Arhtur Soffiati - Culturas africanas
Arthur Soffiati - Atualizado em 21/10/2023 08:26
Uma das duas mais antigas civilizações floresceu no nordeste da África, com marcantes influências no Oriente Médio, no Mediterrâneo e no Alto Egito. Foi a civilização egípcia, constituída por povos negros. No grande continente, é extraordinária a diversidade cultural, em diferentes graus de complexidade. Ainda existem sociedades com economia baseada na coleta, pesca e caça, como as dos pigmeus e bosquímanos, por exemplo. Grande parte das sociedades vive de uma economia produtora de alimentos para subsistência. No continente, floresceram também pujantes civilizações, como as de Meroé, Etíope, Zimbábue e Benin, contrariando a concepção, ainda vigente, segundo a qual as variedades fenotípicas humanas da África seriam incapazes de alcançar níveis altos de complexidade sociocultural. Certamente, uma extensão do racismo ao plano cultural.
Grande é a influência das culturas africanas sobre as culturas de outros continentes. Até mesmo a arte moderna europeia buscou elementos em fontes culturais da África. Cumpre salientar com bastante ênfase que os interesses econômicos e geopolíticos das potências europeias voltaram-se para a África desde o século XV, estabelecendo nela feitorias, possessões e colônias. O congresso de Berlim (1884-85) promoveu a partilha da África por nações europeias sem qualquer consulta aos seus povos e sem qualquer respeito às suas realidades ambientais e culturais. Acentuou-se, a partir de então, o processo de ocidentalização das culturas africanas, que pode ser entendido como um significativo momento do processo de globalização.
Com a descolonização, após o término da Segunda Guerra Mundial, a presença efetiva e visual dos europeus diminuiu, mas não a ocidentalização. As fronteiras das ex-colônias, implantadas pela violência por países europeus, foram mantidas pelos movimentos de descolonização, normalmente liderados por elites intelectuais formadas no ocidente, ainda que apresentassem viés socialista. As lutas pela descolonização trouxeram, no início, um grande otimismo aos seus líderes e às populações dos países. Nos anos de 1950, a emancipação era vista com grandes esperanças por todos.
Entretanto, já na década seguinte, tais esperanças começavam a esmorecer. Os europeus legaram aos povos africanos recortes nacionais extremamente artificiais. A luta pela independência foi logo sucedida por lutas interétnicas, já que culturas diferentes e até inimigas foram reunidas no interior do mesmo país. Tais lutas foram responsáveis por verdadeiros genocídios em Moçambique, Angola, Nigéria, Congo, Sudão, Uganda e tantos outros países mais. O resultado foi a morte de milhares de pessoas, seja pelas armas, seja pela fome. Mais que pobreza, o continente africano vive hoje na miséria. O mapa das pessoas contaminadas por HIV mostra que o maior número delas situa-se na África, comprovando, assim, que a Aids é uma doença associada à pobreza crônica.
Do ponto de vista ambiental, o continente africano estende-se de entre os trópicos, passando por florestas equatoriais, savanas, estepes e desertos. Grandes são os seus biomas, ecossistemas e biodiversidade, todos ameaçados por pesadas interferências antrópicas que visam a economia de mercado globalizada, ainda que a globalização esteja abandonando ambientes e populações africanas à sua sorte.
Como se vê, o continente africano é um território fértil do ponto vista ambiental, cultural, histórico e, infelizmente, quanto aos seus problemas. As relações de suas culturas com a América e, particularmente, o Brasil, é das mais relevantes. Além de aspectos da mais alta importância para toda a humanidade. A genômica demonstrou a presença de forte carga genética negra em todos os seres humanos.
É oportuno observar que os cursos sobre África acabam resvalando rapidamente para a África no Brasil, deixando de lado a África na África. Há, cremos nós, duas explicações para este salto sobre o oceano Atlântico. O primeiro é o grande desconhecimento que ainda paira sobre as culturas africanas, mesmo num país que se considera tão intimamente ligado a elas. O segundo é o interesse acerca da África apenas no que diz respeito à cultura brasileira, tornando instrumental, deste modo, o conhecimento sobre a África na África.
Entretanto, não podemos descurar deste interesse instrumental, visto que o estigma africano no Brasil é muito forte, notadamente no que concerne ao racismo e às sofríveis condições econômicas, sociais e políticas de afrodescendentes. Examinaremos, daqui em diante, a literatura disponível sobre culturas africanas para professores e interessados. Em seguida, examinaremos minimamente tais culturas, pretendendo fornecer subsídios mínimos para trabalhar história das culturas africanas em sala-de-aula.

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