"A gente precisa uma da outra"
Rodrigo Gonçalves, Cláudio Nogueira e Matheus Berriel - Atualizado em 18/11/2023 09:03
Josiane Morumbi
Josiane Morumbi / Genilson Pessanha
É convocando as mulheres para uma participação mais efetiva na política e à luta por equidade nos diferentes segmentos, além do combate às diferentes formas de violência as quais são expostas, que a ex-vereadora e subsecretária municipal de Políticas para Mulheres, Josiane Viana, a Josiane Morumbi, espera ver mudada a sociedade “estruturalmente machista”. Suplente de vereadora nesta Legislatura, ela vê na ausência de mulheres entre os 25 vereadores o reflexo disso. “A Câmara, hoje, é estruturalmente machista. Eu não estou chamando vereador nenhum de machista”. Para mudar esse cenário, diz que é necessária uma maior sensibilização de que é importante ter representação feminina. “Só vamos conseguir essa ascensão se a gente puder contar umas com as outras”, completou. Como integrante do governo Wladimir e ex-vereadora, Josiane avaliou a gestão do prefeito e as movimentações na Câmara. “Na questão da reeleição, acho que vai em primeiro turno, porque Wladimir conseguiu alcançar as classes que a família dele não alcançava”, destacou Josiane, que estará no próximo dia 23 na sede do Legislativo presidindo uma audiência pública, que vai tratar, entre outros assuntos, sobre violência contra as mulheres dentro do ambiente político.
Audiência pública — Vai ser extremamente importante, porque a gente vai trazer temas específicos para que a gente consiga depois montar o pacto de enfrentamento à violência no município de Campos. Existe uma legislação estadual hoje que nos apoia também a montar esse pacto. Antes não tinha, só tinha nacional, porque a gente não tinha uma secretaria estadual da mulher. Hoje, a gente tem. Por isso, eu repito: Campos, pelo seu tamanho, já merece ter uma secretaria (municipal) da Mulher, não sub; com orçamento, com uma equipe mais ampla, para a gente sair mais dos muros, além do atendimento do Ceam, da subsecretaria. Teve a sensibilidade do prefeito, de pela primeira vez ter montado uma subsecretaria da Mulher. Ele teve muita sensibilidade, me dá apoio, enfim. Mas, a gente precisa avançar. Estou falando isso porque já falei com ele. A primeira-dama é muito parceira minha, a gente tem conversado sobre isso. Sobre a audiência, vai ser no dia 23/11, na Câmara Municipal de Campos, das 13h30 às 17h. A gente vai ter a nossa defensora pública Aline Barroco, que vai falar sobre como essas políticas públicas afirmativas chegarem de forma bem eficaz na população-alvo, que são as mulheres. A gente vai ter uma médica, falando sobre a violência obstétrica, que é uma violência muito silenciada ainda, (...) vai trazer a importância dos movimentos sociais e dos conselhos para a gente criar a política pública e trazer projetos que abracem a todas as mulheres, em todos os ambientes. Além disso, teremos uma parlamentar para falar sobre a violência que a mulher vivencia dentro do ambiente político. Vamos ter a Thais, que é a nossa psicóloga, falando sobre a saúde mental dessas mulheres, junto com uma enfermeira da saúde mental. A audiência pública eu levei para que o Conselho Municipal de Direitos da Mulher aprovasse. Estou no conselho como presidente, hoje na gestão do órgão público.
Bandeiras ao se candidatar pela primeira vez — Como era do setor empresarial, vim com a bandeira do desenvolvimento econômico, dessa ascensão de Campos ser reconhecida como um polo industrial, enfim. Mas, lá dentro da Câmara, eu vi que, como parlamentar, eu teria que enfrentar e enfrentei muitas dificuldades para ser ouvida, para não ser calada, para ser respeitada pelos outros colegas; dificuldades de o ambiente político ser um ambiente extremamente masculinizado; de me falarem assim: “Você quer que os seus projetos de lei vão para a pauta? Então, pula para o nosso lado. Você sabe como funciona a política. Por que você está aí ainda?”. Eu ouvi isso várias vezes, diversas vezes. E eu nunca cedi, porque eu acho que a maior coisa que o ser humano tem que ter é essa dignidade de palavra, de você lutar por algo em que você acredita. Eu não estou na política para me enriquecer, estou para escrever minha história, contribuir enquanto eu tiver oportunidade. Eu levo muito a sério a oportunidade que eu tenho do trabalho, não só dentro da política. Como profissional, eu tenho 26 anos de formada em nutrição. Fui assim em tudo quanto é lugar: na área offshore, numa grande empresa, numa pequena empresa, numa usina de açúcar e álcool que eu trabalhei, enfim. Então, eu vi as dificuldades de nós, mulheres, nos destacarmos dentro de um ambiente muito masculino, que tinha 25 vereadores e só quatro vereadoras. Então, eu desenvolvi essa (forma de atuação). Sou apaixonada pelos direitos das mulheres, e eu acho que a gente tem que contribuir. Em qualquer lugar a gente precisa colocar as mulheres que realmente tenham essa disposição, que não tenham medo de se posicionar. Têm que estar em cargos de poder, de decisão, por exemplo. Não entenderam o que eu falei em uma entrevista e repito aqui: a Câmara, hoje, é estruturalmente machista. Eu não estou chamando vereador nenhum de machista, até mesmo porque eu tenho amigos muito queridos, próximos a mim, dentro da Câmara; que são parceiros mesmo. Eu falo de estrutura machista, porque só tem homem lá. Hoje, a comissão de Direitos da Mulher na Câmara é presidida por um vereador, que eu também gosto muito, que é Fred Rangel. Tem mais outros dois vereadores, um é até o Silvinho, com quem também tenho muita intimidade. Mas, é uma estrutura masculinizada. A gente precisa, enquanto mulheres, mudar isso. E eu acho que as mulheres despertaram muito. A gente precisa trabalhar nesse despertar. É importante a gente ter mulheres no ambiente político. As mulheres precisam incentivar (...) Quando você, mulher, propõe uma legislação para abraçar e chegar até outras mulheres, é importante você ter a sensibilidade feminina na elaboração e pensar na execução. O homem pode até ter essa sensibilidade, às vezes ter uma assessora mulher, mas é diferente de ser mulher. Era uma das minhas propostas fazer um curso, fazer uma capacitação específica para as mulheres atuarem dentro da política. É uma grande oportunidade de a gente fazer legislações que mais nos favoreçam. Eu não consegui por conta de não ter braços para execução. Por exemplo, eu acho que eu era a única mulher presidente de um partido na última eleição. Não lembro se eu era a única, mas acho que era. E as mulheres do meu partido tiveram votos e mais votos. Elas eram realmente candidatas. Eu incentivava, eu ensinava. Com meu pouco conhecimento, eu ensinava como atuar dentro de uma reunião, como elaborar uma reunião, como chamar a comunidade para as reuniões, como se posicionar na rede social, como utilizar a rede social. Então, todas as mulheres que foram candidatas no nosso partido, o Pros, realmente tiveram chances reais. Eu não me sinto ameaçada quando eu tenho uma colega que também tem essa facilidade da oratória e que sonha em ir para a política. Não me sinto ameaçada de forma nenhuma. Eu me sinto incentivada de pensar que vou ter uma colega tão competente, tão ansiosa, desejosa de que esses avanços aconteçam.
Cota de cadeiras para mulheres — Seria não só para participar do pleito, estar presente na nominata.“Ah, o mínimo de mulheres é 30%. É tão difícil conseguir 30% de mulheres que tenham perspectiva de voto”. Não! É perspectiva de 30% de ocupação de cadeiras. Quem não votou a favor? Os homens! São eles que estão na Câmara Federal. Isso não foi adiante porque foram homens que votaram no contrário. Eles são a maioria hoje no Legislativo. Se não for dessa forma, meio que da imposição, quebrando um pouco as regras, não vamos encurtar esse espaço. É igual à questão dos negros também. É preciso dar esses avanços para a gente ter essa presença de quem não tem representatividade dentro de alguns espaços. Se não for dessa forma, vai ser muito difícil. Eu acho que a gente tem mulheres que querem essa mudança. Estamos mais disposta. Precisamos de ter um número maior de mulheres também que tenham essa disposição, mas as regras têm que ser um pouco mais incisivas para, de fato, você ter aqueles 30% das mulheres em cadeiras. Na verdade, a gente ainda está atrasado. Tem um monte de parlamento mundo afora em que são 50% e 50%. 
Partido — Já recebi alguns convites, já estive conversando com alguns colegas. Mas, essa questão da nominata ajuda muito a você ter êxito. Não estou indo como da primeira vez, quando eu vim e não sabia nem o que era ser candidata. Eu não sabia como eu fazia uma reunião política, tive que aprender tudo. Como eu vou para a tentativa do terceiro pleito, eu acho que a gente está um pouco mais esclarecida para observar as nominatas, ver as possibilidades. Eu acho que o prefeito realmente quer essa presença feminina. Não vou negar que ele até tentou fazer um esforço de me levar para a Câmara, mas doutor Edson não quis abrir mão do mandato dele, e ele tem total direito disso. Nós dois temos 21 votos de diferença, foi quase novamente. Mas, eu acredito muito que eu estou onde Aquele lá de cima queria. Tem outras colegas, é claro, não estou me gabando aqui, mas tinha que ter uma pessoa com esse pulso forte. Eu sou uma boa gestora. Fui boa no Legislativo, mas eu sou boa gestora. Isso não é só porque estou na política, é história profissional (...) A possibilidade de voltar para a Câmara me incentiva muito também, diariamente. Então, de fato, eu já recebi alguns convites. Mas, a gente tem um líder. Eu tenho o meu chefe, meu prefeito. Vou conversar com ele para ver onde tenho mais chances, isso é óbvio. Mas, tem algumas ideologias políticas que não abro mão. Então, não é para qualquer partido que eu vou. 
Voto feminino — É a gente incentivar e começar com o dever de casa dentro do nosso lar. O homem pode até votar em outra pessoa, mas a mulher é a representante da mulher. Escolha uma mulher que tem mais a ver com você, que fala a sua língua. Olhe para as suas filhas e pense que você quer um futuro melhor para as suas filhas em questão de direitos. E que a representante mulher não deixe de ter essa sensibilidade. A gente precisa uma da outra. Se não for dessa forma, vai ficar muito difícil. A gente precisa que as mulheres sejam sensibilizadas de que é importante a gente ter representantes femininas. Só vamos conseguir essa ascensão se a gente puder contar umas com as outras. 
Avaliação do governo Wladimir — Acredito (na reeleição no primeiro turno). Tive uma experiência muito ruim de estar na vereança com um gestor que realmente não fazia acontecer. Eram muitas palavras bonitas que gestores e secretários falavam, mas essa parceria nunca aconteceu. Não é porque eu era da oposição... Não consigo lembrar de nenhuma pasta do governo de Rafael Diniz que deu certo. Então, o meu parâmetro de estar vivendo a política é Rafael. Em relação a Wladimir, eu acho que Wlad é um cara extremamente articulado. Ele é um gestor muito articulado, muito querido por onde ele passa. Isso é muito importante! Ele une até parlamentares que não têm nada a ver um com o outro, consegue emendas em conjunto para trazer para Campos. Receber Caio Vianna foi uma hombridade, uma atitude muito bacana dele (...) E o Wlad selecionou aquelas pessoas que têm a missão na alma. Por exemplo, o professor Almy à frente da Agricultura é muito alma mesmo. Você vê que faz por amor. Às vezes, as pessoas não precisavam estar naquele cargo, mas trabalham de forma incessante. Se a gente precisa de um colega, liga no fim de semana, liga à noite, liga no feriado e consegue. Essa interlocução entre as pastas é importantíssima. Eu acho que o governo de Wladimir é um governo bom, mas tem tudo para ser um governo de excelência. São só três anos. A gente encontrou uma cidade tenebrosa. Sobre nota, daria 80... 75, 80. E na questão da reeleição, acho que vai em primeiro turno, porque Wladimir conseguiu alcançar as classes que a família dele não alcançava. A classe média e a alta hoje estão com Wladimir. Falo isso porque eu ando dentro da Firjan, dentro da CDL; faço parte da AIC, que é a Associação das Indústrias da Codin, e esse é o diagnóstico também da pedra, dos empresários. Ele se circula bem ali.
Participação do vice nessa articulação com o empresariado — O Wladimir tem pessoas ao lado dele que são grandiosas. Frederico Paes é maravilhoso e transita bem, é claro que ele abriu caminho para esse diálogo com os empresários. E ele é um vice que não é igual a muitos que a gente vê que estão ali só figurando; ele é atuante. 
Protagonismo da primeira-dama — Além do vice, dos secretários, subsecretários e presidentes de fundações, o Wladimir tem uma primeira-dama que é a única dama e é uma menina muito dedicada, a Tassiana. Eu vejo que a parte social, em que era para ele estar presente, ela consegue acolher, abraçar essa parte. Ela é muito articulada, muito querida, muito disponível. Então, acho que ele tem uma parceira em casa e no trabalho muito boa.
Relação entre o governo e a Câmara — Eu acho que o Marquinho (Bacellar, presidente da Câmara) ainda não entendeu que a política é uma roda gigante: hoje você está aqui, amanhã e depois você tem que em outro lugar. Enfim, eu acho que essa articulação poderia estar mais saudável se tivesse menos objetivos pessoais e mais uma visão para o coletivo. A partir do momento em que você enxerga que está ali para representar a população, você precisa às vezes passar por cima de algumas decisões ou interpretações individuais por conta da missão de estar ali como representante. A gente não está nos bastidores, no diálogo do prefeito com o Legislativo, mas eu observo que essa flexibilidade de diálogo com o Wladimir o Marquinho poderia estar aproveitando muito mais, porque o resultado vem. Não vai ser essa articulação mais próxima ao prefeito que vai desestruturar ou enfraquecer o objetivo pessoal do grupo deles. Pelo contrário! E hoje a população está muito mais atenta a quem realmente trabalha, a quem está ali para assumir de verdade o compromisso e a responsabilidade do Legislativo. Então, eu acho que esse diálogo com o Executivo poderia ser um diálogo mais aberto em favor do bem comum, que é a população. E é a obrigação tanto do gestor municipal quanto da Câmara também. Então, o desrespeito não tem que estar no nosso dia a dia. Eu não desrespeito ninguém. Eu falo o que eu preciso falar, até com o prefeito, como falei que a gestão política da Mulher só vai acontecer, de fato, se a gente tiver orçamento, se virar secretaria. Eu falo a verdade, nas não sou deselegante, grosseira, áspera, com ninguém. Nunca fui, nem quando era vereadora da oposição. Então, tem vereadores que têm essa visão, propõem leis que realmente são positivas. Tem vereadores que estão fazendo muito para favorecer também a gestão do prefeito Wladimir. Mas, eu acho que teria um outro resultado se houvesse mulheres ali.
Número de mulheres como desejo para a próxima Legislatura — Cinco. Com as condições que a gente tem hoje, cinco mulheres. Maior do que o último pleito. Mas, a gente tem que avançar muito. Sonhar, seriam 13 mulheres e 12 homens. Nunca teve mulher na presidência da Câmara. 
Atual oposição na Câmara — Os colegas vereadores estão aí tentando dar o melhor de si, a gente tem que acreditar nisso. A oposição hoje é diferente da oposição que a gente tinha antigamente, na minha gestão, porque a gente não tinha conchavo com ninguém, não tinha grupo político para nos apoiar. É muito difícil você ser vereador de oposição sem nenhum grupo político. E hoje, para quem está na oposição, existe apoio político. Rodrigo (Bacellar) está lá na Alerj dando esse apoio. Marquinhos e ele são do mesmo grupo, são irmãos. Então, é um pouco menos pesado. Tem Bruninho Vianna, gosto dele, como jovem vereador. Eu acho que a gente sempre tem a melhorar. Mas, acho que esse diálogo que não existe do presidente da Câmara com o prefeito dificulta a todos os vereadores, não só da oposição, como também os da base.

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