'Rio, Negro' tem sala cheia em Campos e debate sobre a importância do cinema
Dora Paula Paes 20/06/2024 16:16 - Atualizado em 20/06/2024 16:19
 O Dia do Cinema Brasileiro teve a apresentação do filme "Rio, Negro", em Campos, na noite de quarta-feira (19). Com sala cheia, a Villa Maria recebeu um público consciente da importância do teor do longa, com a influência de pessoas negras no Rio de Janeiro, nos contextos intelectuais, sociais e políticos. A retomada da pauta pelo curso de cinema na Uenf também esteve em debate após a apresentação do filme. O diretor da produção cinematográfica, Fernando Sousa, o jornalista Aluysio Abreu e o professor da Uenf, Roberto Dutra, focaram nas relações entre ciências sociais e a importância da arte do cinema.
Sobre o filme, Aluysio, que também é crítico de cinema, pontua: "'Rio, Negro' é necessário para se conhecer a capital contribuição africana e negra na gênese da cidade do Rio de Janeiro e seu entorno. Bem como do próprio Brasil, durante e depois de ter o Rio como sua capital. A exibição do filme foi bem prestigiada pelo público, na noite de ontem, na Villa Maria. E teve após o bônus do debate, como um making of, com os seus diretores, Fernando Souza e Gabriel Barbosa".

No longa-metragem, a história é contada por meio de depoimentos de importantes ativistas do movimento negro, artistas, arquitetos e outros pensadores da cidade, tais como o ator Haroldo Costa; o escritor Luiz Antônio Simas; a vereadora Tainá de Paula; o carnavalesco Leandro Vieira; o ritmista Eryck Quirino; a atriz Juliana França; a ialorixá Mãe Meninazinha de Oxum; a historiadora Ynaê Lopes; os pesquisadores Christian Lynch, Nielson Bezerra e Eduardo Possidonio, entre outros.

—A relações entre ciências sociais e a arte do cinema estão muito presentes no filme. Debatemos questões como a identidade negra, seus problemas e possibilidades e, também, a necessidade de superar certo provincianismo cultural e intelectual da capital do estado, tanto no cinema como na visão de país e de seu interior profundo — salienta o professor Roberto Dutra.
“Rio, Negro” estreou em março de 2023 nos cinemas, tendo sido selecionado recentemente para o Dubai Festival 2023 e sendo exibido em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Palmas, Balneário Camboriú, Porto Alegre, entre outras. Também integrou a seleção oficial do Dubai Festival 2023, e concorreu ao prêmio de Melhor Documentário sobre a Diáspora no 19th African Movie Academy Awards, maior premiação do cinema africano.
Evitando lamber a própria cria, o diretor do longa, Fernando resumiu o evento como "muito especial", com presença "bacana do público". Ao virar a chave para a oportunidade de falar do futuro da Uenf e abordar a proposta de criação do curso de cinema na universidade, ele lembra que o projeto foi originalmente pensado pelo sociólogo Darcy Ribeiro.

—A gente tem o desafio de trazer para a pauta novamente, olhando para a frente, para que a universidade amplie sua atuação, amplie sua oferta de cursos e a gente acredita muito que o curso de cinema é uma oportunidade única —disse Sousa.

Já Roberto Dutra, ainda sobre a retomada do projeto do curso de cinema, com uma agenda de criação de uma escola e de um curso, considera a pauta uma forma de retomar o caminho de crescimento institucional, previsto, inclusive, nos documentos que nortearam a criação da Uenf, que por razões diversas não avançou no passado.
— Precisamos defender sua retomada em um projeto ousado de avanço institucional capaz de reeditar a conexão entre sociedade e universidade. A escola ou curso de cinema tem enorme potencial de articulação interdisciplinar com os cursos existentes na Uenf, de pós e de graduação, além da capacidade de interiorizar a produção cinematográfica, diversificar a visão artística e crítica do país e, não menos importante, impulsionar o desenvolvimento de uma cadeia de produtiva e uma indústria cultural na região —disse ele, ressaltando que esse desenvolvimento artístico e intelectual vem atrelado à economia com elevada geração de empregos de qualidade.
 

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