A Democracia Líquida, o Exército Submisso e a Republiqueta de Bananas
04/06/2021 14:58 - Atualizado em 04/06/2021 15:03
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman conceituou o termo “modernidade líquida” como uma nova época onde as relações sociais e econômicas são frágeis e maleáveis — como os líquidos. É o que acontece com a democracia brasileira, ficando cada vez mais líquida, quando as instituições se acovardam e se apequenam. Liquidez acentuada com a decisão do exército de não punir o General Pazuello, em posição inédita na nossa história.
ANDRE BORGES / AFP
“O meu Exército Brasileiro jamais irá à rua para manter vocês dentro de casa. O meu Exército Brasileiro, a nossa PM e a nossa PRF (...). Mais importante do que o Poder Executivo, Legislativo e Judiciário é o povo brasileiro”. Com essas palavras Bolsonaro se dirigiu, ao lado do general da ativa Eduardo Pazuello, aos manifestantes que se aglomeravam no último dia 23 de maio (confira aqui). Inquestionavelmente, uma atividade política. O que é vedado para participação de militares da ativa. Constitucionalmente e pelos códigos militares. Mesmo assim, o general foi absolvido pelo Alto Comando, como uma justificativa no mínimo infantil — Pazuello disse não ter se tratado de uma atividade política por Bolsonaro não ter filiação partidária. Abre-se um precedente extremamente perigoso.
Em qualquer lugar do mundo, as Forças Armadas — Aeronáutica, Marinha e Exército — são órgãos do Estado, não do governo de ocasião. O porquê é simples. Quem tem acesso às maiores armas de um país, tanques e mísseis, não pode entrar no debate sobre política. É preciso que o debate público ocorra sem que um lado tenha força militar. E isso não é uma peculiaridade do Brasil — está no alicerce de qualquer democracia.
Inclusive da mai
José Manuel Diogo
s longeva do mundo, os Estados Unidos da América, onde Comandante do Estado-Maior, o general Mark Milley, mandou um recado ao então presidente Donald Trump, em novembro de 2020: “Não fazemos juramento a um rei”, ele afirmou, “a um tirano ou a qualquer pessoa. Juramos defender a Constituição dos Estados Unidos.”
Em Terra Brasilis, o exército se apequena e passa a ser um braço do bolsonarismo, expressado nas palavras do líder quando diz “meu exército”. E ainda abre precedente para as policias militares, incentivando a quartelada, a insurgência, e a delinquência.
Não basta a vergonha que até hoje enfrentam os militares por uma ditadura sangrenta promovida no país. É preciso se humilhar por um capitão capacidade cognitiva muito limitada e delírios autoritários. Nossa democracia não está em estado líquido apenas por decisões estapafúrdias do Exército. Mas ele está possibilitando que ela flua para um rio de sangue inglório e para uma republiqueta de bananas.

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    Edmundo Siqueira

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