Em 2017, a literatura completa 40 anos sem a escritora Clarice Lispector. Nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira, a artista será homenageada, na quinta (9) e na sexta-feira (10), no Sesi Campos, às 20h, com a apresentação do espetáculo “Simplesmente eu, Clarice Lispector”, com adaptação, atuação e direção da atriz Beth Goulart.
Em cena, é apresentada a trajetória da escritora em direção ao entendimento sobre o amor, universo, Deus, vida, morte, cotidiano, suas dúvidas e contradições. As questões são mostradas por meio de diálogos entre a autora e seus personagens. O texto foi extraído de depoimentos, entrevistas, correspondências de Clarice e trecho de romances e contos.
O primeiro contato de Beth Goulart com a obra literária da homenageada foi durante a adolescência, com a leitura do romance “Perto do coração selvagem”.
— Eu achava que não era compreendida. O que fazer com isso tudo dentro de mim, com esse processo criativo? Só Clarice me entendia — confessou a atriz.
Depois da descoberta da autora por meio da personagem Joana, uma mulher inquieta e criativa, Beth escolheu, junto a esta, outras três mulheres para a representação da história de Clarice. Entre elas, está Ana, do conto “Amor”, com uma vida simples, dedicada ao marido e aos filhos e cuja rotina é quebrada ao se impressionar com a magia do Jardim Botânico.
A professora primária Lóri, de “Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres”, mora sozinha e se prepara para a descoberta dos sentimentos. O conto “Perdoando Deus” também será apresentado em cena. Nele, uma mulher sem nome se deixa mergulhar na liberdade enquanto passeia por Copacabana, representando a ironia, a inteligência e o humor na obra da escritora. Segundo a protagonista do espetáculo, as quatro personagens “representam algumas facetas da própria Clarice”.
“Simplesmente eu, Clarice Lispector” teve estreia nacional em julho de 2009, em Brasília, no Centro Cultural Banco do Brasil.
— Usando as palavras dela, eu também estou falando de mim. Eu me revelo através de minhas escolhas — declarou Beth, que, para o monólogo, fez dois anos de pesquisa. Segundo ela, a criação do espetáculo se deu por uma única linha: o amor. — Ela falava sobre o amor maternal, o do relacionamento, o amor a Deus, à natureza, ao próximo. Escolhi esse viés para apresentá-la ao público. Eu sempre acalantei essa vontade de, um dia, poder dar meu corpo, minha voz, minhas emoções para colocá-la viva em cena.
Visto por mais de 940 mil pessoas, com apresentações em mais de 256 cidades, a peça teatral conquistou cinco prêmios: Shell 2009, APTR, Revista Contigo e Qualidade Brasil. Um dos maiores objetivos da montagem é fomentar a leitura. Por isso, após cada apresentação Beth Goulart realiza o sorteio de dois livros da escritora.
Performance com cartas — No dia 30 de março, as atrizes e diretoras Dora Pellegrino e Marcia Riscado sobem ao palco do Sesi Campos para a encenação de “Lispector com minhas queridas”. O espetáculo foi construído a partir de cartas de Clarice para suas irmãs. Os documentos foram descobertos em 2008, nos arquivos de Elisa, sobrinha-neta da escritora, e revelam não apenas a sua intimidade, mas também o seu olhar sobre o Brasil e o mundo antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial.
No espetáculo, as atrizes interpretam Clarice e suas irmãs e, embaladas pelas músicas eruditas e populares que as encantavam, falam sobre literatura, teatro, filmes, pessoas e acontecimentos que tiveram fundamental influência em suas vidas. (A.N.) (P.V.)