Espetáculo "Voz Surda" encerra temporada no Sesc em Campos
Rafael Khenaifes
Espetáculo
Espetáculo / Divulgação
Dois empregados planejam matar o patrão. Este é o ponto de partida do espetáculo teatral “Voz surda”, que circulou em diversos equipamentos do Sesc, no Rio e na Região Metropolitana da Cidade.

A montagem, da Cia Coletivo sem Órgãos, é uma dramaturgia autoral de Rodrigo de Todos os Santos, construída durante o processo de ensaio e livremente inspirada na peça “As criadas”, do dramaturgo francês Jean Genet.

No texto de Genet, as duas criadas se revezam no jogo de imitar a patroa, e assim as forças de opressão vão migrando entre elas. A escolha do tema, então, não foi gratuita. As relações entre empregado e empregador, oprimido e opressor, têm tudo a ver com o momento atual do país.

Mesmo com a taxa de desemprego na casa dos 6%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o Brasil ainda soma 7,3 milhões de pessoas sem ocupação no país. Ainda de acordo com o Instituto, somam-se a eles 4,3 milhões de brasileiros em desalento, ou seja, que desistiram de procurar emprego, além de 38,9 milhões de trabalhadores na informalidade. A reforma trabalhista, iniciada em 2016, e aprovada pelo governo, prejudicou aquele que vende sua força de trabalho, sua mão de obra.

“O espetáculo propõe discutir as relações e situações que o corpo preto-periférico encontra em ambientes de trabalhos subalternos, levando em consideração as situações cotidianas, vivenciadas por pessoas que prestam serviços em casas e outros ambientes em que existe uma relação de poder e opressão explícitos”, pontua Rodrigo de Todos os Santos, diretor do espetáculo.

Muitas reflexões surgiram a partir da pesquisa sobre relações de trabalho. Livros como “A elite do atraso”, de Jessé Souza, e “O que é lugar de fala?”, de Djamila Ribeiro, também foram fontes de pesquisa, já que os autores se propuseram a investigar a construção do subalterno ao longo do tempo.

O nome do espetáculo é inspirado no artigo “Pode o subalterno falar”, da filósofa indiana Gayatri Spivak. No estudo, Spivak explica que em muitos momentos, nas relações de trabalho, o patrão parece induzir o funcionário a dizer as questões que lhe incomodam naquele ambiente.

O opressor cria formas para que essas insatisfações sejam ditas nos momentos convenientes a ele; entretanto, o que é dito não passa dos locais e das pessoas selecionadas pelo patrão. Dessa maneira, a voz do empregado é impedida de perpetuar, ou seja, o chefe cria uma falsa sensação de poder de fala, fazendo da voz de seu empregado uma voz surda.

O trabalho de pesquisa do espetáculo começou em 2018 e, em 2021, foi selecionado para representar o Sesc Engenho de Dentro na Mostra Sesc Regional Zona Norte, e em 2022, foi contemplado pelo FOCA, quando teve uma temporada de um mês no teatro Ruth de Souza, em Santa Teresa, alcançando aproximadamente 500 pessoas.
Sinopse

Em “Voz surda”, dois funcionários que trabalham juntos estão prestes a matar o patrão. Enquanto o chefe não chega, os empregados iniciam um jogo de submissão e poder em que imitam os gestos, a voz e os hábitos do patrão em um perverso ritual de faz de contas.
Ficha técnica

Direção: Rodrigo de Todos os Santos e Tatiane Santoro

Produção: Ralph Campos (Revés Produções)

Elenco: João Mabial, Gustavo Alves e Marcos Paulo Oliveira

Iluminação: Luan de Almeida

Social Media: Caio César

Design: Franco Albuquerque

Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa

SERVIÇOS:

Espetáculo Voz Surda
06/12 | Campos | 19h - sexta

Avenida Alberto Torres, 397 - Centro - Campos/Rio de Janeiro
Com informações Ascom 

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