José Eduardo Pessanha: Tempo... Irresistível e irrefreável tempo
José Eduardo Pessanha - Atualizado em 05/05/2024 11:39
José Eduardo Pessanha
José Eduardo Pessanha / Foto: Reprodução
O tempo, que a tudo acalma e contorna, tem nuanças diferenciadas em cada fase de nossa vida; na verdade, nossas existências (terrenas) são apenas um átimo de tempo, pois nas brumas do tempo, nosso tempo é apenas um neutrino de tempo.
Na infância, o tempo, generoso, nos estressa em sua mansidão e indolência, pois, aos olhos impúberes, a busca pela potencialidade da fase adulta, nos faz perder um precioso tempo de nos apercebemos de nossa revigorante e saudosa infância. As crianças, ávidas em crescer, desejam perpassar o fundamental tempo com a velocidade do som, buscando uma capacidade hercúlea que, talvez, nunca venha a aportar.
A adolescência, fase da vida que quase todos adultos “esqueceram”, pois, invariavelmente, um “maduro” pouco se lembra dos desatinos e arroubos de sua adolescência, sendo mais fácil – e prático, criticar os atuais mancebos, sem fazer um mea culpa por condutas, muito das vezes, bem assemelhadas (ou piores). Na necessidade de urgência que todo adolescente possui, onde o amanhã não existe e tudo deve ser “para hoje”, o tempo é um empecilho por sua, ainda, letargia, pois o adolescente busca o tempo que urge e não o tempo que contempla. Nesta fase, os superpoderes que todos adolescentes acreditam possuir são usados para tentar driblar o tempo e usarem em façanhas de pseudo adultos. Mas como tudo no tempo, este tempo também passará, afinal o tempo é como um rio, que corre em um sentido apenas e direto para a imensidade do oceano do infinito.
Nesta fase final de efebo, de forma interessante, um fenômeno costuma surgir, pois neste hiato entre a adolescência e, talvez, uma pré fase adulta, costuma coincidir, exatamente, com aquele famigerado “momento pré vestibular”, onde o individuo que achava que tinha todo tempo do mundo, descobre, sem mais, nem menos, que “deve” optar por uma direção, leia-se carreira, que poderá “engessar” todo seu futuro. Neste momento, apavorados, descobrem a primeira nuança devoradora do tempo – ele não faz prévios avisos... simplesmente...chega!
Assim, num misto de inconveniência, por um tempo que acaba de fulminar as irreverências e descompromissos da infância e as aventuras irresponsáveis (e memoráveis) da adolescência, o tempo cobra uma decisão, séria, definidora de rumos, algo que o adolescente nunca, via de regra, tinha se preparado para tomar. Surgem então noites mal dormidas, depressões, crises de ansiedades e outras mazelas que o tempo também pode agravar. Mas... o tempo segue... e queiramos ou não, decisões precisam ser tomadas... ou não!
Assim, sem mais perceber, começamos a pensar no futuro, em família, em trabalho/carreira, em geratividade, ou seja, como seremos amanhã. Essa é uma típica preocupação “adulta”. Neste primeiro momento, ainda acreditando ter “muito” tempo, os jovens adultos entendem que ainda estão no direito de errar, claudicar, trocar caminhos, em peripécias que, mais adiante, verão que, em muitas ocasiões, o tempo não perdoa.
Com a fase adulta advém um momento obscuro de vivência, onde submergimos nos projetos, trabalhos, relações conjugais imobilizadas (e, as vezes, infelizes), em uma típica “idade média” da existência, onde, somente após, vamos realizar, em flashbacks, uma análise de tudo que, simplesmente, deixamos de conhecer porque não “olhamos para o lado”. Mais ai...o tempo já acelera...começa a aparentar ser um bólido... neste momento, sinceramente, inicia-se a saga do tempo nos incomodando por sua celeridade. Já começamos antever a fase final da vida e promover impropérios pelas rotas equivocadas que foram singradas, quase sempre em mares revoltos. Alguns projetos já não cabem mais... no tempo... outros, bem... já não há mais tempo.
Assim, sem que nos apercebamos... ingressamos em uma fase de reavaliação, estudo e de cátedra, tentando repassar aos mais jovens aquilo que somente agora a “sabedoria do tempo” nos trouxe. Mas assim como nós, os jovens estão em outro tempo (o tempo “deles”), logo, nada nos ouvirão! Agora o tempo voa à velocidade da luz... a luz que caminha para a eternidade, a luz que em breve ultrapassara a portão desta existência... já não há mais tempo... não nesta passagem. O que nos resta é saber, que assim como o tempo infinito, nossa essência é eterna e em algum momento nos encontraremos, novamente, com o tempo, em um tempo onde o tempo já não será tão cruel... em verdade, seremos como o tempo... perpétuos. Resta-nos contemplar a existência!
 

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