José Eduardo: A preparação obrigatória para a aposentadoria
José Eduardo Pessanha - Atualizado em 07/11/2023 16:44
José Eduardo  Advogado e professor universitário
José Eduardo Advogado e professor universitário
Na área da psicologia cognitivo-comportamental, notadamente em nossa região, com o advento de inúmeros planos de demissões voluntárias de grandes empresas, especialmente da Petrobras, há um crescimento importante dos pacientes na faixa etária dos 55 anos aos 65 anos, oriundos destes planos que, por não planejarem as novas etapas de suas vidas, mergulham nas crises de ansiedade e nos transtornos depressivos, em muitos casos um transtorno misto ansioso-depressivo. Assim, a procura aos consultórios especializados anda “em alta”!
Pessoas que trabalharam durante décadas a fio e sonharam com a aposentadoria esperavam ter tempo de sobra para viagens, relaxamentos, ócio, esquecendo-se que saúde, principalmente a mental, requer uma atividade constante e condizente. É natural que, prestes a ingressar na inatividade laboral, o individuo planeje meses de viagens, gastos com produtos de consumo ou mesmo dar vazão a outros desejos contidos, mas é importante entender que a “vida continua”, sendo certo esse momento de êxtase pela inatividade é provisório, e a vida voltará aos eixos normais, com o restante da família com suas atividades ou mesmo com a necessidade de ocupação do tempo. Não é incomum que o individuo, passados os primeiros meses, se torne uma espécie de “faz tudo” de sua residência, com afazeres que não lhe eram naturais, ocupando o tempo com tarefas, que, nos mais das vezes, sequer lhe apetecem. Em verdade, quando a aposentadoria aparece no horizonte, é necessário um planejamento para que novas habilidades sejam destacadas ou mesmo ofícios que há muito eram queridos, mas que a exiguidade do tempo não permitia.
Dois tipos de problemas são comuns e catalisam a ocorrência de tais transtornos: os investimentos mal feitos, com o numerário da indenização, em bens ou serviços que, além de não serem lucrativos, geram despesas, tais como aquisição de caríssimos veículos, imóveis desnecessários ou mesmo sítios e fazendas, que são imóveis que demandam muito investimento adaptativo até estarem auto suficientes. O outro problema é a normal diminuição, no mais das vezes, dos valores recebidos na aposentadoria, eis que na ativa o individuo tinha premiações, adicionais, salários extras, horas extras, etc. e que na inatividade, via de regra, salvo exceções, os proventos tem diminuições, pois todas as parcelas transitórias e acessórias são suprimidas, além de muitos estarem sujeitos a “tetos” que limitam o recebimento dos valores dos proventos de aposentadoria.
Assim, uma aposentadoria mal planejada, pode levar o cidadão a descobrir, em pouco tempo, que sua vida ingressou numa espiral de orçamento restrito, com dificuldades de cumprir compromissos (muitos que outrora cumpria, com facilidade) ou mesmo de honrar com as despesas básicas de seu patrimônio. Ato contínuo, surge a sensação de “arrependimento” de ter aposentado (muitos retornam a trabalhar em condições inferiores à anterior!) e, logo após, um sentimento de impotência, de inutilidade ou mesmo de desesperança. Tais sentimentos desencadeiam e esboçam, quase que certamente, transtornos depressivos de menor ou maior gravame, podendo gerar até, em vários casos, a ideação suicida. Preparar-se para aposentadoria não significa ingressar no ócio, mas sim concluir uma etapa laboral sem que, necessariamente, o trabalho seja posto de lado, propiciando que o individuo possa exercitar novas valências, como ingressar em novos cursos ou universidades, devotando seu tempo ao conhecimento e afazeres que deem prazer, não mais na busca diária do sustento, mas na busca pela educação, cultura e porque não, novos rendimentos.
Um fato prioritário para um planejamento de aposentadoria saudável é a participação da família efetiva. Destacamos efetiva, porque em muitos casos, a filiação já está com seus projetos próprios de vida e não mais fazem parte, diretamente, deste momento ou fase. Abrimos um alerta para destacar que muitos aposentados passam a ter obrigações com os custos e compromissos próprios dos filhos, logo, aposentar-se para arcar com ônus natural dos filhos (e suas novas famílias) é um passo quase certo para a depressão, até porque cada indivíduo deve ser responsável por suas escolhas. Assim, o cidadão que irá se aposentar deve levar seus projetos a(o) companheira(o), de forma que haja uma comunhão de interesses e a execução do planejamento possa ser mais prazerosa.
Em verdade deve-se entender que a aposentadoria não é um atestado de incapacidade ou de vida cumprida, mas apenas o final de uma fase e o início de uma nova jornada, que deve ser planejada, saudável e auspiciosa, afinal, a vida deve ser sorvida em sua integralidade, com plena Saúde Mental.
- O autor do artigo é Psicólogo Clínico (cognitivo-comportamental), com Especialização em Saúde Mental e Atenção Psicossocial e MBA em Administração Hospitalar.

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