A culpa é nossa e da ema envergonhada
25/07/2020 21:56 - Atualizado em 25/07/2020 22:01
Bolsonaro e a ema envergonhada - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) flagrado nesta quinta (23) exibindo uma caixa de cloroquina para as emas que vivem no Palácio da Alvorada. A cena foi flagrada por repórteres fotográficos que cobriam a movimentação presidencial no local.
Bolsonaro e a ema envergonhada - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) flagrado nesta quinta (23) exibindo uma caixa de cloroquina para as emas que vivem no Palácio da Alvorada. A cena foi flagrada por repórteres fotográficos que cobriam a movimentação presidencial no local. / Reprodução
 
Há quem diga que o passado não tem importância. Ledo engano. A sociedade evolui justamente por ter aprendido com o passado, evoluindo as relações entre pessoas e instituições — públicas e privadas.
Por exemplo: a separação dos poderes, herança de pensadores antigos, principalmente Montesquieu, determinando que o Legislativo, Judiciário e o Executivo devem ser independentes e harmônicos; conceito utilizado até hoje na quase totalidade das democracias do mundo. Outro conceito importante: o estado laico, onde são separados o Estado e a Religião, conceito vindo lá da Revolução Francesa (1789-1799), para impedir que grupos religiosos influenciem diretamente o governo, e principalmente para que o Estado não tenha uma religião definida. Respeite a religião de todos. Esse conceito está na maioria das constituições modernas, inclusive na brasileira.
Bolsonaro como
Bolsonaro como "garoto propaganda" da cloroquina / Reprodução
 
Mas o Brasil de hoje não parece ter aprendido com seu passado. Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, propôs nesta quinta-feira (23) uma PEC para determinar que militares que aceitem participar de governos sejam colocados automaticamente na reserva. O que valeria também para congressistas, perdendo os mandatos caso exerçam funções no executivo. A necessidade propor uma Proposta de Emenda à Constituição nesses moldes mostra que o passado recente do país foi convenientemente esquecido.
O governo Bolsonaro possui 6.157 militares em seus quadros. Da ativa e da reserva. No ministério da Saúde temos um general da ativa. As Forças Armadas não podem se identificar com governo algum. Elas são aparatos de estado, não de governo. Isso acontece na Venezuela (sim, aquela mesma Venezuela que os bolsonaristas falavam que íamos ficar iguais com a vitória de outro grupo político).

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Por falar em passado e saúde, na medicina o passado tem uma importância vital. As pesquisas acontecem antes de decisões médicas. São necessários anos de estudo para que alguém possa assinar e carimbar uma receita, prescrevendo um medicamento. Mesmo sabendo que não há problema algum o ministro da Saúde não ser médico, pode ser um gestor de saúde pública sem ser formado em medicina, é consenso que problema há de ser um militar da ativa, que cumpre uma "missão" em meio à pior crise sanitária da nossa época.
General Pazuello da ativa, ocupa o ministério da Saúde desde o pedido de demissão de seu antecessor. A cloroquina foi apontada como o motivo da saída do ex-ministro Nelson Teich
General Pazuello da ativa, ocupa o ministério da Saúde desde o pedido de demissão de seu antecessor. A cloroquina foi apontada como o motivo da saída do ex-ministro Nelson Teich / Reprodução
O exército produziu cloroquina aos montes sob ordem do seu Comandante em Chefe, mesmo sem qualquer pesquisa científica que comprovasse definitivamente sua eficácia contra o coronavírus. Bolsonaro faz propaganda abusiva de um medicamento, inclusive se dizendo curado por ele. Com fotos com 'jóinha' em material panfletário. E o mais grave: expôs uma caixa de cloroquina, à erguendo como se fosse a Taça da copa do mundo de 70, numa simbiose religiosa entre pastor e rebanho, trazendo o milagre.
Fatos, registrados por fotografias, que são o resumo visual do oposto da evolução humana. A anti-evolução. O retrógrado. O obscurantismo, a ignorância. A ema da Alvorada correndo de Bolsonaro, quase que entendo todo o simbolismo daquilo e se retirando às pressas por vergonha, mostram que ter o Capitão Corona na presidência é culpa nossa. De todos. Até da ema envergonhada.

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    Edmundo Siqueira

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