
Trata-se de ficção científica com caráter apocalíptico, como costumam ser as distopias. O filme tem todos os ingredientes para obter um bom resultado. Está colado a muitos aspectos da realidade atual. A vida na Terra não se tornou inviável, mas as condições socioambientais pioraram. Um milionário que mistura grande fortuna (como Ellon Musk) e fundamentalismo religioso (como pastores enfurecidos) recorre à mais sofisticada tecnologia para colonizar um planeta. Os colonos são pessoas que não conseguiram se inserir na sociedade estadunidense, presume-se. A inteligência artificial está presente de forma negativa. Com essa tecnologia, foi possível escanear a constituição genética e cerebral das pessoas para replicá-las e recriá-las caso morram, sendo, assim, possível recriá-las.
Essas pessoas descartáveis e recriáveis existem para realizar missões perigosas. Uma delas, é Mickey, homem que carrega sentimento de culpa pela morte da mãe e uma história de fracassos. Ele concorda em ser replicável. Morre e é recriado 17 vezes. Cada réplica não é exatamente como a anterior, mas fundamentalmente é a mesma. O projeto colonial é comandado pelo personagem de Mark Ruffalo. Trata-se de um bilionário reacionário que posa de líder religioso. É racista. Entre os passageiros, alguns foram escolhidos pela sua “pureza” racial branca para reprodução e colonização do planeta escolhido. Há negros e orientais ocupando cargos indispensáveis ao sucesso do empreendimento, mas descartados do trabalho reprodutor.
A versão 17 de Mickey apaixona-se por uma policial negra. O sexo ardente é uma compensação para os não-escolhidos. Mas Mickey 17 é enviado a uma missão mortal no novo planeta depois de morrer contraindo virose e voltar para travar contato com os nativos. Com o aspecto de tardígrados e de grandes tatus, certamente (pensa a elite racista que comanda o empreendimento) são animais selvagens que devem ser exterminados.
Contando que Mickey 17 seja devorado por eles, uma réplica sua é produzida. Mas os nativos são mais poderosos e inteligentes que os terráqueos e poupam a cobaia humana. Voltando à nave, Mickey 17 encontra o Mickey 18. Os dois passam a disputar a mesma mulher, que deseja ficar com os dois. Uma segunda mulher – escolhida para ser reprodutora – deseja o Mickey 17. O filme, então, começa a desandar. A tripulação se divide entre bons e maus. Os bons vencem, entram em acordo com os nativos e iniciam uma nova vida. A distopia se transformará em utopia?
Os ingredientes são bons para um filme. O resultado, porém, não nos leva a aplaudir o filme de pé.
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