Desde a semana passada, todas as crianças de seis meses a um ano de idade devem ser vacinadas contra o sarampo em todo o país. Esta ação é uma resposta imediata do Ministério da Saúde em decorrência do aumento de casos da doença em alguns estados brasileiros. A medida deve alcançar 1,4 milhão de crianças que não receberam a chamada “dose zero”, além das previstas no Calendário Nacional de Vacinação, aos 12 e 15 meses de idade, que não são substituídas pela dose extra. Com 1,6 milhões de doses a mais enviadas para os estados, o Ministério da Saúde tem como objetivo intensificar a vacinação desse público-alvo, que é mais suscetível a casos graves e óbito. Em Campos, a vacina tríplice viral está disponível em mais de 40 salas de vacinação, inclusive na sede da Secretaria de Saúde. Ela previne também contra rubéola e caxumba.
Entre os dias 19 de maio e 10 de agosto, foram confirmados 1.680 casos de sarampo no Brasil. O maior número de casos foi em São Paulo (1.662). No Rio de Janeiro houve seis confirmações, além de quatro em Pernambuco e um no Espírito Santo, Paraná, Maranhão, Rio Grande do Norte, Piauí, em Sergipe, Goiás e na Bahia. O coeficiente de incidência da doença foi de 0,80 por 100.000 habitantes.
— A dose zero é adotada em situações como essa que a gente está vivendo agora. É uma dose feita em criança entre seis meses e um ano de vida, que visa proteger esses menores de um ano da contaminação por sarampo. Mas, apesar disso, as crianças, ao completarem um ano, elas têm que ser revacinadas, porque a gente sabe que a resposta a essa vacinação feita entre seis meses e um ano não é uma resposta tão adequada quanto se espera. Então, a gente precisa revacinar com um ano de idade e seguir a vacinação — explicou a pediatra Luna Rambaldi.
Para a médica, o aumento no número de casos de sarampo está diretamente ligado a uma falha na cobertura vacinal. É grande a preocupação a respeito de campanhas contra vacinação, que têm crescido no país.
— De alguma forma, as pessoas relaxaram em relação a isso. O vírus continuava circulando mundialmente. No Brasil, não, mas existiam casos em outros países. E aí, de alguma forma, por viajantes, imigrantes, enfim, pessoas que viajavam acabaram trazendo. E existia uma oportunidade no Brasil de uma população não vacinada. Então, infelizmente, aconteceu o que está acontecendo aí, e a gente enxerga com muita preocupação, porque é uma doença grave, com complicações graves, entre elas pneumonias, infecções bacterianas que se aproveitam desse momento da infecção do sarampo e causam pneumonia, otite média e aguda, que pode levar até à perda auditiva, encefalite aguda e, em alguns casos, à morte. A gente vê isso tudo com muita preocupação — comentou Luna.
Um dos objetivos dos médicos no momento é fazer um trabalho de conscientização para que os pais não deixem de vacinar os filhos. “Você cria uma rede de proteção. Quanto mais pessoas estão vacinadas, maior é a proteção contra aquela doença. Na medida em que as pessoas não se protegem, a sociedade como um todo fica mais exposta a essas doenças”, acrescentou a doutora.
Além dos menores de um ano, também fazem parte do grupo de risco de contaminação e de maiores complicações do sarampo as gestantes, os bebês e portadores de algum tipo de imunodeficiência. A vacinação em Campos foi intensificada para pessoas com até 49 anos de idade.
Bloqueio vacinal — Além de vacinar as crianças na faixa etária prioritária, o Ministério da Saúde, por meio da secretaria de Vigilância em Saúde, também orienta os estados e municípios a realizarem o bloqueio vacinal. Em situação de surto ativo do sarampo, quando identificado um caso da doença em alguma localidade, é preciso vacinar todas as pessoas que tiveram ou têm contato com aquele caso suspeito em até 72 horas. Neste caso, recomenda-se que sejam realizadas de forma seletiva, ou seja, não há necessidade de revacinação das pessoas que tenham comprovação vacinal. No Rio, há surto ativo de sarampo nos municípios de Duque de Caxias, Paraty, Rio de Janeiro e São João de Meriti.
Em Campos não há nenhum caso registrado da doença desde 2007, quando foi implementado o Sistema de Informação de Agravos e Notificação (Sinan). “O sarampo estava erradicado no país há algum tempo e neste ano voltou. Estamos fazendo uma intensificação para o público alvo”, disse o secretário municipal de Saúde, Abdu Neme.