Verônica Nascimento e Ana Laura Ribeiro
25/05/2018 15:05 - Atualizado em 28/05/2018 15:04
Apesar da liminar da 4ª Vara Federal de Niterói, que determinou a reintegração de posse do trecho da BR 101 administrado pela Autopista Fluminense e que o Exército apoie a Polícia Rodoviária Federal (PRF) no cumprimento da sentença, a greve dos caminhoneiros chegou, nesta sexta-feira (25), ao quinto dia com a manutenção dos atos na rodovia federal, inclusive no km 75, em Campos. Segundo a Associação de Apoio aos Caminhoneiros do Estado do Rio de Janeiro (Ascam), mais de mil trabalhadores aderiram ao movimento no município e estacionaram seus veículos no acostamento da rodovia e em postos próximos. Os caminhoneiros garantem que a greve continua e que as negociações divulgadas pelo governo federal ocorrem sem a representatividade da categoria.
A Autopista Fluminense, concessionária que administra 320 quilômetros da BR 101, informou, em nota, que a solicitação da reintegração de posse e de aplicação de multas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) é procedimento padrão para manter a livre circulação dos usuários em todo sistema rodoviário da BR 101 RJ/Norte, incluindo faixa de rolamento, acostamentos, faixa de domínio, bases operacionais e praças de pedágio.
A PRF diz que o movimento dos caminhoneiros é pacífico em Campos e que, não havendo obstrução total da pista, intervenções para liberação do fluxo de caminhões, só no município, não resolveriam o problema, que é nacional.
— Não tem ocupação de pedágio, nem obstrução de vias. O trânsito flui regularmente para todos os veículos, exceto caminhões de carga. Existe a possibilidade de multa pela PRF, caso alguém utilize veículo para bloquear a rodovia, mas os caminhoneiros não estão fazendo isso. Eles estão jogando com a regra. A gente não tem como diferenciar se quem está no acostamento é manifestante ou vítima da manifestação e, então, não tem como sair aplicando multas indistintamente, sem saber quem está provocando a retenção. A solução é em nível nacional. Precisamos de uma determinação nacional para a solução. Ainda que a gente consiga retirar algum bloqueio em Campos, o trânsito de caminhão está sendo bloqueado no Brasil inteiro, e seria uma medida sem eficácia prática e não atenderia à concessionária — explicou o inspetor chefe da delegacia da PRF de Campos, Weber Boroto.
O inspetor acrescentou que a PRF mantém diálogo com os manifestantes, que estão liberando o fluxo de caminhões com carga de medicamentos e materiais hospitalares, além de combustível para abastecer veículos e viaturas de instituições da segurança pública. “Estão tendo uma conduta pacífica. Houve um boato de que eles iriam obstruir a rodovia com areia, mas eles mesmos estão vigilantes para que isso não aconteça, mantendo a manifestação no acostamento. A PRF está em contato direto com a concessionária para resolver o problema da melhor forma e não podemos chegar lá com quatro policiais e tentar fazer uma desobstrução completa. Não é dessa forma. A gente precisa de uma decisão nacional para resolver o problema como um todo”, concluiu Boroto.
Concentração — No ponto de concentração dos caminhoneiros, no km 75 e nos postos próximos, aumentou o número de caminhões estacionados e de caminhoneiros aderindo à greve. “A gente vai manter a greve e ficar aqui até que tenha uma solução. Não tem por que vir o Exército para tirar a gente daqui, porque não fechamos nada. Estamos no acostamento e deixando a pista aberta até para os caminhões que transportam remédios e outras coisas. É difícil para a gente, porque é muito desgaste, frio, chuva, mas é para o bem dos caminhoneiros e toda a população”, falou o caminhoneiro James Neto, que há 10 anos faz transporte de tijolos e gêneros alimentícios de Campos para o Rio.
O caminhoneiro Magno Parente, que desde 2009 transporta, em um caminhão caçamba, produtos a granel para o porto do Rio, está há cinco dias no ponto de concentração da greve em Campos. “Não tem previsão de acabar, não. Não estão (o governo) considerando a situação dos caminhoneiros, mas estamos mostrando união. Agora a gente sofre, mas o povo está vendo que nossa greve é para benefício de todos os brasileiros. Estamos orgulhosos de nossa manifestação e vamos nos virando, com cada um trazendo um pouco de cada coisa, com os motoristas passando e deixando alimentação, donativos para a gente”.
A Ascam informou que Itaperuna, Volta Redonda, Três Rios, Itaboraí e outros pontos pequenos de manifestação, como Búzios, mantêm a greve dos caminhoneiros com veículos parados em acostamentos. Segundo o presidente da Ascam, Waldemar Soares, “só o uso da força ou uma solução para o preço do óleo diesel para a greve acabar. Em momento algum bloqueamos a rodovia. Liberamos até a passagem de caminhões com cargas como medicamentos, combustível para as forças de segurança pública. A causa dos caminhoneiros virou interesse de todo o povo, pois os preços do combustível no país não são viáveis. Não há previsão do fim da greve, porque montaram uma associação para ouvir propostas do Congresso, mas essa associação não representa os caminhoneiros. A greve é em nível nacional e irreversível, até que apresentem à categoria uma proposta decente”, concluiu o presidente da Ascam.