Jhonattan Reis, Camilla Silva e Marcus Pinheiro
10/02/2017 06:58 - Atualizado em 11/02/2017 18:57
Familiares de PMs protestam
Familiares de PMs protestam
Familiares de PMs protestam
Familiares de PMs protestam
Familiares de PMs protestam
Familiares de PMs protestam
Depois de uma quinta-feira de preocupações por parte da população de Campos, com temor que a cidade passasse pela mesma situação que os municípios do Espírito Santo enfrentaram desde a semana passada, quando um movimento impediu a saída dos policiais militares dos batalhões, nesta sexta o dia foi marcado pela incerteza em relação à segurança do município. A sensação de medo não aconteceu apenas em Campos. Em Macaé, os moradores também ficaram apreensivos e o prefeito Dr. Aluízio chegou a oferecer pagar o 13º salário dos policiais que atuam no município para dar um fim no movimento. Enquanto em Campos a situação parece apenas começar, no Espírito Santo o governo chegou a um acordo com associações de policiais militares.
Em frente ao 8º Batalhão da Polícia Militar (BPM), nesta sexta, cerca de 20 familiares fizeram um protesto pacífico ao longo do dia. Segundo o comandante do 8° BPM, tenente-coronel Fabiano Santos de Souza, apesar de o acesso principal da unidade militar ter sido obstruído, o ato não comprometeu as atividades de patrulhamento ostensivo, em toda a área de abrangência do batalhão, que contempla, além de Campos, outros três municípios da região Norte Fluminense. Para este sábado (11) estão previstas novas ações em frente ao 8º BPM.
Pelo menos quatro mulheres passaram a noite em frente ao batalhão de Campos e, na manhã deste sábado, duas ainda resistiam e mantinham o protesto acreditando que o movimento recebesse reforços. No entanto, por volta das 11h, já não havia manifestantes no portão no 8º BPM.
— Eu não gosto de desistir, mas estamos em minoria e fica difícil manter. Mas a qualquer momento, o grupo pode aumentar — disse a mulher, parente de um PM.
Por volta das 6h desta sexta, os portões do batalhão estavam da mesma forma que amanhecem todos os dias: apenas marcados pela troca de plantão de militares. Porém, por volta das 8h, um grupo de oito mulheres iniciou protesto no local. Ao longo do dia, outras manifestantes se juntaram ao ato e, com cartazes, elas informaram que se espelham nos movimentos que acontecem no estado capixaba e que se reuniram por meio do WhatsApp. De acordo com o grupo autointitulado “As Marias”, o manifesto (em frente ao 8º BPM) irá resistir até que o Governo do Estado atenda as demandas reivindicadas, que são: pagamento dos salários de dezembro e janeiro; do 13°; do Regime Adicional de Serviço e dos prêmios por cumprimento de metas. O grupo exige ainda, o pagamento de gratificações, adicional noturno e insalubridade.
— A gente se espelhou muito no que está acontecendo no Espírito Santo. Só que não estamos querendo aumentar os salários, mas receber o que o Estado está devendo. No início, o grupo contava com 11 pessoas, entre familiares e apoiadores. Agora, surgiram vários apoios em outros grupos, então, não temos uma contabilidade correta. Queremos melhorias — disse Marcelly Rodrigues, 26 anos, esposa e filha de policiais militares.
No final da tarde desta sexta, os familiares saíram em passeata pelas ruas próximas do 8º BPM, com os cartazes e um carro de som. O ato gerou engarrafamento em uma das principais vias de Campos, a rua Tenente Coronel Cardoso (antiga Formosa). Houve ainda um “adesivaço”, com a inscrição “Rio em Luto”, promovido pelo Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais (Muspe), que assim como o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do RJ (Sepe), apoia a mobilização das familiares dos militares.
No início da noite, o comandante do 8° BPM, tenente coronel Fabiano Santos de Souza, conversou com as mulheres, na tentativa de dissuadir a permanência do manifesto: “Eu vim conscientizá-las, de forma amigável, a respeito das demandas da população, e para que não venham a impedir que as viaturas saiam do batalhão, como não aconteceu até o momento. Na minha concepção, o objetivo do manifesto já foi alcançado, que seria de chamar a atenção da mídia e da sociedade para as causas defendidas pelo grupo. Nós temos que pensar em nossas famílias, e não deixar acontecer o que aconteceu no estado vizinho”.
Medo faz população realizar medidas preventivas
Nessa quinta-feira (9), a população de Campos já estava em alerta e acordou apreensiva nesta sexta por conta dos supostos comunicados de que familiares de policiais iriam protestar em frente à sede do 8º BPM e bloquear a saída dos agentes às ruas. Proprietários de lojas chegaram a remover mercadorias dos estabelecimentos e até a colocar tapumes ou grades nas portas.
Diversas escolas particulares não funcionariam nesta sexta-feira por conta da possibilidade do movimento, “pela segurança dos funcionários e alunos”, segundo informaram.
Na manhã desta sexta, no Instituto Federal Fluminense (IFF) campus Centro, apenas cerca de 20% dos estudantes compareceram à instituição, segundo o assistente de alunos Lúcio Alves Ferreira Gomes. Estudante do curso de Mecânica do IFF, Maria Luiz Monteiro Serafim, 19 anos, foi à unidade no início da manhã, mas foi uma das poucas da turma dela. “Conversamos sobre não virmos às aulas, mas procuramos informações, avaliamos as possibilidades e decidimos que não podemos parar, porque o calendário está muito atrasado. Claro, a não ser que a instituição suspendesse as aulas. Mesmo assim, a maior parte das turmas não veio”, disse. Já a grande maioria do comércio abriu normalmente na cidade.
Acic e entidades parabenizam Comando do 8º BPM e toda corporação
O recente episódio do cerceamento do direito de trabalhar imposto pelas mulheres dos PMs capixabas aos seus maridos na segurança de milhares de cidadãos residentes na região da Grande Vitória, trouxe também preocupação a sociedade fluminense.
Entretanto, em reunião ocorrida na tarde de sexta, na 2ª Companhia do Exército, sediada em Campos dos Goytacazes, os representantes da Associação Comercial e Industrial de Campos, Acic, da Câmara dos Dirigentes Lojistas – CDL, Sindicato do Comércio Varejista e Clube dos Amigos da Rua João Pessoa e Adjacências – Carjopa, resolveram agradecer de público ao Comandante do 6º RISP, Tenente-Coronel Baracho e ao Comandante do 8º BPM, Tenente-Coronel Fabiano Santos Silva, e toda corporação pela decisão de manter a ordem nas ruas, garantindo a segurança dos cidadãos campistas, sanjoanenses e fidelenses.
As entidades representativas de classe compreendem que o estado do Rio de Janeiro vem passando por uma grave crise financeira, e que o salário destes profissionais que zelam pela segurança e a ordem nas ruas da cidade ainda é ínfimo diante do grau de responsabilidade que cai sobre os vossos ombros.
Ambos presidentes da Acic e do Conselho Comunitário de Segurança, foram enfáticos em elogiar a postura do Comando e de todos os policiais da nossa região por não aderir a um movimento de greve, mas de negociar com o Estado e continuar a trabalhar para manter a paz e a segurança na nossa região.
- Devemos salientar o trabalho que a PM de nossa região, Campos e Itaperuna, vem fazendo para manter a paz, a segurança e a ordem, evitando e filtrando problemas que possam advir do solo capixaba, concluiu Cordeiro.
Macaé e Região dos Lagos
Protestos de familiares de PMs também ocorrem em Macaé e na Região dos Lagos desde a manhã desta sexta-feira. Em frente à sede do 32º BPM, em Macaé, e do 25º BPM, em Cabo Frio, grupos tentam impedir a saída e a entrada de agentes das unidades.
Em Macaé, segundo o comando do 32º BPM, mesmo com a manifestação, o policiamento é normal na cidade. De acordo com o comando do 25º BPM, o policiamento também é normal em todas as cidades de cobertura: Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Armação dos Búzios.
Em Cabo Frio, onde um grupo de cerca de 30 pessoas acampou em frente ao quartel com cartazes e faixas, a troca de turno começou a ser feita na rua para manter o policiamento normalizado.
Protestos em 27 batalhões do Rio
Desde o início da manhã, parentes de policiais concentram-se em frente a 27 batalhões do Rio de Janeiro. Em quatro unidades, há bloqueios que impedem a entrada e saída de carros: nos batalhões do Méier (3º BPM), Tijuca (6º BPM), Mesquita (20ª BPM) e Campo Grande (40º BPM). O Major Ivan Blaz, porta-voz da PM, afirmou que até às 7h30 desta sexta-feira, mais de 80% das tropas já estavam nas ruas realizando o policiamento em todo o Estado do RJ. Por volta de 8h30, ele afirmou que o número era de 95%.
O comando das unidades está mantendo diálogo com os manifestantes para que suspendam o bloqueio. Segundo a PM, mesmo assim, o policiamento não foi afetado.
De acordo com a assessoria de imprensa da PM, os parentes reivindicam pagamento do 13º salário, do Regime de Adicional de Serviço (RAS) pelo trabalho nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos e das metas atrasadas.
Estratégias - O secretário estadual de Segurança Pública, Roberto Sá, garantiu que foi adotada uma estratégia para garantir a normalidade na troca de turno dos policiais militares nos batalhões na tarde desta sexta-feira.
Roberto Sá afirmou que se reuniu com o comandante da corporação e o governador Luiz Fernando Pezão para se antecipar à situação e evitar interferência na rotina da cidade. “Cuidamos para que a manifestação, mesmo justa, não interferisse na rotina da nossa sociedade. Estabelecemos uma estratégia para que a tentativa de interrupção não afetasse as trocas de turno e o patrulhamento da cidade”, garantiu.
– Dezesseis milhões de pessoas não podem ficar reféns, com riscos de ser vitimadas pela violência em razão da manifestação. O próprio policial e suas famílias podem ser vítimas de qualquer atividade criminosa. Agradeço a demonstração de profissionalismo dos PMs e peço reflexão aos manifestantes. A causa é justa. Mas as polícias, em especial a PM, não estão desassistidas. O pagamento de janeiro vai ser feito até o décimo dia útil e, na semana que vem o governador conseguindo resolver as negociações no STF e na Alerj, imediatamente serão adotadas medidas administrativas para pagar o 13º salário, o RAS e as metas. Vamos ultrapassar essa dificuldade – disse Sá.