Idas e vindas...
Nada na minha vida se compara, em intensidade, ao amor que recebi da minha avó Nicota, que era idolatrada por mim.
Crônica de Julieta Vianna publicada no blog Dijaojinha, em 2012:
Nada na minha vida se compara, em intensidade, ao amor que recebi da minha avó Nicota, que era idolatrada por mim.
Ela era simples e sábia no viver. Dela ouvi historinhas como a da formiga que, num amanhecer de inverno rigoroso encontrou em seu pezinho uma gota de orvalho congelada que imediatamente foi por ela classificada como um anel de brilhante, cujo encantamento se desvaneceu com o surgimento dos raios de sol. Desiludida e intrigada dirigiu-se ao sol perguntando:
“Oh sol! Quem és tu que vens derreter o anelzinho que meu pé prende?” O sol lhe respondeu: “Não é minha culpa, mas sim da nuvem que me encobria e se deslocou pra outras bandas.”
Lá foi a formiga perguntar à nuvem: “Oh nuvem! Quem és tu que descobriste o sol, que derreteu o anelzinho que meu pé prende?”
E a nuvem respondeu: “Não é minha culpa, mas sim do vento, que soprou empurrando-me pras bandas de lá”.
E ela se dirigiu ao vento, perguntando: “Oh vento! Quem és tu, que empurraste a nuvem que encobria o sol que derreteu o anelzinho que meu pé prende?” E assim sucessivamente...
Pela vida afora foram tantas as vezes que vi o sol derreter o anelzinho que meu pé prendia!!! E lá estava minha avó a me ensinar que este mesmo sol destruidor de ilusões nos trazia luz e calor, em ciclos alternados e intermináveis.
E foi assim que comecei a entender que a vida da gente é cheia de idas e vindas, desencantos e encantamentos imponderáveis.
Que muitos aneizinhos virão e sua permanência em nossos dedos dependerá da maneira como os protegeremos do sol, dos ventos, das nuvens, dos ciclos, das marés e das adversidades da vida.