"A Grande Muralha" gera prejuízo
04/03/2017 15:53 - Atualizado em 06/03/2017 11:39
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A parceria entre Hollywood e China, hoje o mais atraente mercado consumidor de cinema no mundo, pode subir no telhado. Ou melhor, na muralha. Um dos micos desta temporada, o filme “A Grande Muralha”, estrelado por Matt Damon, pode resultar num prejuízo colossal de mais de 75 milhões de dólares, de acordo com reportagem do site da revista americana The Hollywood Reporter. Um prejuízo de esfriar os ânimos dos investidores antes ávidos pelo circuito chinês.
A luz amarela foi acesa com o desempenho do filme na China, onde arrecadou 171 milhões de dólares, muito menos que o esperado. Na América do Norte, como é chamado o mercado que reúne Estados Unidos e Canadá, o longa teve performance ainda pior: 34,8 milhões de dólares.
Para a Universal Pictures, que arcou com 25% do orçamento de 150 milhões de dólares, além das despesas com marketing pelo mundo, estimadas em 80 milhões de dólares, a perda pode ser de 10 milhões. O restante foi pago em partes iguais por três produtoras: a Legendary Entertainment, a China Film Group e Le Vision Pictures. Para dar lucro, um longa-metragem precisa fazer uma quantia três vezes maior que aquela que se investiu nele. No mundo todo, “A Grande Muralha” deve alcançar 320 milhões de dólares, abaixo, portanto dos 450 milhões que precisaria fazer.
“A fusão dos dois maiores mercados de cinema do mundo vai eventualmente acontecer, mas o início fracassou”, disse o analista de bilheterias Jeff Bock, ouvido pela Hollywood Reporter.
Durante festa do Oscar foi tema de várias piadas
“A Grande Muralha” foi tema de piadas no Oscar deste ano. O apresentador Jimmy Kimmel ficou cutucando Matt Damon. Achou legal que o parceiro de Ben Affleck — ganharam o Oscar de roteiro por “Gênio Indomável” — não tenha sido egoísta, deixando que Casey Affleck estrelasse “Manchester à Beira-Mar”. Mas ironizou — se foi para fazer “A Grande Muralha”, foi uma escolha desastrosa. O filme não pagou salário de Damon. O longa encontra-se em cartaz nos cinemas da cidade. É tão ruim que, eventualmente, pode-se tornar divertido.
Como indica o título, o filme é uma ficção sobre a Grande Muralha da China, considerada uma das maravilhas da humanidade. De cara, o público é informado de que são muitas as lendas que a cercam. E começa o relato de uma delas. Dois estrangeiros, um deles Matt Damon, fogem pelos cânions perseguidos por um grupo. Buscam, na China, o segredo da pólvora. Feitos prisioneiros, são levados para uma fortaleza, na muralha. O local está sob o ataque de vermes gigantescos que representam a maldade dos humanos. A trama desdobra-se em relatos de traição, amizade e fidelidade. Tem até um romance que não evolui. Zhang Yimou tem olho para a beleza. Cria imagens belíssimas, mas elas são decorativas, suntuosamente filmadas (e coloridas). No conjunto, o filme é raso. Tem a figura da mulher, que tanto seduz o diretor. Um blockbuster desses não precisaria de um autor como Zhang Yimou.
Zhang Yimou foi o diretor chinês que impôs no Ocidente a chamada “quinta geração” do cinema de seu país. Ganhou inúmeros prêmios em festivais. Por “O Sorgo Vermelho”, “Amor e Sedução”, “Lanternas Vermelhas” etc, todos interpretados por Gong Li. Cineasta de prestígio, Yimou começou a administrar orçamentos cada vez maiores. Fez filmes de ação — bons, como “O Clã das Adagas Voadoras”. Dirigiu o show de abertura da Olimpíada de Pequim. E terminou à frente da produção de “A Grande Muralha”. (A.N.)

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