Cinema - O cineasta da crueldade Victor Sjöström
Os aficionados por cinema devem conhecer Victor Sjöström pelo papel do velho professor homenageado que desempenhou em “Morangos silvestres”, de Ingmar Bergman (1957). Os que assistem a filmes nas plataformas não devem conhecê-lo. E talvez nem queiram. Ele foi ator destacado e um dos fundadores do cinema sueco. Mais até: foi um grande cineasta. Nascido em 1879, ele morreu em 1960.
Sjöström valorizou muito as paisagens em seus filmes dirigidos na Suécia. Suas tomadas de mar, de caminhos arborizados e de montanhas são amplas e claras, com o ser humano como parte da natureza. Mas seus temas abordam a crueldade das pessoas e das instituições. Poucos filmes seus têm final feliz.
Com frequência, ele atuava nos filmes que dirigiu. Foi um dos mestres da fase muda do cinema. Seu primeiro filme data de 1912. Em 1913, ele lançou “Dia da margarida” (“Ingeborg Holm”). Tudo começa bem e termina muito mal. Uma família feliz de classe média espera um futuro luminoso, mas tudo muda. O marido morre repentinamente; a esposa entra em falência e recorre a um asilo. Seus três filhos são postos à adoção, e Ingeborg enlouquece. Nem todo filme da fase muda é comédia, como se pensa. Em “Ingeborg Holm”, as pessoas ricas, medianas e pobres são cruéis. As instituições são cruéis. O filme provocou grande debate na Suécia sobre a seguridade social.
Em “Terje Vigen”, de 1917, um homem feliz em família se torna um amargurado solitário. Passado no início do século XIX, quando a fome grassava nos países nórdicos, ele acaba preso nas guerras napoleônicas. Quando volta, sua mulher e sua filha estão mortas. Há vingança e perdão no final, mas eles não conseguem compensar a crueldade. “O fora da lei e sua mulher”, de 1917, é talvez o filme mais cruel do diretor. Ele se passa na Islândia e se baseia numa história real. Um foragido da Justiça emprega-se numa fazenda cuja dona era jovem, bela, rica e solteira. Ela se apaixona por ele. A polícia o persegue. O casal foge para as montanhas geladas. A mulher acaba matando o filho por piedade, e o amor do casal termina quando os dois enfrentam o frio do inverno e passam fome. Ambos morrem. “O monastério de Sendomir”, de 1920, é uma história de traição, tristeza e morte. “A carruagem fantasma” é, a rigor, um filme de terror sem causar medo no espectador. Infelicidade e redenção estão presentes. O sobrenatural cumpre papel importante. Sjöström exerce todo seu talento de diretor, usando flashback dentro de flashback, o que representou, na época, um avanço em termos de técnica cinematográfica. Aliás, ele dominava a técnica do flashback. “O monastério de Sendomir” começa com um religioso narrando a história do mosteiro a dois viajantes num longo flashback. E tudo termina mal, muito mal.
Sjöström foi convidado a trabalhar em Hollywood e passou a ser creditado como Victor Seastrom para facilitar. Dessa fase, conheço dois filmes. “Lágrimas de palhaço”, de 1924, segue sua linha de tristeza. É comum dizer-se que palhaço faz rir, mas é triste. Um cientista tem suas ideias e sua mulher roubadas por um nobre. Ele termina como palhaço de um circo. Mas, vinga-se no final. O filme tende a dramalhão. De 1928, é “Vento e areia” ou simplesmente “Vento”. Uma moça pobre e solitária tenta a vida no oeste norte-americano. O vento incessante é seu companheiro. Ela sofre na mão de um homem, que acaba matando. Bonita e solitária, ela é invejada pela esposa de seu primo. O vento é um constante perseguidor. Mas, ela se acostuma àquele ambiente. Depois de muito sofrer, ela consegue um pouco de alegria no casamento.
Mas, Sjöström não se acostumou a Hollywood, ao contrário de muitos outros europeus. Retornou à Suécia, onde morreu.