Cem gramas de resíduos secos — como são chamados cientificamente os bagaços — fornecem, respectivamente, 68%, 35% e 83% da ingestão diária recomendada de cálcio, ferro e magnésio.
É o que revela pesquisa divulgada nessa terça (21) pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, sobre o bagaço de frutas cítricas, em especial da laranja pera, laranja hamlin, limão taiti e limão siciliano, fundamentais para o bom funcionamento do organismo.
Segundo o estudo, conduzido pela engenheira de alimentos Joyce Grazielle Siqueira Silva, é possível absorver parte significativa das quantidades diárias desses três nutrientes apenas com essa quantidade de bagaço.
Para a avaliação da bio acessibilidade foi feita a simulação em laboratório do que acontece no processo digestivo, reproduzindo as condições do estômago e do intestino em termos de pH, presença de enzimas e temperatura, com vistas a saber que quantidades dos quatro elementos quantificados no bagaço se transferem dele para a fase líquida durante o processo gastrointestinal.
É na forma solúvel que os elementos se credenciam a serem absorvidos pelo organismo, já que os que permanecem na fase sólida provavelmente serão eliminados.
Os resultados encontrados mostraram que cálcio, ferro e magnésio têm grande potencialidade de serem absorvidos pelo organismo. Mas restava saber em que proporção isso efetivamente acontece.
Os resíduos cítricos podem vir a ser utilizados em formulações industriais de bolos, sorvetes, barras de cereais, contribuindo não apenas com as funções tecnológicas relacionadas a esses produtos mas, também, para melhorar o sabor desses alimentos, enriquecendo-os. Para isso, é preciso antes deixá-lo secar por algum tempo e triturá-lo. Assim, ele ficará com aspecto próximo ao de uma farinha e não vai alterar a textura do alimento.
O bagaço das frutas ainda é inutilizado na alimentação humana. E isso ocorre num país em que a produção anual de laranjas e limões é superior a 19 milhões de toneladas — 30% da produção mundial. E a maior parte disso, cerca de 80%, é destinada à extração de sucos, o que consequentemente gera bagaço — o que corresponde a 50% da fruta. No entanto, o destino de todo esse resíduo é o lixo.