O destaque na programação dos cinemas de Campos, que começa nesta quinta (2), é, sem dúvida, “Logan”. Com 17 anos desde sua primeira aparição nos cinemas, nenhum ator na história teve uma carreira como a de Hugh Jackman e seu Wolverine, personagem mais icônico e adorado dos X-Men. Contabilizando nove filmes entre participações coadjuvantes, filmes solo e cameos em filmes da equipe, o Carcaju sempre esteve muito bem representado pelo ator australiano, que agora prepara-se para um adeus com “Logan”, segunda grande aposta da Marvel-Fox em um filme do gênero para maiores de 18 anos. Com isso, o terceiro filme solo do Wolverine é seu melhor e mais profundo, e um dos filmes de quadrinhos mais únicos e fascinantes que tivemos nos últimos anos.
Assim como a maioria dos filmes do universo, continuidade não é algo importante no início da trama. Dessa vez, estamos em 2029 e encontramos Logan em sua pior fase: seu fator de cura está debilitado, uma tosse nunca deixa de perturbá-lo, abusa do álcool e trabalha como motorista de limusine em um mundo onde os mutantes estão praticamente extintos — e os X-Men, destruídos e adaptados para quadrinhos. A grande devoção de Logan enquanto junta trocados entre serviços é cuidar de Charles Xavier (Patrick Stewart), que sofre de demência e apresenta um risco para todos ao seu redor graças ao descontrole de seu poder. Tudo ganha um novo significado quando a menina Laura (Dafne Keen) cruza o caminho de Logan, com uma enfermeira mexicana implorando para que ele a leve em segurança dos mercenários que a perseguem.
É um filme que se difere de outras adaptações de quadrinhos e do selo Marvel de muitas maneiras. Temos um retrato melancólico e debilitado de um universo outrora tão colorido, soando como uma mistura esperta entre Filhos da Esperança (adicione também o fato de que “nenhum mutante é nascido há anos) e Mad Max, com o visual próximo de um western e que concentre boa parte de sua ação na estrada e na fronteira entre os EUA e México. O fato de termos uma censura mais alta também contribui para uma experiência mais selvagem e perigosa, com membros sendo decepados e sangue jorrando a todo o instante, consequência natural de um protagonista cuja principal habilidade reside em garras de metal, claro — o próprio fato de vermos sangue entre as garras já nos permite sentir melhor como a arma fere as mãos do protagonista. Wolverine e todos os personagens xingam, brigam e parecem completamente perdidos nesse futuro que é quase apocalíptico, e que o designer de produção François Audoy é inteligente ao equilibrar seus aspectos mais decadentes (a fronteira, a cúpula de Xavier) com aspectos definitivamente contemporâneos, vide o hotel cassino que abriga o grupo em certo momento da projeção.
Quando Laura entra no jogo, temos uma das melhores experiências do ano. A garotinha claro, é a mutante X-23, uma feroz assassina que também possui garras (um par em cada mão, além da nitidamente desconfortável presença de uma em cada pé) e saiu do mesmo programa Arma X que criou o esqueleto de adamantium do Wolverine. A partir daí, o roteiro de Scott Frank, Michael Green e do diretor James Mangold transforma-se em um road movie como poucos, com o cansado Logan, a silenciosa Laura e o debilitado Xavier formando o trio mais incomum na situação mais peculiar possível. “Logan”, por certo, vai atrair a atenção dos espectadores campistas.
Permanecem em cartaz “Cinquenta Tons Mais Escuros”, “Monster Trucks”, “Internet — O Filme”, “A Grande Muralha”, “La La Land — Cantando Estações”, “Até o Último Homem “ e “Lion — Uma Jornada Para Casa”.