Edgar Vianna de Andrade - Os fantasmas sempre se divertirão
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 25/09/2024 14:38
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Depois do desastrado “Dumbo” (2019), produzido para a Disney, Tim Burton pensou em se aposentar. O filme foi um fracasso. Todo o universo mágico criado pelo diretor estava ausente no filme. Logo depois, ele dirigiu o seriado “Wandinha”, cujo papel principal fica por conta de Jenna Ortega, e começou a se reerguer.

Ele volta agora com “Os fantasmas ainda se divertem”, retomando seu humor negro, seu traço gótico (adjetivo que não me agrada muito) e a homenagem a estilos e diretores, o que ele havia feito em “Ed Wood”, considerado o pior diretor de todos os tempos. Ele se destacou como cineasta com “Os fantasmas se divertem” (1988), seu segundo filme. Vieram depois produções que levaram Burton a ocupar um lugar ímpar no cinema dos Estados Unidos e do mundo, tais como “Batman” (1989), “Edward mãos de tesoura” (1990), “A lenda do cavaleiro sem cabeça” (1999), “A noiva-cadáver” (2004), “A fantástica fábrica de chocolate” (2005) e “Alice no país das maravilhas” (2010). “A noiva-cadáver” é, por exemplo, uma animação à altura das primeiras produções da Disney, de Hayao Miyazaki e de Gore Verbinski.

Em “Os fantasmas ainda se divertem”, Burton volta às origens, dando continuidade ao roteiro de 1988. São quase os mesmos personagens, mas agora envelhecidos e com novos que nasceram depois. Ele se vale da animação “stop motion”, em que as figuras são filmadas em posições distintas e depois reunidas para obter movimento. E o humor transborda. Ele coloca em primeiro plano Winona Ryder, uma mulher que faz um programa de televisão acerca do sobrenatural, mas sua hipersensibilidade a leva a ver fantasmas, e Jenna Ortega, sua filha, adolescente materialista. O filme gira em torno das duas.

Burton usa cenários que evocam o expressionismo alemão. Em alguns momentos do filme, ele se vale de cenários que parecem saídos de “O gabinete do Dr. Caligari”. Homenageia também o terror gótico do cineasta italiano Mario Bava, um dos mestres do cinema de baixo orçamento. O centro do filme é a casa em que se reúnem três gerações da família Deetz. Lydia Deetz (Winona Ryder), agora adulta, é mãe da adolescente Astrid (Jenna Ortega) e a avó Delia Deetz (Catherine O’Hara) Duas viúvas e uma solteira. Esse trio de mulheres domina o filme. No mundo dos mortos, o bem-humorado fantasma Beetlejuice (Michael Keaton) rouba a cena. Ele é invocado no sótão do soturno casarão. É o caminho que ele encontra para fugir da noiva Delores (Monica Bellucci), que evoca Morticia Addams. Embora fantasma, Bellucci monta seu corpo esquartejado com um grampeador e procura Beetlejuice para se vingar. Já com meia idade, Bellucci estampa sua beleza italiana. Desempenha bem o papel de perseguidora, mas aparece pouco no filme. O mesmo pode ser dito a respeito do onipresente Willem Dafoe, que represente um detetive do mundo dos mortos.

A retomada do universo mágico de Burton recoloca no cinema a estética que tão bem caracteriza o diretor. É algo só dele reunir sobrenatural, humor, fantástico e tecnologias já superadas pelo cinema, dando aos filmes um toque de magia. Pena que ele tenha lidado com muitas histórias paralelas com personagens interessantes. Eles mereceriam filmes futuros, como o caso de Bellucci evocando Anjelica Hustoun, com seu corpo opulento e sinuoso, e Willem Dafoe.
Pelas mãos de Burton, os fantasmas sempre se divertirão.

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