Cinema - Renovação para a Geração Alfa
Criadas em 1984 como uma sátira/homenagem aos quadrinhos de Frank Miller, “As Tartarugas Ninja” começaram como um quadrinho independente, violento e sombrio, que, com o sucesso da sua primeira edição, rapidamente se tornou um sucesso e, posteriormente, ganhou adaptações para outras mídias. Essa situação suavizou as histórias, tornando as aventuras mais acessíveis para públicos mais jovens, culminando em um enorme sucesso mundial na transição entre as décadas de 1980 e 1990.
Passadas quase quatro décadas, as tartarugas mais famosas da cultura pop estão de volta em uma nova animação, que conta uma nova origem e traz novos traços de personalidade para cada personagem, em uma aventura cheia de ação, com uma estética estilizada, que enriquece a experiência.
A nova aventura das Tartarugas Ninja reconta a origem dos personagens, sem acrescentar nada muito novo, mas traz mudanças mais significativas nas personalidades e nas relações, principalmente entre as tartarugas e o mestre Splinter.
Geralmente, as tartarugas são destacadas por um traço específico de personalidade que as difere das outras, e a soma dessas características fortalece o grupo. Ainda que esses traços surjam de forma mais suave aqui, o roteiro trabalha melhor a interação entre eles, tornando tudo mais uniforme.
O filme conta a história do grupo ainda no início das suas aventuras. A mistura de busca por aceitação social casa perfeitamente com os dilemas da adolescência. Tendo sido criados nos esgotos e tendo como referências do mundo externo conteúdos da TV e da internet, os personagens acabam trazendo diversas referências bem atuais da cultura pop, e a inexperiência no trabalho como heróis permite alguns dos momentos mais divertidos da animação.
Como personagens, chama a atenção como claramente as tartarugas trazem uma cultura urbana recorrente na história dos personagens, mas aqui apresentam detalhes de culturas populares nas periferias. É ma escolha acertada, que dialoga com um dos temas principais do filme. Essa característica se estende também ao grupo dos vilões, que, assim como os protagonistas, vivem à margem da sociedade.
O roteiro escrito por Seth Rogen e Evan Goldberg (dupla responsável por levar às telas os quadrinhos “Preacher” e “The Boys”) conecta a origem dos heróis com a dos vilões e traz o embate entre eles em uma situação curiosa, já que ambos compartilham do mesmo desejo, mas diferem nos métodos para conseguirem ser aceitos pelo mundo.
Um dos personagens que mais sofreram mudanças é o mestre Splinter. Sai o rato recluso, com ares de mestre oriental, e surge o paizão, preocupado com a segurança dos filhos e que, devido aos seus traumas, exclui os filhos do mundo, em uma situação delicada, entre a segurança e a exclusão social, sendo esse um dos temas mais trabalhados pelo filme.
O humor característico dos personagens está presente, assim como uma trilha sonora repleta de sucessos, que, curiosamente, traz músicas de diferentes épocas, fugindo um pouco das referências atuais. Esse humor adolescente não funciona sempre, sendo o exagero um dos pontos fracos do filme.
A animação traz um estilo similar ao que se popularizou com o estrondoso sucesso de “Homem Aranha no Aranhaverso”. O fato de serem duas histórias que se passam em Nova York, cria mais uma conexão entre as obras. Ainda que não seja visualmente tão energético e deslumbrante quanto ao filme mencionado, o estilo casa bem com a aventura e traz algumas referências ao estilo original dos quadrinhos.
Divertido e estiloso, o filme “As Tartarugas Ninja: Caos Mutante” busca uma renovação através de uma conexão visual e temática com um público mais adolescente, por meio da atualização de alguns elementos da origem dos personagens. A abordagem funciona e, se não ousa muito, consegue fazer o que as tartarugas sempre tiveram de melhor, que é divertir.