Saí do cinema com a forte impressão de “Manchester à beira-mar” foi escrito e dirigido por Kenneth Lonergan para o desempenho de Casey Affleck no papel de Lee Chandler. Com mais de duas horas de duração, creio que o filme poderia passar por alguns cortes na montagem. De fato, Affleck ocupa o filme todo com excelente interpretação. Ele representa um homem comum, casado e com filhos. Uma tragédia familiar muda radicalmente o rumo da sua vida. Ele se torna solitário, antissocial, agressivo no trabalho e no dia a dia.
Seu único irmão, com problemas cardíacos crônicos e também separado, morre. Lee tem de cuidar de tudo. A morte o colheu num momento inoportuno. Qualquer momento seria inoportuno para um homem com uma dor moral profunda. Mas só ele pode agir. Sua situação fica pior com a abertura do testamento do irmão morto. Ele fica como tutor do seu único sobrinho, com 16 anos.
Ambos se entendem e se desentendem o tempo todo. O tempo de viagem entre a cidade em que mora Lee e a cidade em que mora o sobrinho é de uma hora e meia. A mudança de um ou de outro não seria complicada. A ex-mulher de Lee casou-se novamente. A ex-cunhada também se casou de novo. Está estabelecido o impasse: cuidar do sobrinho e de sua herança até que ele complete 21 anos.
Não sou dos que elegem um ator como o melhor ou como o pior do mundo. Existem bons e maus atores e atrizes no mundo todo. Acontece que a maioria não consegue se desenvolver nem ganhar a notoriedade que Hollywood pode proporcionar. De todos os filmes selecionados para a premiação do Oscar, há atuações esplêndidas. Nos não selecionados, também há. Assim como, em todos, há desempenhos fracos.
“Manchester” é um filme dos Estados Unidos para um público estadunidense. Não é um filme a respeito dos Estados Unidos liderando uma luta para salvar o mundo nem um filme para exaltar o heroísmo dos nativos do país. É muito comum encontrarmos filmes em que os Estados Unidos procuram mostrar que têm de tudo, desde o herói ao anti-herói. Manchester foge aos padrões. Não existe herói nem anti-herói. Apenas um homem comum que padece de uma dor imensa e que não consegue superá-la. Daí a sua angústia profunda. O drama podia acontecer com qualquer pessoa. Por esse motivo, o filme pode ser apreciado por um público não estadunidense.
Os critérios de seleção para recebimento do Oscar não são os meus. Parece que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas procura atender a todos os selecionados a fim de evitar críticas. Em 2016, ela foi alvo de recriminações por não ter indicado nenhum negro. Em 2017, os negros dominaram a cena. É vez agora dos índios protestarem. Com todos os méritos apresentados pelos filmes premiados, não preciso fazer média. Não sei como um filme recebe o Oscar por ser o melhor e o melhor diretor é responsável por outro filme. Por isso, continuo com “La, la, land”.