Chequinho: indícios que vão além de Beth
Suzy Monteiro 24/06/2017 21:11 - Atualizado em 27/06/2017 18:46
Anthony Garotinho
Anthony Garotinho/Folha da Manhã
Na última semana, o ex-governador Anthony Garotinho (PR) divulgou vídeo em rede social, falando sobre o interrogatório, em Campos, na próxima terça-feira (27), dentro da Ação Penal em que é réu no caso Chequinho. Repetindo o mantra dos últimos 30 anos, disse ser vítima de perseguição e que o processo contra ele - no qual, antecipa, será condenado - é baseado em um único depoimento: da radialista Beth Megafone. Apesar de ele não citar o nome, afirma que a ajudou e lhe deu emprego em certa época. Mas, nos últimos nove meses, a imprensa mostrou que as provas apontadas pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público vão muito além de Beth. São depoimentos de testemunhas, como o servidor Eduardo Coelho, que admitiu ter apagado dados do computador da secretaria de Desenvolvimento Humano e Social, segundo ele a mando de Garotinho. Ou laudo pericial que aponta eliminação de provas.
O servidor Eduardo Coelho, analista de sistemas, por exemplo, relatou uma reunião, após o cumprimento da busca e apreensão na sede da secretaria de Desenvolvimento, em que teria recebido ordens para apagar dados do Cheque Cidadão: “Garotinho deu a ordem ao depoente na secretaria de apagar estes dados; que foi para lá com Gisele, Ana Alice o e o marido desta”. Ele contou, ainda, “que houve uma alteração de inclusão de 11.500 para 30.000 beneficiários”.
Já Ralph Alves, ex-diretor orçamentário e financeiro da secretaria de Desenvolvimento relatou o descontrole do então secretário de Governo, que tentava um modo de pagar a Trivalle, empresa responsável pelo Cheque. Desconfiado de estar sendo gravado, ele teria pego o celular do ex-diretor e pedido (que ele entendeu como ordem) para que desbloqueasse para que ele pudesse ter acesso: “que o Secretário de Governo chegou ao lado do depoente estendendo para pegar o seu celular, dizendo que estava gravando a reunião; que ato contínuo entregou o celular; que estava bloqueado”. E acrescentou: “o que não foi atendido pelo depoente, afirmando que se tratava de telefone pessoal e não funcional”. O ex-diretor disse, ainda, que foi retirado da sala pelo procurador do Município, que chegou a lhe pedir desculpas pelo ocorrido: “o réu tinha poder de comando, como se Prefeito fosse”, afirmou Ralph no depoimento.
Existe também o depoimento de Rose, do Parque Santos Dumont. Ela afirma ter estado pessoalmente na sede da rádio Diário, acompanhada do vereador Altamir Bárbara, para solicitar a Garotinho inclusão de pessoas do bairro no programa social. Segundo ela, Garotinho a manda procurar a então secretária Ana Alice Alvarenga para resolver o problema. Ela então comparece à secretaria e recebe de Ana Alice a autorização para incluir dezenas de pessoas do bairro no programa social. Tudo sem avaliação de assistentes sociais da Prefeitura. Essas informações foram divulgadas pela imprensa porque o processo é público.
Laudo pericial aponta eliminação de provas
Uma das peças principais da Ação Penal que tem Garotinho como réu e do Inquérito Policial 236 é o laudo pericial elaborado pelo Núcleo de Criminalística do Setor Técnico-Científico da Superintendência da Polícia Federal do Rio.
Dois peritos analisaram dados dos computadores da Prefeitura de Campos. O documento, com 46 páginas, corrobora depoimentos de testemunhas, segundo as quais, dados dos computadores da secretaria de Desenvolvimento Humano e Social teriam sido apagados logo após as primeiras ações de busca e apreensão na secretaria.
A alteração nos dados dos computadores teria acontecido fora do horário do expediente, durante um final de semana, após ordem que teria sido dada a ele pelo então secretário municipal de Governo e marido da então prefeita Rosinha, Anthony Garotinho.
Peritos explicaram que é possível verificar a diferença entre os números, que chegariam a 32.506 (Fig 2)
E relataram que “há vestígios suficientes que apontam ocorrência de materialidade de alteração nos logs do sistema”.
Ainda de acordo com o relatado pelos peritos, “foram encontrados vestígios que permitem afirmar que houve apagamento/deleção dos backups existentes anteriores à data de 9 de setembro de 2016”.
“A equivalência entre as tabelas SQL originais da data da apreensão e as tabelas SQL recuperadas pelos peritos faz os signatários concluírem possibilidade, verificabilidade, precisão e completude das informações recuperadas”, disseram, ainda, os peritos federais no laudo que foi anexado às ações penais dos envolvidos na Chequinho.
Interrogatório será na próxima terça-feira
Na próxima terça-feira (27) o ex-governador Anthony Garotinho (PR) volta a Campos para ser interrogado na Ação Penal em que foi apontado como líder do esquema do uso político do Cheque Cidadão.
Nesta Ação Penal, Garotinho foi preso em 16 de novembro do ano passado. Passou mal antes de ser transferido para Campos, foi internado e chegou a passar uma noite preso no complexo penitenciário de Bangu, . No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a prisão foi convertida em multa e medidas restritivas, como a que o impede de visitar a sua terra natal, a não ser por decisão da Justiça, o que já aconteceu duas vezes: Em 20 de fevereiro, na primeira audiência de instrução e julgamento, em 9 de junho, para ser interrogado, mas em ação que investiga possíveis fraudes na licitação que originou as polêmicas obras nas calçadas da área central do município no ano passado.
No Dia das Mães, Garotinho pediu e a Justiça autorizou sua presença na cidade para estar com sua mãe, dona Samira, porém, ele não usou de seu direito.
Semana passada, em vídeo divulgado no Facebook, Garotinho afirmou que estará em Campos e convocou seus militantes para estarem presentes na frente do Fórum Maria Teresa Gusmão.
Ele disse, também, ter certeza de que será condenado - a pena pedida é de 26 anos de prisão. Mas garantiu que, em instâncias superiores, conseguirá reverter. Reafirmou ser vítima de perseguição política.

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