Uma ação da Polícia Militar (PM) durante uma batalha de rimas em Campos, na noite da última sexta-feira (16), gerou polêmica nas redes sociais. Por meio de uma nota de repúdio, o coletivo Manifestação Cultural de Rimas (MCR) afirmou que participantes do evento foram “coagidos, agredidos e humilhados” durante a ação, em que foi utilizado spray de pimenta. Segundo a PM, um grupo de pessoas teria tentado interferir em uma abordagem a usuários de drogas.

O caso aconteceu no viaduto da ponte Leonel Brizola, no Centro. Há pelo menos 10 anos, o local é usado como polo da cultura urbana em Campos, sediando batalhas de rimas e apresentações individuais de rappers, bem como exibições de skatistas e produções de grafites. Membros da MCR, fundada há uma década, alegam que a PM atuou de forma indevida na ação de sexta-feira.

— A Polícia Militar entrou no espaço sem nenhuma comunicação prévia com a organização do coletivo, sem nenhum aviso, sem as sirenes ligadas, de forma sorrateira e com atitude explícitamente maldosa — diz um trecho da nota, que conta com mais de 2 mil curtidas no Instagram. Vídeos na mesma postagem mostram a presença de policiais militares e algumas pessoas cobrindo o nariz para não inalar spray de pimenta.

De acordo com a MCR, no momento do ocorrido havia crianças de colo, mulheres grávidas e uma de resguardo, que teria sido “covardemente empurrada ao chão”.

— A mesma polícia que alegou ter que manter a ordem e a segurança colocou todos nós em perigo. (...) Não somos marginais, não somos bandidos, não infringimos nenhuma lei e, mesmo assim, fomos tratados como tal. Deixamos aqui nosso total repúdio ao episódio de sexta, que não foi o primeiro e sabemos que não será o último. Mas, como acontece há 10 anos, resistimos e resistiremos sempre — enfatiza o coletivo no posicionamento.

Campeão nacional da Batalha da Nação, no Rio de Janeiro, Spike MC foi um dos rappers convidados. Nessa segunda-feira (18), ele mencionou o caso em story no Instagram. “Os policiais jogaram spray de pimenta na batalha, e todos os MC’s, convidados, plateia e organização tiveram que sair correndo de lá. Isso em uma quadra que só tinha uma saída. Entre o público tinha mulheres grávidas, crianças, adolescentes e artistas do evento”, escreveu.

Na mesma rede social, diversas pessoas manifestaram apoio à MCR. “O sonho do estado é calar o revolucionário”, comentou o rapper Mozart MZ, natural de São Gonçalo e que possui mais de 148 mil seguidores.

A deputada estadual Dani Monteiro (Psol) também se solidarizou com os membros do coletivo. “Uma ação covarde da Polícia Militar, que, sem aviso prévio, invadiu a roda de rima na tentativa de dispersar quem estava presente com spray de pimenta. Mesmo após tamanha violência e truculência, o evento prosseguiu, pois o movimento hip-hop é historicamente resistência. Nossa equipe está em contato com os organizadores para prestarmos auxílio e garantir que esse absurdo ocorrido não se repita”, escreveu a parlamentar.

À Folha, a secretaria estadual de PM alegou que foi necessária a intervenção no local.

— Policiais do 8º Batalhão de Polícia Militar foram à avenida Alberto Torres para verificar informações de que indivíduos estariam fazendo uso de entorpecentes. No local, a equipe constatou o fato. Ao tentar abordar os indivíduos, um grupo de pessoas tentou interferir, e os policiais precisaram utilizar de armamento de menor potencial ofensivo para conter a situação — diz a PM.

As secretarias municipais de Ordem Pública e Desenvolvimento Humano e Social também foram citadas na nota da MCR, pois teriam ignorado ofícios solicitando a realocação de pessoas em situação de rua que utilizam o local como moradia. Segundo o coletivo, devido ao “histórico violento para com a organização da batalha”, os moradores em situação de rua “inviabilizam a divisão territorial na quadra” sob o viaduto.

Também procurada pela Folha, a Prefeitura não se posicionou até o fechamento desta edição.