A encruzilhada democrata e o bombardeio de inverdades
“Bad debate nights happen. Trust me, I know”. Traduzindo: “Noites ruins de debate acontecem. Confie em mim, eu sei”. Foi assim que o ex-presidente Barack Obama iniciou a defesa de Joe Biden na última sexta, em seu perfil no X (antigo Twitter). Obama disse ainda, que o “povo americano” deve escolher “alguém que diz a verdade; que sabe distinguir o certo do errado”.
Embora o ex-presidente esteja evidentemente certo, deve-se votar em quem diz a verdade, a escolha do candidato, em eleições em qualquer lugar do mundo, traz consigo uma boa dose de emoção. E mesmo se não trouxesse, a razão também iria atrapalhar um americano que optasse por manter Biden na Casa Branca por mais quatro anos.
O debate não foi ruim para os Democratas. Foi desastroso. Revelou para quem assistiu um Biden sem condições de ocupar uma das cadeiras mais poderosas — e pesadas — do mundo. Não se trata de idade. A diferença entre Trump e Biden é de apenas três anos. O problema é que os 81 anos do candidato democrata parece ter afetado sobremaneira sua cognição e capacidade física. O constante olhar perdido, a voz muito rouca, o andar arrastado, as frases não terminadas; um político senil, ou que aparenta senilidade.
O debate foi realizado mais cedo que o usual, e a ideia era mesmo testar o Biden e as reações do eleitor. Teste feito, reações as piores, e os democratas têm um pepino de difícil digestão para resolver. Trocar o candidato parece ser o mais prudente, mas se trata do presidente, em exercício pleno de seus poderes.
O problema de fundo é ainda mais complexo. Trata-se da importância atual da verdade na política — não só nela, como em outros campos da vida social. As chamadas fake news não são novidades, desde o sofismo, que profissionalizou a humana capacidade de mentir descaradamente. Mas vivemos sob o domínio de uma forma instantânea e global de comunicação, que potencializa os resultados de uma mentira e bombardeia a repercussão dela. E estamos sem a égide da legitimidade da verdade.
A estratégia do candidato republicano parece ser o bombardeio. Trump mente, e mente repetidamente, com a energia e convencimento de um comunicador nato. Mesmo que sofisticados sistemas de fact-checking (outro termo anglo-saxão para definir algo repaginado que sempre existiu: a checagem de informações) façam os contrapontos, o receptor da mensagem já absorveu a informação inverídica. E quando deparado com a verdade checada, pode ser tarde demais.
O mundo precisa encontrar formas de conter essas falhas. Que tem o potencial, assim como as geológicas, de rachar a terra. Definir se extremismos são causa ou consequência dessas rachaduras nas democracias, é preciso ainda se aprofundar nesse terreno. Mas os megaterremotos, como os que podem atingir o oeste americano a partir da famosa falha de San Andreas, já estão entre nós.
“Bad debate nights happen. Trust me, I know”. Traduzindo: “Noites ruins de debate acontecem. Confie em mim, eu sei”. Foi assim que o ex-presidente Barack Obama iniciou a defesa de Joe Biden na última sexta, em seu perfil no X (antigo Twitter). Obama disse ainda, que o “povo americano” deve escolher “alguém que diz a verdade; que sabe distinguir o certo do errado”.
Embora o ex-presidente esteja evidentemente certo, deve-se votar em quem diz a verdade, a escolha do candidato, em eleições em qualquer lugar do mundo, traz consigo uma boa dose de emoção. E mesmo se não trouxesse, a razão também iria atrapalhar um americano que optasse por manter Biden na Casa Branca por mais quatro anos.
O debate não foi ruim para os Democratas. Foi desastroso. Revelou para quem assistiu um Biden sem condições de ocupar uma das cadeiras mais poderosas — e pesadas — do mundo. Não se trata de idade. A diferença entre Trump e Biden é de apenas três anos. O problema é que os 81 anos do candidato democrata parece ter afetado sobremaneira sua cognição e capacidade física. O constante olhar perdido, a voz muito rouca, o andar arrastado, as frases não terminadas; um político senil, ou que aparenta senilidade.
O debate foi realizado mais cedo que o usual, e a ideia era mesmo testar o Biden e as reações do eleitor. Teste feito, reações as piores, e os democratas têm um pepino de difícil digestão para resolver. Trocar o candidato parece ser o mais prudente, mas se trata do presidente, em exercício pleno de seus poderes.
O problema de fundo é ainda mais complexo. Trata-se da importância atual da verdade na política — não só nela, como em outros campos da vida social. As chamadas fake news não são novidades, desde o sofismo, que profissionalizou a humana capacidade de mentir descaradamente. Mas vivemos sob o domínio de uma forma instantânea e global de comunicação, que potencializa os resultados de uma mentira e bombardeia a repercussão dela. E estamos sem a égide da legitimidade da verdade.
A estratégia do candidato republicano parece ser o bombardeio. Trump mente, e mente repetidamente, com a energia e convencimento de um comunicador nato. Mesmo que sofisticados sistemas de fact-checking (outro termo anglo-saxão para definir algo repaginado que sempre existiu: a checagem de informações) façam os contrapontos, o receptor da mensagem já absorveu a informação inverídica. E quando deparado com a verdade checada, pode ser tarde demais.
O mundo precisa encontrar formas de conter essas falhas. Que tem o potencial, assim como as geológicas, de rachar a terra. Definir se extremismos são causa ou consequência dessas rachaduras nas democracias, é preciso ainda se aprofundar nesse terreno. Mas os megaterremotos, como os que podem atingir o oeste americano a partir da famosa falha de San Andreas, já estão entre nós.