Felipe Manhães: Obsolescência programada: A tecnologia a desserviço do consumidor
Todo produto possui uma vida útil, que é o tempo médio que ele resiste ao uso antes de se desgastar e se tornar inútil. No entanto, a fim de turbinar o consumo e vender mais, grandes fabricantes estão desenvolvendo produtos ou componentes que estragam propositadamente, com uma precisão de tempo cada vez maior, geralmente logo depois do prazo de garantia.
Sabemos que um produto ou serviço, quando apresenta vício ou defeito, esbarra na garantia legal, que pode ser de 30 ou 90 dias ou na garantia contratual, obrigando o fornecedor a repará-lo ou substituí-lo.
No entanto, quando falamos em obsolescência programada, o consumidor imagina que o produto se desgastou por seu próprio mau uso e o descarta, adquirindo um novo. Isso gera prejuízo a ele, prejuízo ao meio ambiente, que conta com cada vez mais lixo, e lucro para o fabricante, que vai vender outro produto à mesma pessoa, num curto espaço de tempo.
Uma pequena estampa que desbota na camisa, a logomarca que descasca no tênis, a tinta que desaparece no teclado do computador e o fio do carregador que racha em pouco tempo são alguns exemplos. Note que nesses casos o produto até continua desempenhando suas funções, mas ele fica feio ou com aparência de velho, o que incentiva o consumidor a substituí-lo.
Existem, em algumas empresas, departamentos de desenvolvimento dedicados a estudar exatamente o tempo de desgaste de materiais e inseri-los cirurgicamente nos produtos, com a precisão temporal quase exata do início da deterioração do item.
O dano que essa prática de aumento artificial da demanda causa na sociedade vai além da má-fé com o consumidor, mas passa pelo incentivo ao consumo exagerado, ao gasto desnecessário dos mais diversos recursos, inclusive hídricos e energéticos, chegando ao — talvez mais grave — dano ambiental, sob a perspectiva do descarte de toda a sorte de materiais e a consequente poluição do planeta.
Por outro lado, as empresas que prezam pela durabilidade de seus produtos ampliarão seu know-how no mercado e podem majorar suas vendas com o redirecionamento de sua publicidade com foco na qualidade.
Já o consumidor precisa estar atento a isso e, quando adquirir um produto que apresente desgaste precoce, defeito ou vício, mesmo que estético, deve comunicar ao fabricante e, caso não encontre solução, informar o fato nas plataformas de reclamação na internet para que todos tomem conhecimento.
A obsolescência programada é uma prática sorrateira e desleal, que prejudica o consumidor e o meio ambiente, e a melhor maneira de combatê-la parte do próprio consumidor em não comprar mais aquele produto ou com aquele fabricante.