Soriano sai, mas deixa o coração no Campos
Matheus Berriel 22/03/2017 20:25 - Atualizado em 24/03/2017 09:48
Michelle Richa
Rafael Soriano / Michelle Richa
Quando o Campos Atlético Associação voltar a campo, o torcedor roxo terá uma referência a menos em quem confiar. Comandante da ascensão meteórica do clube nos últimos anos, Rafael Soriano deixou o cargo de técnico da equipe na noite da última terça-feira (21), por opção própria, após reunião com a diretoria, encerrando uma passagem de pouco mais de dois anos.
Até então auxiliar-técnico do Boavista, Soriano chegou ao Campos no final de 2014, quando foi reativado o futebol profissional do Roxinho, após um intervalo de 26 anos. Inicialmente, foi escolhido para exercer a função de gerente de futebol na parceria com o Carapebus, que depois passou a se chamar Campos Atlético Clube. Virou treinador com poucos meses de trabalho, substituindo Luciano Lamoglia, que teve que se afastar para cuidar de problemas de saúde do pai. Em pouco tempo no cargo, conseguiu ganhar crédito com a torcida, que abraçou o recém-montado elenco e o carregou nos braços durante a campanha da Série C de 2015, que terminou com o título do segundo turno e o primeiro dos dois acessos consecutivos.
"Quando cheguei, foi uma novidade para mim ser gerente de futebol, especialmente de um clube que não tinha nada, totalmente zerado, sem jogar futebol profissional há 26 anos. Era um desafio muito grande para minha pouca experiência na área. Mas, tudo foi acontecendo de acordo com o trabalho. Sempre tive um carinho muito grande pelo torcedor, principalmente dos moradores do entorno do Parque Leopoldina, da comunidade da Baleeira, de Nova Brasília. Com o apoio deles, o Campos foi ganhando espaço" diz Soriano, que tem orgulho em ter ajudado a fazer renascer a paixão do torcedor.
"Muitas das vezes, vi crianças na arquibancada tendo o primeiro amor pelo futebol, conhecendo um novo clube. E também muitos idosos que tiveram a oportunidade de acompanhar o clube nas décadas de 1960, 1970, que estavam podendo resgatar esse orgulho. Foi gratificante ver que todo mundo estava dando importância ao Campos, que realmente estava defendendo o nome da cidade, principalmente da área onde está localizado. Não teríamos conseguido sem a nossa torcida", destaca.
Em 2016, um desafio ainda maior. Credenciado pela campanha invicta na Série C, o Roxinho teve um início razoável na segunda divisão do Estadual, mas aos poucos foi crescendo e conseguiu alcançar o Triangular Final com o título da Taça Corcovado, conquistado sobre o já classificado Americano, em confronto que depois foi para os tribunais, sob suspeitas de manipulação de resultados do Alvinegro, que acabou excluído da competição. Todos esses fatores deram ao acesso da Série B uma importância ainda maior, sem falar do feito inédito do clube em chegar à primeira divisão.
"Apesar do título não ter vindo, na Série C, tivemos um planejamento muito bom. Foi uma campanha invicta, muito linda. A Série B já se mostrava mais difícil. Começamos a competição sem emplacar, mas conseguimos engrenar e ficamos uma longa sequência de jogos sem perder. Aí vieram os fatores extra-campo, com todo o imbróglio da reta final, e ainda a preocupação em não perder jogadores importantes. Depois de conseguir o acesso, tudo ficou maior. Não é falsa modéstia, a gente não para muito para pensar sobre ser ou não o treinador mais importante da história do clube. Fico feliz por ter feito bem o meu trabalho", enfatiza o treinador.
No final da Série B, diretoria e comissão técnica correram contra o tempo para montarem um elenco capaz de fazer uma boa campanha na primeira divisão. Porém, logo foram surpreendidas com a mudança de regulamento por parte da Federação de Futebol do Estado do Rio Janeiro (Ferj), que criou uma fase preliminar na Série A deste ano, onde seis equipes brigariam por duas vagas na fase de turnos. Com bom desempenho como visitante, mas sem nenhuma vitória em Cardoso Moreira, onde mandou seus jogos, o Roxinho ficou na quarta colocação e teve que disputar o Grupo X, sendo posteriormente rebaixado.
"Foi tudo muito rápido. Estávamos preparados para jogar uma competição, aí de repente tivemos que mudar todo o planejamento num curto espaço de tempo. A Série B atrasou, terminou muito perto do início da Série A, onde logo entramos com cinco jogos em 15 dias. Mesmo assim, fizemos uma boa campanha na primeira fase. Acontece que esperávamos jogar contra os clubes grandes, mas logo nos vimos brigando contra o rebaixamento. Era uma equipe jovem, com atletas de pouca rodagem. É natural que o peso psicológico influencie", enfatiza o treinador, que não encontra uma explicação exata para tantos tropeços em casa. "Talvez a nossa forma de jogo não tenha encaixado no campo do Cardoso, que é um campo bom. Devido às dimensões, as equipes adversárias se fecharam para jogar nos contra-ataques. Também não pudemos contar com a presença em massa do nosso torcedor, que foi fundamental nos anos anteriores. Se tivéssemos jogado em Campos, pode ser que a história tivesse sido diferente. Não dá para saber. Mas, de qualquer forma, somos muitos gratos ao Cardoso Moreira, que nos apoiou", enfatiza.
A saída do Campos poderia ter acontecido ainda durante a disputa da Série A. De acordo com Soriano, várias propostas de outros clubes foram recusadas. Depois da queda, o fim da parceria do Roxinho com o Campos Atlético Clube foi outro fator que adiou o adeus, que acabou acontecendo de forma natural nesta semana.
"As propostas aconteceram enquanto eu estava trabalhando, mas todas elas foram rejeitadas, pensando sempre no melhor do Campos. Eu estava focado em tentar livrar o clube do rebaixamento. Infelizmente não aconteceu. Hoje, o clube está em um momento de rever seu planejamento, e a gente entende que é hora de dar um passo maior na carreira. Tivemos uma conversa aberta, sempre mantive boa relação com a diretoria. Foi uma decisão minha. Essa conversa já era para ter acontecido logo após o jogo do rebaixamento, mas teve essa questão da separação dos clubes. Aguardamos mais uma semana para a diretoria se posicionar em relação a isso, e então definimos a minha saída. Agora, vamos aguardar para ver se aparece alguma coisa, mas por enquanto ainda não tem nenhuma proposta", contou.
Com uma passagem tão intensa, é natural que Soriano guarde um carinho especial pelo Campos. Independente de onde vier a trabalhar no futuro, ele garante que estará torcendo de longe para que o Roxinho consiga ter novamente grandes feitos, começando pela possível participação na Série C, atual quarta divisão, agora com filiação própria à Ferj. O mesmo vale para o Campos Atlético Clube, que deverá mudar de nome e disputar a Série B1.
"O Campos foi um clube diferente de todos os outros que trabalhei. Foi como se a gente criasse um filho, ajudasse a renascer, a crescer. Durante o trabalho, vimos o amadurecimento dele. Vimos chegar no ápice, o que muitos tentaram e não conseguiram. Agora, fica a torcida. Esperamos que o Roxinho consiga trilhar o mesmo caminho e voltar às divisões superiores. A torcida vai apoiar, as pessoas que sempre apoiaram, vão continuar apoiando. É uma caminhada que está se reiniciando, agora até com mais confiança. A marca do apoio da torcida está consolidada, principalmente agora que o nome será mesmo o do Campos. Torço por grandes coisas para o clube", finaliza.
Sem Rafael Soriano e com o futuro ainda indefinido, o Campos Atlético Clube tinha estreia marcada na Série B1 no dia 13 de maio, em casa, contra o Serra Macaense. Porém, foi retirado provisoriamente da tabela. O presidente Victor Mothé se pronunciará nas próximas semanas com detalhes da situação. Já o Campos Atlético Associação estará na tabela da Série C, prevista para começar em julho, caso cumpra os requisitos necessários.

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