Entre as estreias desta quinta-feira (16) nos cinemas de nossa Campos dos Goytacazes, o destaque fica por conta da animação da Disney “A Bela e a Fera”. O filme vem causando controvérsia no mundo porque seu diretor, Bill Condon, afirmou que há um personagem gay, embora não participe de nenhuma cena de paixão explícita.
Após o sucesso de bilheteria de outras animações, chega, então, a hora de “A Bela e a Fera” ganhar sua releitura, realçando a questão sobre o seu valor cinematográfico, afinal, foi a primeira animação a ser nomeada ao Oscar de Melhor Filme.
O roteiro de Stephen Chbosky e Evan Spiliotopoulos adapta o original de Linda Woolverton praticamente à risca. Inicia-se a projeção com a história de como o príncipe se tornou a Fera (Dan Stevens), substituindo os belos vitrais da animação por atores desempenhando seus papéis. Amaldiçoado pela feiticeira, a Fera é condenada a viver como tal até que seja capaz de amar e ser retribuído, antes que a última pétala de uma rosa encantada caia. Parte-se, pois, para Bela (Emma Watson), uma jovem considerada estranha em seu vilarejo em virtude de sua mentalidade à frente de seu tempo e sua paixão pela leitura. Tendo de desviar dos avanços de Gaston (Luke Evans), que deseja a tomar como esposa, a vida da menina é virada de cabeça para baixo quando seu pai é aprisionado pela Fera durante uma de suas viagens — cabe a Bela resgatá-lo, mas, para isso, precisa tomar seu lugar.
Em inúmeros momentos sente-se como se estivesse diante de uma recriação plano por plano do original de 1991, com até a trilha sonora e, é claro, as canções originais sendo recriadas. O problema disso é que, invariavelmente, leva a comparar o desenho ao live-action, o que apenas prejudica a percepção desse novo longa-metragem. Do início ao fim da projeção percebe-se como se algo estivesse faltando, o longa carece de alma, soando como um processo automatizado, no qual nem mesmo Emma Watson consegue se destacar. A atriz se apresenta ausente de carisma, entregando uma atuação apática, que apenas cumpre sua função, sem realmente cativar. A imersão, portanto, é imediatamente colocada em xeque, visto que, em momento algum, consegue identificar com a protagonista que parece sem vida.
A Fera, por sua vez, conta com sérios problemas de design, especialmente seu rosto que parece chapado, com feições mais humanas que propriamente da criatura que se tornara. Na maior parte do filme o rosto do ser parece transmitir um ar de confusão do que o de ameaça tão necessária para sua persona, ao ponto que jamais acreditamos que qualquer um na obra tenha medo dele. Para piorar, o roteiro tenta amenizar sua personalidade ao torná-lo uma pessoa traumatizada pela morte da mãe e os maus-tratos do pai. A Fera deixa de ser a criatura que precisa se redimir pelas suas ações e se torna mais uma vítima nessa história, destruindo a própria essência desse conto de fadas. Realizado através de captura de movimento, em conjunto com efeitos práticos de maquiagem e cabelo, o personagem soa amplamente artificial, tanto no já mencionado rosto, quanto em sua própria movimentação. O auge, porém, ou, no caso, o fundo do poço, está na pelugem curta de seu corpo e nos chifres, que atravessam os travesseiros enquanto ele está deitado, como um vídeo-game mal finalizado.
Os outros moradores do castelo também possuem seus problemas. Lumière (Ewan McGregor) e Cogsworth (Ian McKellen) são o ponto alto, apresentando belos designs que se encaixam com sua personalidade e respeitam o modelo dos originais, com algumas modificações que se encaixam com a proposta do longa-metragem, como o fato de Lumière agora ter pernas. Isso sem falar no excelente trabalho de dublagem tanto de McGregor quanto McKellen.
Mas o maior destaque, porém, vai para o LeFou de Josh Gad, que surpreendentemente se estabelece como a voz da razão conforme o filme progride. Sua paixão por Gaston é óbvia desde o início e combina com o personagem, considerando a forma como enxerga o capitão do exército. A questão da homossexualidade aqui não é forçada à trama, servindo como elemento de construção de sua personalidade, explicando sua reverência a seu companheiro. Daí ter surgido toda a polêmica que envolve o filme pelo mundo afora e, por isso, deve bater recorde de bilheteria. Em Campos não deve ser diferente.
Permanecem em cartaz “Cinquenta Tons Mais Escuros”, “Logan”, Kong: A Ilha da Caveira” e “Moonlight — Sob a Luz do Luar”.