Propostas põem greve em xeque
25/05/2018 13:45 - Atualizado em 28/05/2018 15:03
Greve dos caminhoneiros
Greve dos caminhoneiros / Folha da Manhã
O governo federal, após reunião de mais de seis horas com representantes de entidades de caminhoneiros, com os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Carlos Marun (Secretaria de Governo), Eduardo Guardia (Fazenda) e Valter Casimiro (Transportes), anunciou na noite dessa quinta-feira (24) a proposta de “trégua de 15 dias” para a suspensão da greve da categoria, com série de bloqueios nas estradas. Por quase todo o país, o quarto dia da paralisação dos caminhoneiros foi uma prévia do que poderia se transformar em caos, com postos sem combustíveis, preços abusivos e início de desabastecimento nas redes alimentícias e farmacêuticas. No Rio, antes da negociação do governo ser costurada, a Justiça acionou o Exército para retirar caminhoneiros da BR 101, das áreas da Autopista Fluminense, inclusive em Campos.
Movimento com adesão em trecho campista da BR 101
Movimento com adesão em trecho campista da BR 101 / Agência Berenger - Divulgação
O presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, que esteve na reunião, disse que vai repassar à categoria o acordo firmado com o governo para definir o fim da greve, o que deve acontecer nesta sexta-feira (25). “A categoria vai analisar, e o entendimento é deles, se isso foi suficiente para eles ou não”, declarou.
O Governo do Rio também chegou a anunciar um acordo com caminhoneiros. Com o compromisso de que as estradas estaduais não sejam mais bloqueadas, o governador Luiz Fernando Pezão ofereceu aos motoristas uma redução no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do diesel de 16% para 12%.
Justiça — O juiz da 4ª Vara Federal de Niterói emitiu decisão proibindo a invasão e bloqueios feitos por integrantes ou simpatizantes de manifestação de caminhoneiros no trecho da BR 101 administrado pela concessionária Autopista Fluminense — 320 quilômetros entre Campos e Niterói. A Polícia Rodoviária Federal e o Exército chegaram a ser notificados para atuar no cumprimento da decisão.
Já o juiz Eron Simas dos Santos, da 1ª Vara Cível de Campos, também concedeu liminar no pedido da Ipiranga Produtos de Petróleos para garantir o livre acesso de caminhões ao pool operacional da empresa no município. A distribuidora temia que os caminhoneiros em protesto na Rodovia BR 101, na altura de Campos, impedissem a entrada e saída dos veículos transportadores de combustíveis.
Na noite dessa quinta, no Trevo de Ururaí, os caminhoneiros comentaram, antes de se falar no acordo do governo, sobre a possibilidade de serem acionados pelo Exército para deixar o acostamento da BR 101. Segundo eles, iam esperar notificação, mas isso não poria fim à greve.
De acordo com a Autopista Fluminense, há cerca de 800 metros de fila de caminhões, mas o trânsito permanece livre.
Correria aos postos e bombas ficam vazias
Nos municípios do Norte e Noroeste Fluminense, postos de combustíveis chegaram ao final do estoque. A maior cidade do interior do Rio amanheceu com enormes filas de veículos à procura do abastecimento. Diversos postos da cidade já estão fechados, principalmente na área central.
Durante a manhã, o Procon/Campos fez fiscalizações em postos nas áreas mais centrais da cidade. Parte deles ficou fora de funcionamento. Na avenida 28 de Março, todas as unidades estavam fechadas por falta de combustíveis. Outros foram autuados por cobrança de valores mais altos do que a média.
Foi preciso paciência para conseguir abastecer
Foi preciso paciência para conseguir abastecer / Antônio Leudo
Diretora da fiscalização, Lucylla Chagas explicou que, em média, em todos os postos ainda abertos, a gasolina está sendo vendida a quase R$ 6 e o etanol e o diesel, por R$ 4.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) tomou posição ao anunciar uma série de medidas para garantir a continuidade do abastecimento de combustíveis nos postos e também para coibir a prática de preços abusivos. Entre as medidas chegou a liberar que distribuidores vinculados a uma marca possam vender combustível de outra. Prometeu, ainda, intensificar a fiscalização contra preços abusivos e fortalecer o canal disk denúncias (0800 970 0267).
Desabastecimento de produtos perecíveis
O primeiro impacto nos supermercados, em Campos, também foi nos produtos hortigranjeiros. Segundo um dos diretores da rede de supermercados Superbom, Lucas Barcelos, a situação é preocupante. “O setor hortigranjeiro é o primeiro a sofrer o impacto, já que recebemos todos os dias. No caso dos outros produtos, não há desabastecimento nas lojas. Temos estoques para cinco dias. Nosso combustível também vai durar mais uns sete dias para abastecer as lojas”, disse.
Escassez de alimentos começa a ser percebida
Escassez de alimentos começa a ser percebida / Rodrigo Silveira
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) informa que há desabastecimento de produtos perecíveis nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Espírito Santo, Pernambuco, Tocantins, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Em relação aos produtos não perecíveis, os estabelecimentos possuem um estoque médio e, por enquanto, ainda não há problemas.
Alguns supermercados pelo país estão limitando a compra de produtos a cinco unidades por pessoa.
Farmácias — Segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), a greve está abalando o abastecimento de farmácias e drogarias de todo o país. A entidade afirma que 6,3 milhões de estabelecimentos estão deixando de ser abastecidos diariamente, com impacto de 2,4 milhões de consumidores.
Falta hortigranjeiro e preços em disparada
No Mercado Municipal, em Campos, os comerciantes estão ficando sem alimentos para vender. Nessa quinta-feira, em 40% das bancas já faltam verdura, legumes e frutas. Alguns feirantes que trabalham no local não foram trabalhar porque não há produtos para comercializar.
— O meu balcão costuma estar cheio, mas, hoje (quinta-feira), a maior parte dele está vazio devido à greve dos motoristas de caminhões. Estamos preocupados com o que teremos nesta sexta-feira para vender — afirmou.
Nas bancas que ainda permaneciam em funcionamento, os produtos tiveram aumento de valor. Entre os alimentos, estão a alface, que passou de R$ 2 a R$ 3, e a couve-flor, que custava R$ 1,60 e está sendo vendida por R$ 2,50. Por ora, o preço dos peixes não foi alterado.
A Ceasa-RJ informou que está sentindo os reflexos da greve dos caminhoneiros. “Muitos dos produtos comercializados na Ceasa vêm de outros estados, como Minas Gerais, um dos mais afetados pela greve. Conforme dados da Portaria da Ceasa, em relação ao abastecimento, o mercado teve nesta quinta-feira uma entrada de 50 caminhões, sendo 47 do Rio de Janeiro e três de Minas Gerais, uma média de 60 toneladas de alimentos. Na quinta-feira passada (17) a média foi de 300 caminhões carregados e uma média de 3 mil toneladas de alimentos”.
De acordo com a Ceasa, em decorrência da greve, houve uma diminuição da oferta na comercialização de alguns produtos como a batata inglesa comum (SC 50kg), que na semana anterior custava em média R$ 64 e aumentou para R$320.
Portos e aeroportos à mercê da paralisação
A paralisação nacional dos caminhoneiros, desde segunda-feira (21), trouxe reflexos em diversos setores, inclusive no portuário. Em nota, o Porto do Açu, em São João da Barra, informou que “está acompanhando os desdobramentos da paralisação nacional dos caminhoneiros e seus reflexos em todo o país. O empreendimento teve redução significativa no número de veículos de expedição de carga e de abastecimento de suprimentos em geral em seus terminais”.
No setor aéreo os transtornos também foram muitos. O Aeroporto Bartolomeu Lisandro, em Campos, depois de ter as operações paralisadas ontem, volta a operar hoje. De acordo com a Companhia de Desenvolvimento do Município de Campos (Codemca), ontem, chegou carregamento suficiente para atender as operações, porém, somente até sábado caso não seja cumprido o acordo anunciado pelo governo federal.
Folha da Manhã
Relatório da Infraero de 11h dessa quinta chegou a apontar situação crítica de falta de combustível em sete aeroportos administrados pela estatal, em razão da greve de caminhoneiros: Recife, Ilhéus, Goiânia, Palmas, Maceió, Carajás (PA), São José dos Campos (SP) e Uberlândia (MG). (D.P.P.) (J.R.) (J.L.) (A.N.)

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