Prédios históricos de Campos são desenhados por Rapha Pinheiro
Matheus Berriel 11/11/2023 09:37 - Atualizado em 11/11/2023 09:38
Fazer um desenho por dia durante todo o mês de outubro e divulgar nas redes sociais o material produzido. Essa é a proposta do movimento Inktober, criado em 2009 pelo ilustrador britânico Jake Parker e adotado por artistas de diversos países. Este ano, um dos participantes foi o desenhista Rapha Pinheiro, carioca radicado em Campos há dois anos. No último mês, usando apenas caneta nanquim, ele desenhou 31 imóveis de Campos, com objetivo de destacar a riqueza arquitetônica e alertar sobre o abandono do patrimônio histórico no Centro da cidade.
— Escolhi fazer a cidade de Campos justamente porque não sou daqui e conheço pouco — explica Rapha Pinheiro, editor-chefe da editora Guará e diretor da escola de mídias criativas Inko. — Vim para cá na pandemia. Então, eu queria usar esse desafio para conhecer melhor a cidade e me integrar. E outra motivação foi tentar chamar a atenção para os prédios históricos de Campos. Há muitos prédios maneiros, mas vários deles estão sucateados — complementa.
Foram desenhados pelo artista os prédios dos hotéis Flávio, Palace, Gaspar e Amazonas; lojas abandonadas, à venda ou em funcionamento nas ruas João Pessoa, Carlos Lacerda, Boa Morte e 13 de Maio, e nas avenidas Sete de Setembro, Pelinca, Alberto Torres e XV de Novembro; casas nas ruas Marechal Floriano, Siqueira Campos, Joaquim Nabuco, Vigário João Carlos e Barão de Miracema, e nas avenidas XV de Novembro e Alberto Torres; ruínas na rua Saturnino Braga e na avenida XV de Novembro; a Santa Paciência Casa Criativa; a sede da Lyra de Apollo. a Igreja Nossa Senhora da Boa Morte. a loja Maçônica Progresso; o chaveiro Cheng-Ten e a livraria Ao Livro Verde. Pintados com a técnica aquarela, os desenhos integram um caderno temático, estando cada um deles acompanhado pelo endereço e por informações técnicas, também registradas a caneta.
— Descobri muitos prédios incríveis nesse projeto. Vários deles estão no meu coração. Mas, um dos que mais me tocaram foi o Hotel Flávio, que eu já tinha desenhado antes do incêndio (em novembro do ano passado) e agora fiz novamente. É um prédio lindo! É um desperdício estar como está — destaca Rapha Pinheiro. — Outro que me encantou foi o Grande Hotel Gaspar, também enorme. Está com a fachada até bem cuidada, mas o prédio está fechado, sem uso. Foi um local que já recebeu reuniões abolicionistas e republicanas, tem toda uma história envolvida. Ali poderia ser um museu, um centro cultural, moradia, qualquer coisa. Infelizmente, é um espaço parado, que já teve até invasão anos atrás. Edifícios parados são um problema para a cidade — pontua.
Também chamou a atenção do artista um imóvel na esquina da avenida XV de Novembro com a rua Barão do Amazonas, próximo à praça do Santíssimo Salvador. “Está abandonado! Colocaram um tijolo na frente para ninguém invadir. É um prédio icônico, com uma torrezinha do lado. Parece que estão esperando cair. E é uma pena, porque fica em um local privilegiado e poderia sediar muitas coisas, como uma escola de desenho, por exemplo”, lamenta o desenhista.
Na visão de Rapha Pinheiro, o conjunto arquitetônico do Centro de Campos é um fator que possibilita à cidade ampliar o seu turismo. Para isso, porém, seria necessária uma revitalização.
— No Rio de Janeiro, a gente teve um processo de reurbanização da região da Lapa, que também tem um monte de prédios históricos. Por meio de uma lei nos anos 1980, foi revitalizado todo o espaço, que hoje é um espaço turístico. Vejo um potencial enorme para isso também em Campos. É uma cidade que já recebe turistas, já recebe gente de outras cidades por causa do Porto do Açu (em São João da Barra), e poderia estar usando melhor o seu Centro Histórico. Por isso, minha ideia foi atrair a atenção para esses prédios históricos, além de conhecer melhor a cidade — reforça.
Além dos 31 desenhos feitos para o Inktober, Rapha Pinheiro tem outros trabalhos sobre Campos, totalizando quase dois cadernos com desenhos de diferentes locais da cidade. Além disso, ele participa do grupo Urban Sketchers, cujos integrantes se reúnem uma vez por mês para produzir novos desenhos urbanos. Na última quinta-feira (9), uma exposição com algumas ilustrações de Rapha foi aberta no Parquecentro Shopping, onde permanece por tempo indeterminado. Outros projetos são analisados para o futuro
— Estou conversando com o (arquiteto e empresário) Edvar Júnior (presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas em Campos), no intuito de fazer uma série de quadros com esses desenhos do Inktoberfest, seja para vender ou para expor. Essa conversa ainda está avançando. E tenho conversado com muitas pessoas que me pedem para fazer um artbook com essas casinhas impressas. Estou pensando nisso, mas acho que só com os 31 desenhos ficaria pequeno. No ano que vem, pretendo fazer mais alguns, para que fique um livro maior e mais bonito nesse sentido. Estou aberto a projetos de divulgação desse material — finaliza.

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