Felipe Fernandes - Thriller desconstruído
Filme: A garota da vez - Baseado em uma história real, o filme de estreia da atriz Anna Kendric na direção é um thriller que trabalha dois personagens que eventualmente vão se cruzar por acaso em um programa de tv sobre relacionamentos. Mas o longa vai além, ao trabalhar diferentes momentos em uma linha temporal que não segue uma ordem cronológica, o longa desconstrói o thriller padrão e busca mais que contar a história dos dois personagens, ou justificar suas ações, mas subverter a narrativa, para revelar a natureza machista de uma sociedade em que as mulheres precisam se adaptar para sobreviver.
Logo de cara, somos apresentados a Rodney (Daniel Zovatto), um fotógrafo que convence mulheres em momentos de fragilidade a posarem para suas lentes e consequentemente serem mortas por ele. Kendric demonstra um timing interessante para o suspense, construindo uma tensão forte, sem precisar de muitos truques, retratando a violência de forma indireta, já que nunca vemos os assassinatos de fato, mas nos é apresentado o suficiente para que possamos preencher as lacunas dos ataques.
O longa nunca busca justificar ou apresentar uma realidade para o assassino. Sempre que o vemos, ele está em seu momento de ataque. Nesse sentido, a atuação de Zovatto é muito eficiente, já que ele consegue transitar com desenvoltura entre a estranheza, a compreensão e a violência.
O roteiro de Ian McDonald é bem sucinto, entrega detalhes em pequenos diálogos. Nesse sentido, o filme também trabalha na construção social opressora em que vivem as mulheres. As vítimas de Rodney são uma mãe solo, abandonada pelo parceiro, uma aeromoça com uma vida independente e uma jovem órfã, que relata ter tido sua vida totalmente afetada pela ausência do pai. Um sentimento que aparentemente é compartilhado pelo assassino.
A própria Sheryl (Anna Kendric) é uma jovem atriz, que busca se destacar pelo seu talento, passando por testes de elenco vexatórios, onde seu corpo é constantemente analisado, tendo suas qualidades como atriz sendo deixadas em segundo plano. A personagem é a única que ganha um background, que reforça a natureza machista de uma Hollywood setentista, onde o papel da mulher ainda era (e ainda é), muito ligado a sua beleza física.
O extremo dessas relações abusivas contra as mulheres, reside no fato de que um assassino não muito cuidadoso como Rodney, anda livremente e segue fazendo vítimas, mesmo com diferentes denúncias, nunca de fato apuradas pela polícia, que de forma assustadora as negligência. Chegando ao cúmulo do assassino se expor em rede nacional, em um programa de auditório sobre relacionamentos. Um fato real que beira a ficção.
Em uma sociedade em que as mulheres vivem desamparadas, é o cenário perfeito para que predadores como Rodney encontre suas vítimas, sempre mulheres em um momento de fragilidade, onde as palavras certas, uma câmera e a valorização de sua beleza, são elementos suficientes para que ele se aproxime delas.
Essa desconstrução de thriller pode incomodar pela falta de um clímax narrativo clássico. Daqueles que te deixam grudado na cadeira. O filme tem esses momentos, mas não exatamente em seu desfecho. A construção dessa rede social, onde a mulher é marginalizada em diferentes esferas, é o grande ponto do longa, que permite que um assassino violento ande pelas ruas, enquanto mulheres são aleatoriamente mortas.
O thriller se torna uma filme denúncia, em que o estudo de personagem comum ao gênero, dá lugar a uma retratação da sociedade da época, que ecoa nos dias de hoje (basta ver a quantidade de feminicídios relatadas diariamente), tornando o longa atual e comprovando que a mulher segue uma constante luta para perseverar e sobreviver a deturpação de sua imagem, sonhos e desejos.
Logo de cara, somos apresentados a Rodney (Daniel Zovatto), um fotógrafo que convence mulheres em momentos de fragilidade a posarem para suas lentes e consequentemente serem mortas por ele. Kendric demonstra um timing interessante para o suspense, construindo uma tensão forte, sem precisar de muitos truques, retratando a violência de forma indireta, já que nunca vemos os assassinatos de fato, mas nos é apresentado o suficiente para que possamos preencher as lacunas dos ataques.
O longa nunca busca justificar ou apresentar uma realidade para o assassino. Sempre que o vemos, ele está em seu momento de ataque. Nesse sentido, a atuação de Zovatto é muito eficiente, já que ele consegue transitar com desenvoltura entre a estranheza, a compreensão e a violência.
O roteiro de Ian McDonald é bem sucinto, entrega detalhes em pequenos diálogos. Nesse sentido, o filme também trabalha na construção social opressora em que vivem as mulheres. As vítimas de Rodney são uma mãe solo, abandonada pelo parceiro, uma aeromoça com uma vida independente e uma jovem órfã, que relata ter tido sua vida totalmente afetada pela ausência do pai. Um sentimento que aparentemente é compartilhado pelo assassino.
A própria Sheryl (Anna Kendric) é uma jovem atriz, que busca se destacar pelo seu talento, passando por testes de elenco vexatórios, onde seu corpo é constantemente analisado, tendo suas qualidades como atriz sendo deixadas em segundo plano. A personagem é a única que ganha um background, que reforça a natureza machista de uma Hollywood setentista, onde o papel da mulher ainda era (e ainda é), muito ligado a sua beleza física.
O extremo dessas relações abusivas contra as mulheres, reside no fato de que um assassino não muito cuidadoso como Rodney, anda livremente e segue fazendo vítimas, mesmo com diferentes denúncias, nunca de fato apuradas pela polícia, que de forma assustadora as negligência. Chegando ao cúmulo do assassino se expor em rede nacional, em um programa de auditório sobre relacionamentos. Um fato real que beira a ficção.
Em uma sociedade em que as mulheres vivem desamparadas, é o cenário perfeito para que predadores como Rodney encontre suas vítimas, sempre mulheres em um momento de fragilidade, onde as palavras certas, uma câmera e a valorização de sua beleza, são elementos suficientes para que ele se aproxime delas.
Essa desconstrução de thriller pode incomodar pela falta de um clímax narrativo clássico. Daqueles que te deixam grudado na cadeira. O filme tem esses momentos, mas não exatamente em seu desfecho. A construção dessa rede social, onde a mulher é marginalizada em diferentes esferas, é o grande ponto do longa, que permite que um assassino violento ande pelas ruas, enquanto mulheres são aleatoriamente mortas.
O thriller se torna uma filme denúncia, em que o estudo de personagem comum ao gênero, dá lugar a uma retratação da sociedade da época, que ecoa nos dias de hoje (basta ver a quantidade de feminicídios relatadas diariamente), tornando o longa atual e comprovando que a mulher segue uma constante luta para perseverar e sobreviver a deturpação de sua imagem, sonhos e desejos.