As eleições na Uenf – acusações, réplicas e tréplicas. Diversos profissionais da educação ouvidos para auxiliar na escolha do próximo reitor da universidade. O segundo turno será resolvido na próxima terça-feira (17).
Era um domingo, em meados de agosto. Procurado pela Folha, através deste blog, um dos candidatos a reitor da Uenf estava atarefado. Perguntado se poderia responder algumas perguntas sobre o pleito, ele diz de pronto: Hoje? Mas logo depois se prontifica — Terei prazer em responder, mas precisarei de um tempo — A intenção era publicar na segunda uma entrevista com posicionamentos do candidato. As outras duas chapas concorrentes foram procuradas por mesma via. Uma delas respondeu ainda no domingo: "Vou te passar o contato da assessoria da campanha". Mas também logo aceita responder diretamente — São 21 horas e tudo passa por assessoria, pois temos agenda busy por causa do debate do dia 20 (a universidade promoveu debate entre os concorrentes no dia 21 de agosto, na própria instituição) e três encontros com eleitores amanhã. Podemos programar para o dia 21? — A terceira chapa não respondeu o contato, o que faz depois.
As entrevistas foram publicadas. Como forma de manter a equidade, as mesmas perguntas foram feitas. Além das posições escritas, as três chapas puderam se posicionar verbalmente, de forma direta, na rádio FolhaFM. O primeiro turno aconteceu no inicio de setembro, tendo como vencedora a chapa 10, do professor Raúl Palacio, com 41,70% dos votos. Em segundo lugar, um empate: chapa 11 e 12 ficam com exatos 28,52% cada. Pelos critérios de desempate, previsto no estatuto da Uenf, o professor Carlão, chapa 11, vai ao segundo turno.
A campanha neste segundo turno segue em ritmo mais intenso. A chapa 12 se declara neutra. Assim como no primeiro turno, os candidatos são novamente entrevistados na FolhaFM. Defensores e acusadores intensificam postagens em rede social. Na entrevista da rádio, Raúl se posiciona sobre uma matéria, publicada em espaço virtual de baixo conceito na mídia local. O texto de qualidade ruim foi ilustrado com uma foto do ex-deputado federal Paulo Feijó (PR), entre Passoni, atual reitor, e Raúl. Na publicação, o professor é acusado de baixa produção acadêmica.
— A comunidade universitária entendeu que aquilo foi um processo extremamente agressivo. Em relação à foto, a gente foi conversar com o Feijó na tentativa de procurar dinheiro novo para a universidade[...] E por problemas que o Estado do Rio estava passando (na crise de 2017), a gente entendeu a necessidade de procurar emendas parlamentares federais[...] Nosso diálogo é com todos, tanto com a esquerda, quanto com a direita, desde que a Uenf esteja em primeiro lugar como universidade pública, gratuita e socialmente referenciada[...] O que acontece na universidade se discute na universidade e na sociedade. Mas nós temos que discutir com classe. É neste sentido que eu falo da campanha limpa. Nós vamos solucionar esse problema pelas vias normais. Não vai ficar sem resposta, com toda a certeza. Mas agora, neste momento, a gente não quer se concentrar nisso — disse o candidato a reitor.
Carlão, em respeito a necessária equidade jornalística, também foi entrevistado e indagado sobre o mesmo assunto, a matéria sensacionalista que acusava o opositor nas eleições.
—Primeiro que o artigo não foi escrito por mim. Eu não vou me pronunciar. Eu estava fora (quando a matéria foi publicada) e não tenho um grupo grande para me ajudar. Eu não vou me manifestar. Muitas pessoas me ligaram e disseram que esse negócio iria me prejudicar. Mas o que eu posso fazer? Foi um artigo que não foi escrito por mim. A imprensa tem sua autonomia — responde Carlão.
A Folha ouviu diversas pessoas ligadas a Uenf e à educação. Após o fim do primeiro turno publicou, através do blog Opiniões de Aluysio Abreu Barbosa, artigos que falavam sobre a universidade, sobre as eleições para a reitoria e o papel do ensino superior público em Campos e no Brasil. Foram publicadas as declarações de Luciane Silva, da Aduenf, Brand Arenari, secretário de Educação de Campos, Jefferson Manhães, reitor do IFF, José Carlos Mendonça, professor da Uenf, Roberto Dutra, também docente da instituição, Arthur Soffiati, professor aposentado da UFF, Gilberto Gomes, presidente do DCE da Uenf e Roberto Cezar, diretor da UFF Campos.
A manifestação do presidente do Diretório Central dos Estudantes - DCE, Gilberto Gomes, gerou polêmica. Questionado por sua parcialidade no artigo escrito à Folha, Gomes reponde em sua rede social iniciando pela frase: “oportunismo, mau-caratismo e o quanto incomoda um estudante com voz”. O estudante repele as acusações e diz ao final:
— É com muita satisfação que percebo o quanto um estudante com voz e espaço para debate pode incomodar os “phdeuses”, que acreditam que um currículo lattes extenso é suficiente para subjugar e silenciar o próximo — Gilberto Gomes em rede social.
No sábado (14) foi oferecido espaço na Folha e no blog Opiniões, o mesmo ofertado ao Gilberto, à estudantes filiados ao PSOL, para que se posicionassem sobre o assunto. A jornalista da Folha Daniela Abreu, que é filiada ao partido, fez o convite em nome do jornal, o que não foi aproveitado por nenhum dos estudantes. O espaço permanece aberto.
As eleições na Uenf seguem de forma democrática, seguindo os ditames do estatuo e sob o comando da Comissão Eleitoral, presidida pelo professor Sérgio Arruda. Arruda falou ao blog neste domingo (15) e faz uma previsão sobre a apuração final do pleito, que tem seu ápice no próximo dia 17 (terça-feira), quando votam os campi Campos e Macaé.
— Ontem, dia 14, foi a eleição nos 11 polos Cederj. As urnas estão lacradas e guardadas. Terça dia 17 vai ser nos campi Campos e Macaé, de 9h às 20h. Depois disso iniciamos a apuração. Deve acabar às 3 da manhã de quarta-feira — Prevê o presidente da Comissão Eleitoral da Uenf.
A Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro nasce de uma mobilização da sociedade campista organizada conseguiu incluir na Constituição Estadual de 1989 uma emenda popular prevendo sua criação. O movimento envolveu entidades, associações e lideranças políticas. Com a eleição de Leonel Brizola para o governo do Estado do Rio em 1991, o projeto da UENF ganhou novos rumos. Brizola pôs em execução a implantação, delegando ao professor Darcy Ribeiro a tarefa de conceber o modelo e coordenar a implantação, sendo a primeira aula no campus ministrada em 16 de agosto de 1993.
O técnico de nível superior da Uenf, o doutor Fausto Carvalho, estava lá. Atuante na Uenf desde sua criação, Fausto coletou assinaturas no centro de Campos para a implantação da universidade. Deseja que as eleições transcorram da melhor forma possível e pede que o futuro reitor saiba dialogar com todos os segmentos.
—Sinto-me orgulhoso de ter participado de um grupo que trabalhou coletando assinaturas no centro de nossa cidade, fazendo um abaixo-assinado para ser levado a Alerj para que fosse colocado, na constituição do Estado, a obrigatoriedade do Governo Estadual de construir em Campos dos Goytacazes uma Universidade Pública. Este sonho dos campistas foi materializado em 1993 com a criação da Fenorte, então a mantenedora da Uenf. Fui contratado no primeiro processo seletivo em 1993, quando iniciamos nossos trabalhos no LMGA/CCTA, mais tarde passando a se chamar LRMGA. No primeiro ano da implantação havia poucos professores e técnicos, mas havia uma relação interpessoal muito boa, com muito entrosamento entre nós, relação está que foi se perdendo a medida que a universidade foi crescendo. Passamos por algumas crises, mas a mais grave e duradoura foi a que ocorreu em 2016/2017, onde tivemos alguns meses com salários atrasados, debandada de alunos e que gerou muita insatisfação entre professores, estudantes e técnicos, resultando na perda de experimentos, pois não havia recursos para aquisição de ração, gases, etc. Vejo com certa preocupação a falta de interesse de alguns pesquisadores em orientar estudantes de iniciação científica, mestrandos e doutorandos, daí o decréscimo no número de publicações e suas consequências negativas para a instituição que tem no seu quadro de docentes somente doutores — Relata Fausto.
A Uenf, cumprindo seu papel institucional, formou diversos profissionais. Egressos da universidade de Darcy hoje ocupam cargos estratégicos na prefeitura. O tripé pesquisa, ensino e extensão, feito em turno integral por discentes e lecionado por professores — cem por cento doutores — de dedicação exclusiva, oferece à região educação de nível superior de alta qualidade.
Fausto encontra-se acidentado e não pode votar no primeiro turno. Ao relatar o fato na publicação deste blog em rede social, disse da dificuldade de locomoção para comparecer ao segundo turno. Em mesma publicação, Arruda, presidente da Comissão Eleitoral informa que mudara o local de votação dos técnicos. Fausto confirma sua participação na próxima terça no campus de Campos. O técnico complementa:
— Penso que a implantação da UENF nesta região trouxe uma oportunidade ímpar para campistas e estudantes de cidades vizinhas, estudar numa universidade pública de qualidade que oferece inúmeros cursos bastante qualificados. O projeto inicial da UENF contemplava a criação de cursos em Santo Antônio de Pádua, Itaperuna, mas infelizmente está expansão não foi concretizada. Espero que o próximo reitor eleito tenha a capacidade de unir as diferentes correntes existentes e também tenha condições junto com os demais professores de captar recursos fora da universidade, em agências de fomento, na iniciativa privada, etc. Precisamos sim de um reitor que saiba dialogar com todos os segmentos, lutar por uma universidade grandiosa. Uma boa eleição a todos e que vença o melhor.