criativas e respeitosas, além do lançamento de personagens, teve um baque com a morte do também colaborador da Rádio Tupi, Gilson Ricardo, há pouco mais de um ano, e praticamente desaparece juntamente com a voz descontraída deste grande torcedor do Flamengo”, explicou Arnaldo.



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