Matheus Berriel
19/02/2017 10:52 - Atualizado em 22/02/2017 11:57
No final deste ano, Campos deverá voltar a receber uma exposição da pintora e escultora Pietrina Checcacci. A informação é da própria artista, que esteve de passagem na cidade na última quinta-feira (16), para aniversário de uma pessoa próxima, e falou sobre a fase atual de seu trabalho. Data e local da exposição ainda serão definidos.
– Meu trabalho mudou muito nos últimos anos. A arte tem essa coisa contínua, com um passo atrás do outro. Sempre sai alguma coisa velha e surge algo novo. Uma fase vai crescendo e a outra sumindo, com uma renovação natural. Andei trabalhando em algumas pinturas femininas, com distorções de foco e ângulo. Eu me perguntava e não sabia o que estava fazendo, nem o motivo. Mas eu sabia que era aquilo que eu queria fazer; era importante naquele momento. Então, continuei fazendo, porque uma hora a resposta viria. Veio há uns 15 dias e fiquei muito feliz – disse a artista, fazendo uma crítica à falta de originalidade das características humanas nos dias atuais.
“Hoje, quase tudo é falso. O cabelo, o dente, o peito, as unhas.... É quase tudo falso, e o resto se conserta com photoshop. As pessoas usam o facebook, as redes sociais, para mostrar algo que quase sempre não é verdadeiro. Então, coloquei isso no meu trabalho para que esta falta de originalidade seja percebida. Não que seja uma falsidade ruim, mas é uma falta de verdade. Não podemos nos esquecer das coisas verdadeiras. Vejo isso como a pós-verdade”, enfatizou.
Nascida em Taranto, na Itália, em 1941, Pietrina Checcacci veio para o Brasil aos 13 anos. Na transição da adolescência para a fase adulta, estudou na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, onde mora até os dias atuais. Naturalizou-se brasileira e perdeu a cidadania italiana, que só foi recuperada 30 anos mais tarde. Hoje com dupla cidadania, a artista não esconde o carinho pela terra que a acolheu: “Quando cheguei, já me via racionalmente italiana, porque fui criada lá. Mas, emocionalmente, eu sou brasileira”, diz.
Com diversas obras premiadas e expostas em museus renomados no Brasil e no exterior, Pietrina já apresentou alguns de seus trabalhos em Campos em várias oportunidades. Uma das exposições, na década de 90, aconteceu na Pecuária (Fundação Rural de Campos), com indicação da proprietária da extinta galeria Picasso. O evento teve apoio da Folha da Manhã, que possui obras da artista em seu acervo. “Fiquei sabendo que muita gente gostava de ir à feira do gado, e não vi nenhum problema em expor lá. Fizemos e foi um sucesso. E o melhor, não choveu (risos)”, recordou a artista.
Apesar de já estar ligada à arte há mais de 50 anos, Pietrina ainda se surpreende ao ver uma obra feita por ela exposta em locais de renome. Aconteceu recentemente, durante uma visita ao Museu Nacional de Belas Artes, no Rio. “Mais do que gratificante, é uma sensação muito estranha você ir a uma exposição e ver seu quadro pendurado na parede do museu. Representa uma velhice extrema, fiquei muito preocupada”, brincou, com o bom humor de sempre. Para ela, o segredo de tantos sorrisos está na própria arte.
– Qualquer criança, inicialmente, é um artista maravilhoso. A educação que se dá vai matando essa energia, deixando a pessoa quadrada. Se as escolas pudessem segurar essa criatividade, esse talento que todas as crianças têm... A arte é o que dá sentido à vida. Digo que só a sexualidade e a arte são sorridentes. O resto é tudo sério – enfatizou.