Cachaça de São Fidélis homenageia casarão em que Euclides da Cunha morou na infância
Inexistente desde 1978, o Solar dos Garcez ficou marcado como um símbolo da relação do escritor Euclides da Cunha com o município de São Fidélis. Foi lá que o autor de "Os Sertões" viveu alguns anos da infância, recebendo da tia Laura Moreira Garcez parte da sua criação. Agora, mais de 45 anos após desabar, o histórico casarão foi lembrado no rótulo de uma cachaça artesanal, nomeada como Fazenda São Joaquim em alusão às terras onde o solar ficava situado, na região da localidade de Valão dos Milagres.
A ideia de homenagear o Solar dos Garcez e a Fazenda São Joaquim partiu do empresário Flavio Berriel, neto e sobrinho-neto dos últimos donos da fazenda enquanto o casarão ainda existia. Não foi Flavio quem produziu a cachaça, comprada de um vendedor da localidade de Boa Esperança, também em São Fidélis. Porém, partiu dele o processo de maturação, armazenando a bebida em barris de carvalho francês. O processo de envelhecimento durou cerca de um ano, numa temperatura em torno de 20ºC, sendo realizado tanto nas terras da família, em Valão dos Milagres, quanto na cidade de Niterói, onde mora o empresário.
Segundo Flavio, sua cachaça artesanal possui 38% de teor alcóolico. As primeiras remessas estão sendo destinadas apenas a familiares e amigos, mas em breve a bebida também deve ser comercializada.
História — Natural de Cantagalo, na Região Serrana do Rio de Janeiro, Euclides da Cunha foi levado para São Fidélis após duas perdas familiares. A primeira foi a de Eudóxia Moreira da Cunha, mãe do escritor, que na época tinha apenas três anos. Menos de dois anos depois, quem faleceu foi Rosinda Gouveia, tia com quem o menino passara a morar, em Teresópolis. Só então o pai de Euclides, Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha, o levou para morar com a tia Laura Moreira Garcez, casada com o coronel da Guarda Nacional José Antônio de Magalhães Garcez. Foi no Solar dos Garcez que Euclides teve a sua primeira escrivaninha, relíquia não mais pertencente à família. Também há relatos de que, na mesma fazenda, ele subia em uma velha pitangueira para discursar ao gado.
Em cronologia disponibilizada no portal Euclidesite, consta que Euclides da Cunha morou no Solar dos Garzes de 1871 a 1874, portanto, dos cinco aos nove anos de idade. Depois, teria se mudado definitivamente para a casa dos tios na sede de São Fidélis, onde estudou no Colégio Caldeira. Há quem indique, porém, que o período vivido por Euclides na Fazenda São Joaquim foi maior, durando até completar 12 anos. É o que defende o pesquisador fidelense Marcel Sepúlvida, atualmente finalizando o livro "Euclydes da Cunha - A história que faltava", sobre a — pouco explorada — infância do famoso escritor. Pesquisadores também apontam que, já adulto, Euclides retornou ao Solar dos Garcez para visitar parentes e descansar da rotina urbana.