Felipe Fernandes - Fogo, trauma e salvação
Filme: Abraço de mãe - "A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido".
Essa é uma das definições mais famosas do escritor H.P.Lovecraft sobre o gênero terror. Se antigamente as narrativas de terror trabalhavam geralmente um terror vindo de um local distante ou desconhecido, com o passar dos anos e a popularização do gênero, ele saiu do castelo da Europa e passou a habitar a casa ao lado.
Esse movimento de aproximação ganhou novos contornos com o terror contemporâneo, trazendo aspectos pessoais, psicológicos e traumas como fomentadores de suas narrativas.
Uma das principais características de “Abraço de mãe”, produção nacional que chegou recentemente a Netflix, é agregar diferentes características do gênero, para construir uma narrativa repleta de simbolismos e metáforas, que trabalha os traumas e aspectos psicológicos, misturando elementos que vão desde o cinema de John Carpenter, ao horror cósmico do já citado Lovecraft.
Partindo de um flashback que mostra a infância da protagonista, na noite que lhe gerou um grande trauma, o filme começa a dar suas cartas de forma aparentemente desconexa e sugestiva, não buscando mastigar tudo para o espectador.
Essa sequência é de suma importância para o desenvolvimento da trama e da personagem, sendo revisitado em outros momentos.
A história se passa em 1996 e traz a protagonista Ana como uma bombeira, uma escolha de profissão curiosa, já que seu trauma de infância está fortemente ligado a um incêndio.
Se utilizar de uma das piores enchentes da história do Rio de Janeiro, funciona para situar histórica e geograficamente a obra, mas não passa disso, já que ao se limitar em um único ambiente, os efeitos da chuva são pouco explorados.
O asilo situado em São Cristovão é um caso aparte. Os pacientes do asilo não querem ser resgatados. Pessoas de diferentes nacionalidades e figurinos de diferentes épocas transitam pela casa, tornando a natureza daquele local intrigante, já que quando a protagonista indaga sobre o asilo, uma das donas do local responde que ali é um templo.
O design de produção e a fotografia são muito bem sucedidos na construção de uma atmosfera angustiante, trabalhando pouca luz e com ambientes decrépitos, sem apostar no susto fácil, mas na ambientação que torna tudo mais estranho.
Conforme a narrativa se desenvolve, novos elementos vão construindo essa mistura de gêneros do horror, revelando a verdadeira natureza do asilo e do segredo que habita o local, misturando aspectos de uma seita com uma criatura lovecraftiana, se conectando com os traumas do passado que a protagonista luta para superar.
A chegada de uma menina, torna tudo ainda mais intenso. Funcionando narrativamente como um duplo de Ana, ela se torna não só a grande motivação da protagonista, mas o ponto de virada na relação dela com seu trauma, construindo um laço materno ainda inédito para ela.
O filme constrói uma mitologia interessante, mas desenvolve pouco todos os elementos. Não ficar explicando tudo o que acontece é uma qualidade da obra, mas ao não desenvolver essa mitologia, o filme perde muito.
O resultado final é bem positivo. Se não é original, ao menos tem alguma personalidade. O desfecho anticlimático e a falta de explicação podem incomodar o espectador mais preguiçoso. Pra quem buscar se aprofundar nos símbolos, pode ter uma experiência mais intensa e recompensadora.
Essa é uma das definições mais famosas do escritor H.P.Lovecraft sobre o gênero terror. Se antigamente as narrativas de terror trabalhavam geralmente um terror vindo de um local distante ou desconhecido, com o passar dos anos e a popularização do gênero, ele saiu do castelo da Europa e passou a habitar a casa ao lado.
Esse movimento de aproximação ganhou novos contornos com o terror contemporâneo, trazendo aspectos pessoais, psicológicos e traumas como fomentadores de suas narrativas.
Uma das principais características de “Abraço de mãe”, produção nacional que chegou recentemente a Netflix, é agregar diferentes características do gênero, para construir uma narrativa repleta de simbolismos e metáforas, que trabalha os traumas e aspectos psicológicos, misturando elementos que vão desde o cinema de John Carpenter, ao horror cósmico do já citado Lovecraft.
Partindo de um flashback que mostra a infância da protagonista, na noite que lhe gerou um grande trauma, o filme começa a dar suas cartas de forma aparentemente desconexa e sugestiva, não buscando mastigar tudo para o espectador.
Essa sequência é de suma importância para o desenvolvimento da trama e da personagem, sendo revisitado em outros momentos.
A história se passa em 1996 e traz a protagonista Ana como uma bombeira, uma escolha de profissão curiosa, já que seu trauma de infância está fortemente ligado a um incêndio.
Se utilizar de uma das piores enchentes da história do Rio de Janeiro, funciona para situar histórica e geograficamente a obra, mas não passa disso, já que ao se limitar em um único ambiente, os efeitos da chuva são pouco explorados.
O asilo situado em São Cristovão é um caso aparte. Os pacientes do asilo não querem ser resgatados. Pessoas de diferentes nacionalidades e figurinos de diferentes épocas transitam pela casa, tornando a natureza daquele local intrigante, já que quando a protagonista indaga sobre o asilo, uma das donas do local responde que ali é um templo.
O design de produção e a fotografia são muito bem sucedidos na construção de uma atmosfera angustiante, trabalhando pouca luz e com ambientes decrépitos, sem apostar no susto fácil, mas na ambientação que torna tudo mais estranho.
Conforme a narrativa se desenvolve, novos elementos vão construindo essa mistura de gêneros do horror, revelando a verdadeira natureza do asilo e do segredo que habita o local, misturando aspectos de uma seita com uma criatura lovecraftiana, se conectando com os traumas do passado que a protagonista luta para superar.
A chegada de uma menina, torna tudo ainda mais intenso. Funcionando narrativamente como um duplo de Ana, ela se torna não só a grande motivação da protagonista, mas o ponto de virada na relação dela com seu trauma, construindo um laço materno ainda inédito para ela.
O filme constrói uma mitologia interessante, mas desenvolve pouco todos os elementos. Não ficar explicando tudo o que acontece é uma qualidade da obra, mas ao não desenvolver essa mitologia, o filme perde muito.
O resultado final é bem positivo. Se não é original, ao menos tem alguma personalidade. O desfecho anticlimático e a falta de explicação podem incomodar o espectador mais preguiçoso. Pra quem buscar se aprofundar nos símbolos, pode ter uma experiência mais intensa e recompensadora.