Breve Longa História de Supermercado
NinoBellieny
Um Conto Mínimo
Se encontraram na esquina de um corredor de gôndolas de um supermercado, sem esperar nem desejar que acontecesse, mas se encontraram. Ele a viu primeiro, e percebeu ser uma mulher muito interessante, elegante nos trajes, na postura levemente inclinada para pegar algum produto na prateleira, corpo malhado, sem sobras.
Demorou 4 segundos para reconhece-la, oito anos e um mês depois do último encontro em outra cidade, 16 anos após o fim de um relacionamento intenso como um tornado para ele.
Ela se deslocou em busca de outra coisa qualquer, e passou rente, ele fixou o olhar nos olhos dela, como um raio-X móvel, atravessando as pupilas o suficiente para incomodar, mas também para atrair, o que durou a eternidade de alguns microssegundos.
Então ela também o reconheceu, os olhos de mar caribenho brilharam como em um dia de sol depois de semanas de chuva, o corpo se virou, e o abraço foi integral e instantâneo como a frase no pacote de leite em pó à mostra.
Da breve história que tiveram há 24 anos, ficara o carinho, e para ambos era diferente estarem perto, trocarem frases curtas, andarem até a sessão de bombons, como dois estranhos íntimos.
Depois cada um seguiu o próprio corredor, a compra restante, o carrinho a empurrar, a conta a fechar, a vida lá fora esperando cada um seguir a própria estrada, mas ele ainda pode dizer, e depois achou que todo o supermercado teria ouvido que, a amara muito. E não mentia na sua fala surpreendente até mesmo para ele, depois de tantos capítulos, episódios, aventuras e desventuras sem ela, sem os olhos dela, sem nada, só uma saudade agora explicada em toda a razão, porém mesmo assim, inexplicável e compreensível, inesperadamente esperada sem esperar, forte como o tempo, e frágil como tudo por este tocado.