Tarcísio de Freitas é moderado ou correrá atrás de uma ema com uma caixa de cloroquina?
Edmundo Siqueira 18/06/2024 21:06 - Atualizado em 18/06/2024 21:06
Imagem gerada por IA, feita por Edmundo Siqueira
A direita precisa de um nome. E não apenas a nomeação de um candidato nacional, mas precisa de um adjetivo para que duas coisas aconteçam: o afastamento do bolsonarismo radical e a vitória nas eleições de 2026.

Tentou-se o termo “bolsonarismo moderado”. Não colou. Além de ficar parecendo que é um bolsonarismo envergonhado e não moderado, ainda deixa na mão de um personagem o protagonismo. Ainda permite que Bolsonaro, e somente ele, defina quem será o nome à direita no palanque presidencial.

Há o sempre batido “centro-direita”. Além de desgastado, a colocação no campo do centrismo permite alianças que a direita não está disposta a fazer. Há um suposto ganho de neutralizar o campo centrista, mas é um terreno político de pouca expressão no país, uma vez que ele não se confunde com o “Centrão”, que é um grupo fisiológico, sem ideologia e disposto a qualquer aliança para se manter no poder dos bastidores e do dinheiro.

Nesta terça (18), falando à rádio CBN, Lula parece ter definido seu adversário para 2026: Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. Tarcísio não nega ser bolsonarista, mas claramente tenta se afastar dos radicais. Foi chamado ao PL — partido de Bolsonaro e presidido pelo histriônico Valdemar Costa Neto —, mas decidiu ficar no Republicanos.

Na CBN, Lula disse que “se for necessário ser candidato para evitar que os trogloditas que governaram voltem, eu serei candidato”. E se mostrou bastante chateado com a proximidade do governador paulista com Campos Neto, presidente do Banco Central.

“[Tarcísio] tem mais [poder] que eu. Não é que ele [Campos Neto] encontrou com Tarcísio numa festa. A festa foi para ele, foi homenagem do Governo de São Paulo para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de juros de 10,5%”.

TON MOLINA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Tarcísio e a escolha da direita —
Embora alas do PT discordem da eleição precoce de Tarcísio como adversário de Lula, explicitada pelo presidente da República na CBN, alguns setores da sociedade parecem gostar da ideia de ter o governador de São Paulo como opção.


Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Campos Neto jantou com o governador na casa do apresentador Luciano Huck, foi homenageado em outro jantar, no Palácio dos Bandeirantes, e sinalizou a Tarcísio que aceita ser seu ministro da Fazenda caso ele seja eleito presidente da República. O governador convidou alguns aliados, banqueiros e empresários. Campos Neto também levou sua família ao encontro.

A direita moderada, a centro-direita, ou a direita liberal, parece gostar da ideia de Tarcísio disputando com Lula em 2026, e quer cacifar o governador de São Paulo para isso, inclusive moderando seu discurso e suavizando suas questões mais ideológicas.

A questão é combinar com os russos, que nesse caso estão entrincheirados no bolsonarismo. Em propaganda partidária recente, o presidente do PL disse com todas as letras que o candidato do partido em 2026 será Bolsonaro, e caso não seja possível, pela sua inelegibilidade atual, caberá a ele, Bolsonaro, escolher quem será o candidato e o vice.

O ex-presidente de fato ainda detém o poder de decidir qual candidato será viável pelo campo da direita. A sua desaprovação a qualquer nome que se coloque ainda é decisiva, com potencial de esvaziamento de apoios políticos e de votos. Em outras palavras: à preço de hoje, Bolsonaro pode minar qualquer candidatura de direita.

O que está se precificando é até quando um candidato de direita pode se aliar ao bolsonarismo raiz, qual o custo-benefício de um candidato “moderado” assumir certas pautas para agradar esse campo. Costumes, negacionismo científico e climático, contestação do sistema eleitoral e ataques ao STF podem sair mais caros no próximo pleito presidencial.

Ainda é cedo, mas 2026 é logo ali. Direita e esquerda já precisam ir definindo seus nomes, e caso tenham aprendido com os erros, saberão que a desastrosa condução da pandemia por Bolsonaro e o desastre econômico do Dilma II, provocaram derrotas importantes para seus campos políticos.

Talvez Tarcísio não corra atrás de uma ema com uma caixa de cloroquina.

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