Ethmar Filho - Nara Leão
Em 1954, Nara Leão, chamada a “musa da Bossa Nova”, aos doze anos já aprendia a tocar violão com Solon Ayala, do conjunto “Os Oito Batutas” de Pixinguinha, no apartamento de seus pais, na Avenida atlântica, em Copacabana, “bisbilhotada” artisticamente por seu conterrâneo Roberto Menescal, assim como também “Bisbilhotando” o amigo Menesca. Dois anos depois, em 1956, primeiro ano do governo JK, Menescal e Carlos Lyra fundariam uma academia de violão na Rua Sá Ferreira, num outro apartamento, também em Copacabana, localizado a alguns quarteirões do de Nara Leão, tendo ela como a primeira aluna. Paulinho da Viola, referindo-se ao jeito de Nara: “por trás de toda aquela doçura de Nara Leão, havia uma contundência muito grande!”
Nara, pouco a pouco foi conhecendo e se envolvendo musicalmente com os principais nomes da Bossa Nova. Com Ronaldo Bôscoli, esse envolvimento foi além da música; Nara era apaixonada por Ronaldo. A história deixa claro que a saída de Nara Leão da Bossa Nova pode ter sido ocasionada por uma combinação de fatos que unem os ciúmes dela em relação a Ronaldo Bôscoli com Maysa e a sua inquietação com à neutralidade política e social da Bossa Nova, no início do movimento; a chamada filosofia do “Amor, o sorriso e a flor”. Nara precisava discutir a questão social da pobreza no país através do samba autêntico e de seus compositores. Com isso ela promove a aproximação do Samba que morava no morro com a Bossa que crescia no asfalto.
Nascida em Vitória, no Espírito Santo, Nara, no Rio, foi morar em Copacabana, num apartamento de quinze metros de sala, de frente para o mar, na Avenida Atlântica, com os pais e a irmã. Seus pais Jairo e Altina Leão, preferiam que as filhas recebessem os amigos em casa do que os acompanhar pelas ruas do bairro, nas madrugadas. Nara, desde cedo, já se mostrava muito adiantada em tudo. “Era um bando de gente, no nosso apartamento, até às seis ou oito horas da manhã”, dizia Nara Leão, em relação aos artistas que seriam muito famosos alguns anos depois. Lá era o ponto de encontro. Enquanto a rapaziada se divertia tocando e cantando as músicas da Bossa Nova, seu Jairo jogava pôquer com Paulo Francis e outros amigos. “Toda noite alguém vinha com uma composiçãozinha nova numa bela convivência artística”, atestava Luizinho Eça, um dos mais brilhantes pianistas do movimento. Dali a Bossa Nova partiu para os teatros, os salões, as faculdades e ganhou o mundo, através do show do Carnnegie Hall, em novembro de1962. Os compositores sentavam-se perto da janela, com vista para o mar e o resto dos convidados sentava-se ao fundo da sala: uma espécie de divisão por importância. Muitas músicas foram compostas ali, naquele apartamento do Edifício Champs-Elysées, em frente ao posto 4; clássicos exemplos são “O barquinho”, de Menescal e Bôscoli e “Se é tarde me perdoa”, de Ronaldo Bôscoli e Carlinhos Lyra.
Maestro Ethmar Filho – Mestre e Doutorando em Cognição e Linguagem pela UENF, regente de corais e de orquestras sinfônicas há 25 anos.
Nara Leão participou ativamente como protagonista e mentora intelectual de pelo menos seis movimentos artísticos musicais do Brasil, entre os anos 1950 e 1980. Segundo todos os relatos de pesquisadores, Nara passava de um movimento a outro com a facilidade dos grandes criadores e das personagens que são guiadas exclusivamente por seus conceitos e ideologias; não seguia a cabeça de ninguém, era pragmática e original. Quando abandonou a Bossa Nova, da qual era a musa, dedicou-se ao samba autêntico, como se a Bossa não oferecesse mais nenhum espaço para suas ideias e convicções. Dizia ter se conscientizado de que haviam problemas maiores a serem resolvidos na área social e humana, através da divulgação das músicas dos compositores chamados compositores do Morro, que descreviam em suas letras os infortúnios e dificuldades da vida dos pobres do Rio de Janeiro. Nara passou a caminhar de braços dados com sambistas do quilate de Zé Keti e criadores nordestinos como João do Vale. Com eles, roteirizado e dirigido por grandes nomes do teatro, criou o espetáculo Opinião, onde encenava músicas dos dois compositores a exemplo de Carcará e Diz que fui por aí. Zé Keti comporia a música Opinião, cuja letra critica a decisão do governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, de acabar com muitas favelas do centro e zona sul do Rio de Janeiro, em favor do turismo. De forma tardia, apoiou o movimento da Jovem Guarda, que havia surgido em 1965, gravando um disco inteiro dedicado às músicas de Roberto Carlos, seu principal representante, em 1978. Participou dos Festivais de Música da TV Record, defendendo composições de Chico Buarque de Holanda, como A Banda e de Sidney Miller como A Estrada e o Violeiro. Nara, em 1967, causou surpresa no meio musical ao integrar o disco manifesto do movimento da Tropicália, Panis et Circensis, interpretando a música Lindonéia. Seu retrato saiu na capa do disco, segurado por Caetano Veloso. Até o ano de sua morte, gravou músicas de muitos autores da MPB, produzidas principalmente por Roberto Menescal.
Em 1954, Nara Leão, chamada a “musa da Bossa Nova”, aos doze anos já aprendia a tocar violão com Solon Ayala, do conjunto “Os Oito Batutas” de Pixinguinha, no apartamento de seus pais, na Avenida atlântica, em Copacabana, “bisbilhotada” artisticamente por seu conterrâneo Roberto Menescal, assim como também “Bisbilhotando” o amigo Menesca. Dois anos depois, em 1956, primeiro ano do governo JK, Menescal e Carlos Lyra fundariam uma academia de violão na Rua Sá Ferreira, num outro apartamento, também em Copacabana, localizado a alguns quarteirões do de Nara Leão, tendo ela como a primeira aluna. Paulinho da Viola, referindo-se ao jeito de Nara: “por trás de toda aquela doçura de Nara Leão, havia uma contundência muito grande!”
Nara, pouco a pouco foi conhecendo e se envolvendo musicalmente com os principais nomes da Bossa Nova. Com Ronaldo Bôscoli, esse envolvimento foi além da música; Nara era apaixonada por Ronaldo. A história deixa claro que a saída de Nara Leão da Bossa Nova pode ter sido ocasionada por uma combinação de fatos que unem os ciúmes dela em relação a Ronaldo Bôscoli com Maysa e a sua inquietação com à neutralidade política e social da Bossa Nova, no início do movimento; a chamada filosofia do “Amor, o sorriso e a flor”. Nara precisava discutir a questão social da pobreza no país através do samba autêntico e de seus compositores. Com isso ela promove a aproximação do Samba que morava no morro com a Bossa que crescia no asfalto.
Nascida em Vitória, no Espírito Santo, Nara, no Rio, foi morar em Copacabana, num apartamento de quinze metros de sala, de frente para o mar, na Avenida Atlântica, com os pais e a irmã. Seus pais Jairo e Altina Leão, preferiam que as filhas recebessem os amigos em casa do que os acompanhar pelas ruas do bairro, nas madrugadas. Nara, desde cedo, já se mostrava muito adiantada em tudo. “Era um bando de gente, no nosso apartamento, até às seis ou oito horas da manhã”, dizia Nara Leão, em relação aos artistas que seriam muito famosos alguns anos depois. Lá era o ponto de encontro. Enquanto a rapaziada se divertia tocando e cantando as músicas da Bossa Nova, seu Jairo jogava pôquer com Paulo Francis e outros amigos. “Toda noite alguém vinha com uma composiçãozinha nova numa bela convivência artística”, atestava Luizinho Eça, um dos mais brilhantes pianistas do movimento. Dali a Bossa Nova partiu para os teatros, os salões, as faculdades e ganhou o mundo, através do show do Carnnegie Hall, em novembro de1962. Os compositores sentavam-se perto da janela, com vista para o mar e o resto dos convidados sentava-se ao fundo da sala: uma espécie de divisão por importância. Muitas músicas foram compostas ali, naquele apartamento do Edifício Champs-Elysées, em frente ao posto 4; clássicos exemplos são “O barquinho”, de Menescal e Bôscoli e “Se é tarde me perdoa”, de Ronaldo Bôscoli e Carlinhos Lyra.
Maestro Ethmar Filho – Mestre e Doutorando em Cognição e Linguagem pela UENF, regente de corais e de orquestras sinfônicas há 25 anos.