Militares do 38º Batalhão de Infantaria começam a atuar no ES
Daniela Abreu e Mário Sérgio Junior 06/02/2017 19:49 - Atualizado em 13/02/2017 12:46
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A violência tem se tornado cada vez mais evidente nos últimos dias. Se em Campos, com o trabalho intenso da Polícia Militar (PM), o número de vítimas de homicídios tem aumentado consideravelmente, no estado do Espírito Santo, cuja divisa fica a 65 km de distância da área central campista, a situação tem se tornado pior nos últimos três dias por conta de uma paralisação dos policiais militares. Sem a PM nas ruas da Grande Vitória e de alguns municípios do interior do Espírito Santo, como Guarapari (praia que tem sido destino frequente de campistas), os criminosos estão aproveitando para saquear lojas, cometer assaltos e roubar carros.
Segundo o Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo (Sindipol), foram registradas 68 mortes violentas em três dias de protesto. Para amenizar o caos que se instalou na área capixaba, o Governo do Espírito Santo solicitou reforço das Forças Armadas e o Governo Federal autorizou a ida de 200 homens para apoiar a segurança em Vitória, capital do ES.
Na noite desta segunda, após um dia marcado por saques em lojas, assaltos e mortes, militares do 38º Batalhão de Infantaria, em Vila Velha, deixaram a corporação em nove carros para começarem a atuar na rua. Durante a passagem pelas ruas de Vila Velha, os militares receberam apoio da população.
A segunda foi marcada por variados crimes em vários municípios do ES. Em Vila Velha e em Cachoeiro de Itapemirim, moradores foram flagrados saqueando lojas. Em Itapoã, praia de Vila Velha, guardas municipais chegaram a ser baleados durante tiroteio. A Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos, em Vitória, chegou a atender cerca de 200 pessoas em apenas um dia.
O secretário de Segurança Pública do ES, André Garcia, informou que, mesmo com a chegada dos 200 homens da Força Nacional, o efetivo pode ser maior, de acordo com a demanda. “Além dessa força extra para policiamento do Estado, já determinamos o expediente operacional e a suspensão de férias. Com isso, estamos retornando com a Polícia Militar para as ruas, em duplas, e realizando o patrulhamento a pé. Nosso objetivo é garantir a lei da ordem no nosso Estado,” afirmou o secretário.
Já o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Nylton Rodrigues, as reivindicações são legítimas, mas a população não pode pagar por isso. “É inadmissível os capixabas ficarem à mercê da violência. Desta forma, Rotam e o BME farão o patrulhamento motorizado nas ruas, além dos policiais da rádio patrulha e da Patrulha da Comunidade”, disse.
O coronel Nylton acrescentou ainda que a Força Nacional vem para o Estado para somar esforços junto às ações da PM. “Devemos retomar, gradativamente, a ordem pública para que a população volte às suas atividades, pois o policiamento está retornando às ruas. Estamos reunindo todos os esforços para normalizar a situação o mais rápido possível”, concluiu.
Viajantes falaram sobre tensão no estado
A paralisação da Polícia Militar do Espírito Santo deixou todo o estado em situação de caos. Os protestos começaram na manhã da última sexta-feira, quando as frentes dos batalhões foram ocupadas por familiares, em sua maioria mulheres, entre mães, namoradas, filhas e outros parentes de militares. Segundo o ministro da Defesa, Raul Jungman, até a manhã desta terça o efetivo solicitado para manter a ordem estará nas ruas e há disponibilidade para aumento no contingente, caso necessário, até que a ordem seja restabelecida. Em Campos, quem quis seguir para o estado vizinho não teve dificuldade, assim como quem precisava retornar.
A ação do Governo do Espírito Santo para restabelecimento da ordem começou efetivamente na manhã desta segunda. Durante todo o final de semana, vídeos circularam nas redes sociais retratando a situação de caos e avanço da violência e aumentando a situação de insegurança de quem estava em qualquer município do Estado e também de quem estava longe e tem parentes lá.
Na rodoviária Shopping Estrada, em Campos, passageiros que seguiam para o Espírito Santo ou chegavam do estado vizinho falaram sobre a situação. Antes de retornar do embarque, Ruben Pereira, de 38 anos, morador de Vitória, ficou sabendo da situação. A esposa contou que está trancada com os filhos no apartamento e que não poderia buscá-lo de taxi na rodoviária por conta do risco de assalto. “Ela me ligou e contou o que está acontecendo lá. A gente mora em um prédio e nem as crianças estão descendo para brincar no condomínio por medo de invasão. Eu desembarquei e só espero conseguir chegar em casa, por que eu nem imagino o que vou encontrar lá”, disse.
Já Luciano Melo, motorista do ônibus que levou Ruben de volta para casa, contou que pelo menos três de seus conhecidos foram assaltados nos últimos dias, perdendo carro e motocicletas. No trabalho, não há indicação da empresa para interromper as viagens.
— Na rodoviária está normal, com bem menos movimento e só os guichês funcionando. Na cidade está tudo parado, tudo fechado, comércio, banco, hospitais, escolas públicas, tudo fechado. Quando eu cheguei ontem, em frente à garagem um colega foi assaltado e meu vizinho perdeu o carro. O trânsito nas ruas está normal, mas policiamento não tem nenhum — contou o motorista.
Campos registra sete mortes em seis dias
O município de Campos já contabilizou sete assassinatos em seis dias do mês de fevereiro. O último homicídio aconteceu na estrada principal de Montenegro, na noite do último domingo. A vítima foi identificada como José Elias Nunes da Silva, de 36 anos, e era morador do Parque Vera Cruz, em Guarus. O corpo foi levado para o Instituto Medico Legal (IML).
Na manhã de domingo, Walace Reis Nogueira, 41 anos, foi morto por diversos disparos de arma de fogo, enquanto pedalava na rua 4, da comunidade Sapo I, no Parque Eldorado.
Já na tarde de sábado, Ex-trompista da Orquestra Sinfônica Mariuccia Iacovino, da ONG Orquestrando a Vida, foi morto a tiros, por volta das 18h30 de sábado (4), enquanto caminhava na rua Álvaro Cristiano de Assis, no Parque São José, em Guarus. Marlon da Conceição Gomes, de 21 anos, conhecido como Bolacha, e era morador do Parque São Silvestre, chegou a ser socorrido e encaminhado para o Hospital Ferreira Machado (HFM), no entanto, não resistiu aos ferimentos e morreu ao dar entrada na unidade hospitalar. O músico, que também trabalhava como eletricista deixou esposa e filha de três anos.
Na noite da última sexta-feira, um jovem de 22 anos, identificado como Rodolfo de Souza Mothé, também foi morto a tiros.
No início de fevereiro, Campos registrou mais três homicídios.

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