* Com Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira e Matheus Berriel
Prefeito de Campos por duas oportunidades, ex-governador do Rio de Janeiro e terceiro colocado na disputa presidencial de 2002, Anthony Garotinho (sem partido) decidirá até março se disputará um cargo no próximo pleito. Afirmou ter preferência por uma cadeira na Câmara dos Deputados, mas não descartou a possibilidade de concorrer novamente ao Guanabara, embora tenha elogiado o governador Cláudio Castro (PL). Para entrar na disputa eleitoral, precisa, contudo, regularizar sua situação junto à Justiça. Nessa sexta-feira (15), em entrevista ao Folha no Ar, da Folha FM 98,3, ele disse estar confiante na reversão dos impedimentos, além de ter criticado as operações que nasceram de investigações na sua cidade natal e que o levaram à prisão por cinco vezes. Para o político da Lapa, no caso da Chequinho, na qual já foi condenado em duas instâncias, delegado, promotor e juiz foram parciais – e ele busca a anulação das ações em instâncias superiores. Do seu grupo político, aposta que serão lançados dois candidatos a deputado federal e três a deputado estadual. Na análise da política local, elogiou o início do mandato do filho, o prefeito Wladimir Garotinho (PSD), ao qual atribuiu nota: “Falta agora, para tirar 10, fazer as coisas para aprontar para Campos o futuro”.
Operação Chequinho – Eu continuo com a minha visão a respeito deste fato e acho que, nas instâncias superiores, aquelas que vão julgar sem nenhuma influência local ou influência da Justiça Estadual, que foi denunciada por mim, um dos seus membros mais ilustres na operação Lava Jato, tudo isso será desmistificado. Inclusive, vou lançar agora, no final do ano, um livro chamado “Operação Chequinho – O outro lado da história”, onde nós vamos mostrar, passo a passo, as irregularidades que foram cometidas tanto pelo Ministério Público quanto pela Polícia Federal e, especialmente, pela Justiça. Então, eu tenho certeza que isso ficará bem claro, cristalino. Assim como outras tentativas de me tirar do processo político via judicial naufragaram, essa também há de naufragar. Eu não tenho dúvida disso.
Depoimentos de assistentes sociais – A decisão do juiz é lastreada basicamente em um depoimento, não tem prova material. Existe uma tal lista, que nós pedimos perícia e foi negada a perícia. Esse é, inclusive, um dos motivos da alegação. Na verdade, o que foi a operação Chequinho? Foi um golpe na candidatura do nosso candidato à época. Um golpe que envolveu a mídia; o Poder Judiciário, por motivos maiores do que os de Campos: eu estava em plena denúncia contra o grupo do ex-governador Sérgio Cabral e batendo de frente com pessoas poderosas, tanto do Judiciário quanto do Ministério Público. Então, eu creio que o papel dessas outras pessoas foi secundário. Na verdade, teve uma pessoa, um único depoimento. Não há nenhum tipo de prova no processo penal. Sem prova, não pode haver nenhum tipo de condenação. Há um depoimento, uma espécie de uma pessoa que contou uma história. Essa história não corresponde à realidade. Isso ficará provado, eu tenho certeza, porque os fatos são absurdos. Além de algumas decisões claramente ilegais. Por exemplo: o juiz que decretou a minha primeira prisão, o seu Glaucenir (Oliveira), ele era suspeito. Tanto era que ele veio de público, depois, naquela primeira, dizer que eu, através de interpostas pessoas, havia tentado suborná-lo, sem que eu nunca tivesse estado com ele ou tivesse tratado desse assunto. Para confirmar a sua suspeição, num outro caso, ele insinuou e depois falou abertamente que eu teria comprado uma decisão do ministro Gilmar Mendes com uma mala de dinheiro. Só que depois, quando eu processei e o ministro Gilmar Mendes o processou, ele se retratou, mas aí já era tarde. Ele foi afastado da magistratura por dois anos. Esse é um caso bastante emblemático. Eu considero que nós temos amplas e totais chances de reversão, porque, na verdade, o que ocorreu na linha do tempo foi a seguinte: o município de Campos tinha 25 mil pessoas recebendo o programa Cheque Cidadão. Veio a crise do petróleo, o petróleo baixou a níveis insustentáveis. A prefeita Rosinha, para continuar gerindo a cidade, pediu que nós fizéssemos ajustes, e fomos fazendo ajustes em contratos, obras. Eu era secretário de governo. Pois bem. Na hora dos programas sociais, nós tivemos que ajustar também. Então, encolhemos de 25 mil para 11 mil, 12 mil. Ficamos vários meses com um número bem menor. Quando a Prefeitura conseguiu viabilizar a cessão de crédito junto à Caixa Econômica Federal, nós, que já havíamos anunciado isso com antecedência, retomamos o programa. Quando nós retomamos o programa, aí, sim, houve uma resistência de algumas assistentes sociais, não todas, de não fazer o programa.
Impacto nas eleições – A eleição estava muito dividida. No final, com aquele massacre que foi feito, prisões em cima do processo eleitoral, ainda assim, o candidato apoiado pelo nosso grupo político (Doutor Chicão) teve 80 mil votos. Bem diferente do vexame que o Rafael Diniz passou: estando à frente da Prefeitura, teve pouco mais de 10 mil, 11 mil votos, uma votação pífia. Ou seja, o nosso grupo político se ressente até hoje de que várias pessoas foram injustiçadas, e eu creio firmemente. E essas questões levaram a essa posição, tomada em função de uma denúncia que eu fiz a nível estadual, à Procuradoria Geral da República, em Brasília. Eu estive pessoalmente, protocolei uma denúncia que envolvia o Sérgio Cabral, o Pezão, o senhor Sérgio Cortes, o senhor Arthur Soares, o senhor, já falecido, Jorge Picciani, e outras pessoas ligadas a esse grupo que estava encastelado no poder. Então, eu acho que, nesse momento, agora, sem a pressão que foi feita sobre os órgãos, essas questões todas vão ser sanadas.
Acusação de parcialidade – Reafirmo a posição que eu tenho defendido ao longo desse tempo: o juiz era parcial, o promotor era parcial, e o delegado era parcial. Isso está provado nos autos e será mostrado ao Supremo Tribunal Federal.
Delação de Ricardo Saud e operação Caixa d’Água - Em primeiro lugar, eu quero deixar bem claro que eu não conheço o Ricardo Saud (ex-executivo da JBS). Quando a JBS negociou um acordo com o Governo, no Ministério Público Federal foram horas e horas, meu nome não foi citado nenhuma vez. Pois bem. Eu recebi uma doação no valor de R$ 4 milhões, oficialmente transferida para mim pelo diretório nacional do Partido da República. Está lá, declarado. Quando o Supremo Tribunal analisar essa questão, vai ver que está lá: repasse do diretório nacional à candidatura a governador do estado do Rio de Janeiro. Não há dúvida. Eu não conheço Ricardo Saud. Ele mesmo disse, quando foi interrogado, que não tinha nenhum projeto para Campos. Não tinha sentido ele se envolver na minha candidatura. Então, ele disse ao responsável pela questão: “Vocês pegam do dinheiro que eu dei para o partido e deem a ele, porque nós não vamos dar nada; está querendo investir em Campos, então...”. Essa foi outra operação, aí já também com o dedo da Prefeitura de Campos, que pegou um cidadão, todo mundo conhece em Campos, e o financiou para ele contar uma história. Esse moço recebeu dos cofres públicos da Prefeitura, e isso também consta, mais de R$ 21 milhões de reais durante o governo Rafael Diniz. Bom, se o delator recebe dinheiro para fazer delação, não é delação, a meu ver. Eu estou absolutamente tranquilo. A prova de que esses fatos foram concatenados, montados a fim de me prejudicar, é uma só. Eu não tenho a menor dúvida dessa questão. Quando eu fiz a notícia-crime ao Ministério Público Federal, e eu tenho uma carta, deles ao encerrar agora as investigações, agradecendo a colaboração espontânea que eu fiz. Eu fiz delação. Não tem nenhuma ação da operação Lava Jato, como por vezes foi noticiado, inclusive em Campos. Em outros lugares, eles diziam que era da Justiça Eleitoral. Não tenho processo nenhum da Lava Jato, não tive sentença do Dr. Bretas, não fui denunciado pelo Ministério Público Federal. Então, o Ministério Público Federal sabe que eu denunciei o promotor que era o chefe do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Lopes. O que aconteceu com o Cláudio Lopes? Foi preso. Há prova material e testemunhal de que ele recebia R$ 150 mil, todo mês, dentro do Palácio Laranjeiras, das mãos do governador Sérgio Cabral. Quem mais eu denunciei? Eu denunciei o chefe do Poder Judiciário do Rio de Janeiro à época, com grande influência no Judiciário. Agora, inclusive, na nova delação feita pelo Sérgio Cabral à Polícia Federal, ele conta isso, né? Eu denunciei os dois últimos presidentes da Alerj, mais de 30 empresários. E há de se convir que eles diziam entre si: “Nós precisamos parar o Garotinho”.
Denúncias – Não é fácil comprar a briga que eu comprei contra o establishment do Rio de Janeiro. E vamos convir que, àquela época, o Sérgio Cabral estava muito forte. Não fossem as atitudes firmes que eu tomei, a coragem que eu tive de enfrentar ele e os seus aliados, aliados do Poder Legislativo, aliados do Poder Judiciário, aliados dentro do Ministério Público e aliados na mídia, de uma forma geral. No caso de todos esses cidadãos que foram denunciados por mim, eu apontei o enriquecimento ilícito dessas pessoas. Agora, o que mostraram de mim? Eu tenho conta no exterior? Eu digo: prova. Eu tenho alguma mansão em algum lugar? Filme. Porque tentar dizer que alguém usufruiu do dinheiro público, mas só dizer palavras, o vento leva.
Agressão na prisão – Por volta de 17h45, serviram lá o jantar, eu não quis comer, deitei. E, por volta de 0h30, 0h45, eu não sei a hora, mas aproximadamente isso, eu ouço um “psiu”. Eu não olhei, continuei com o rosto virado para a parede. E a pessoa insiste: “psiu”. Aí, eu olho. Quando eu olho, está um cidadão de camisa azul clarinha, calça jeans, sapato social, com um porrete, um pedaço de pau mais grosso na ponta. Por isso disseram que era semelhante a um taco de beisebol. Era um pedaço de pau, não era taco de beisebol. Então, ele olha para mim e diz: “Desce daí”. Eu perguntei se estava havendo alguma coisa, e ele disse: “não, desce daí”. Quando eu desci, como o espaço era muito pequeno, eu desci, fiquei a poucos metros dele, e ele falou assim: “É, rapaz, você é um sujeito que gosta de falar, né?”. Bom, minha profissão é essa, eu sou radialista. Ele foi para o meu joelho e deu uma pancada com tanta força que afundou uma parte da rótula do meu joelho. Era uma dor intensa, eu comecei a gritar, gritar, gritar, e ele parado na minha frente. Aí eu fui me curvando, curvando a cabeça. Quando eu estou curvando a cabeça, eu percebi que ele passou o pedaço de pau de uma mão para a outra. Falei: ele vai bater aqui em mim, atrás (na nuca), eu estou de cabeça baixa. E levantei a cabeça, fiquei meio emborcado, com a mão no joelho e olhando para cima. Ele, então, meteu a mão na cintura, tirou uma pistola preta e, em cima dela, tinha um friso dourado. Encostou na minha cabeça e disse: “Olha, cara, você devia era morrer, mas você não vai morrer hoje para não sujar pro pessoal aqui do lado”. O pessoal do lado a quem ele se referia era o pessoal da Lava Jato, quem eu tinha denunciado. “Mas eu vou deixar uma lembrancinha para você”. Aí ele foi, pisou nos meus dedos com o sapato. E quebrou, chegou a fissurar um dos meus dedos. Então, comecei a gritar, né? Fui até às grades, bati a mão. Demorou mais de 40 minutos para os agentes, que deviam estar na porta e não estavam na porta, finalmente aparecerem. Eu relatei o que havia acontecido. “Mas não pode, não tem ninguém, isso aqui é impossível”. Eu falei: “Ora, vocês revistem aí”. Vê na galeria se vocês acham alguém aí dentro, porque não é possível. Eles procuraram, não acharam ninguém, e disseram: “Olha, o senhor se automutilou”. Eu falei: “Como eu me automutilei? Acha aí um pedaço de pau e me explica também como eu, com o joelho desse jeito, ia pisar no meu pé? Na mesma perna. Ou, se eu tivesse pisado primeiro, como é que eu ia fazer isso no meu joelho? E com o quê? Acha aí alguma coisa com que eu pudesse fazer”. Aí ele: “Deixa eu chamar uma pessoa para atender ao senhor”. Foram lá na galeria A e trouxeram quem para me atender? Sérgio Cortes. Olha, Sérgio Cortes havia sido denunciado por mim. Eu mostrei a escritura do apartamento dele na Lagoa, comprado e pago em dinheiro vivo. Quando ele chegou com a malinha, examinou e falou: “O negócio aí do joelho é complicado. Eu vou lhe dar uma injeção”. Eu falei: “Doutor Sérgio Cortes, muito obrigado, mas eu não vou tomar injeção do senhor, muito menos aqui, dentro do presídio”. Ele queria (insistir)... Eu falei: “Olha, eu queria a vocês dois agentes penitenciários que me levassem lá para dentro, me colocassem numa cadeira de rodas e me arranjassem gelo”. E fiquei a noite toda com gelo no pé e no joelho. Na manhã seguinte, eu telefonei, através de um serviço que existe lá dentro, para o meu advogado, e dali eu fui para a delegacia de polícia.
Denúncia e investigação – Eles achavam que eu não ia dar parte. Eu dei parte. Eles disseram que era tudo mentira, me puniram, me colocaram em isolamento em Bangu. Pois bem, aí começaram as investigações. E as investigações, hoje, elas são incontestes, porque as fitas foram editadas, duas câmeras foram desligadas exatamente no horário. Foi feito reconhecimento facial, foi feito reconhecimento fotográfico. Então, todo mundo já sabe quem foi. Eu estou andando com escolta policial pedida pelo Ministério Público, eu e a minha esposa, Rosinha, porque o autor da agressão foi o policial militar da ativa Sauler Sakalem, e o seu pai era o subsecretário de Administração Penitenciária do governo de Pezão. O pai dele também se chama Sauler Sakalem. Segundo apurou-se através de uma série de questões, que aqui eu não posso detalhar, não seria conveniente, até para o processo poder fluir com tranquilidade, ele agiu a pedido do coronel Erir Ribeiro, que era o secretário de Administração Penitenciária e teria ouvido do Sérgio Cabral o seguinte; está escrito isso lá, está no processo: “Nós precisamos dar um couro no Garotinho”. É isso. Tem alguma dúvida?
Garotismo – Bom, eu queria dizer que, primeiramente, não existe esse negócio de garotismo. Existe o trabalhismo. Eu sou uma pessoa nacionalista, trabalhista e cristã. garotismo é invenção. Nas ideologias, não tem garotismo. Isso não existe. Tem pessoas que gostam de mim, me seguem e tal, mas seguem porque eu tenho um princípio. Qual é o princípio meu? Eu carrego dentro de mim muita coisa do que eu escrevi da Fundação Alberto Pasqualini. Eu fui pesquisar sobre o trabalhismo de Borges de Medeiros, do próprio Pasqualini e dessa doutrina, que é, a meu ver, aquilo que o Brasil precisa. O Brasil não precisa nem de uma esquerda caviar... Em Campos, traduzindo para o vocabulário local, uma esquerda da Pelinca... Nem mesmo precisa de uma direita raivosa. O Brasil precisa de pessoas com a cabeça centrada em desenvolvimento com descontração de renda. O Brasil não é um país pobre, o Brasil é um país rico. O problema do Brasil é a concentração de renda. A desigualdade no Brasil é um absurdo: 1% da população detém 50% da riqueza do Brasil, e não se mexe nisso. Minha crítica ao PT é justamente essa: o PT gastou mais dinheiro com bolsa banqueiro do que com Bolsa Família. Enquanto foram transferidos para o Bolsa Família alguns bilhões de reais, para o bolsa banqueiro, foram trilhões de reais. Então, quero deixar isso bem claro: não existe garotista. Existem pessoas que seguem uma a doutrina, a doutrina é trabalhista.
Governo Wladimir x governo Garotinho – Wladimir está fazendo um excelente governo, embora a situação que ele pegou fosse quase uma situação ingovernável, porque o Rafael “Cupim”... Eu dizia isso: “O Rafael é um cupim. Ele está comendo a administração toda por dentro e vai deixar uma casca. Se meter o dedo, está tudo podre”. Então, a saúde apodrecendo, o sistema de educação do município apodreceu; ele não foi criativo para resolver os problemas financeiros da Prefeitura. Aquele discurso de que se dizia: “Ah, vão vender o futuro”. Se não fosse feita a operação de crédito que foi feita por mim e assinada pela prefeita Rosinha, a situação de Campos teria se tornado muito mais grave, e o Rafael Diniz ia sair corrido da Prefeitura. Já foi posto para fora pela população, mas sairia corrido, porque, de fato, a situação foi muito complicada. Ele administrou muito mal. Wladimir está levando, é um jovem. Às vezes, tem ali um pouco de ânsia de resolver tudo num dia só. Não vai resolver. Eu disse para o Wladimir: quando eu fui eleito prefeito pela primeira vez, eu trabalhei com três linhas claras. A primeira: criar em Campos uma rede de proteção social, com boas creches, escolas, programas sociais de incluir essa periferia de Campos que foi marginalizada. Porque Campos é o retrato fiel do fim da monarquia. Campos tem uma elite pequena, mas insensível, que não entendeu até hoje que a escravidão acabou. Vota com a cabeça no Pelourinho, imaginando como se nós estivéssemos naquela época. A questão racial em Campos é muito forte. Então, a primeira meta era montar uma rede de proteção social. Assumi o governo com duas creches. Entreguei, no primeiro governo, com 40. Montamos parte da rede de proteção social. Melhoramos os salários, na época, dos professores, que ganhavam um salário mínimo, nós dobramos. Houve muito incentivo à educação. Mas, além disso, além da inclusão social, é preciso criar uma nova matriz produtora em Campos, porque a questão da cana-de-açúcar era descendente, não havia perspectiva. Houve aí um erro das duas lideranças políticas de Campos, Zezé Barbosa e Alair Ferreira, que se uniram contra Campos, nos bastidores, para levar a sede da Petrobras para Macaé, quando ela tinha que ter sido colocada em Campos. Então, era hora de diversificar. A gente ofereceu todas as condições para diversificação. Chegou a acontecer em Campos um fato ao contrário do que normalmente ocorre. Primeiro você tem a produção da fruta, depois chegam as indústrias. Nós chegamos a montar uma indústria, a Bela Joana, para que todo mundo que plantasse pudesse ter onde vender, ter garantia da venda do seu produto. Esse passo não foi ainda dado da maneira como precisa ser dado. E o terceiro ponto é que nós queríamos transformar Campos num centro universitário e de serviços. Comércio e serviços. Alguém tem dúvida que Campos, hoje, é o um dos maiores centros universitários do país? Foi em articulação pessoal minha com o professor Darcy Ribeiro, que era meu grande amigo, que nós levamos a Uenf para Campos, e outras universidades foram chegando. Campos, hoje, é um polo universitário. Alguém tem dúvida de que Campos, hoje, é um grande polo de serviços e de comércio? Absolutamente. Agora, existem comerciantes de Campos que pararam no tempo? Existem.
Nota 9 a Wladimir – No presente, eu daria nove para o governo Wladimir, porque eu acho que ele já mostrou que tem capacidade de recuperar a cidade de Campos do estrago que foi feito por Rafael. Falta agora, para tirar 10, fazer as coisas para aprontar para Campos o futuro.
Terceira via em 2022 – Possível, eu acho um pouco tarde. Necessário seria. Mas, acho que a eleição se polarizou a tal ponto que, mesmo com a velocidade que a gente tem da informação hoje, seria muito improvável uma eleição em que o PT e Bolsonaro não estivessem disputando. Digo o PT, porque pode ser que o Lula não seja candidato, coloque o Haddad, vai depender das circunstâncias. A menos que haja um fato novo, haja julgamento de chapa e seja tirado do jogo um dos dois lados aí, não sei. Fora disso, eu não creio, não creio que haja muita novidade.
Deputado ou governador – Eu, dependendo da minha vontade, seria candidato, serei candidato a deputado federal. Eu fui o deputado federal mais votado da história do estado do Rio de Janeiro até hoje, tive 700 mil votos. Uma eleição minha, hoje, para deputado federal, eu acho que ajudaria a puxar uma de outros candidatos. Mas nós temos que aguardar. Ontem mesmo, ligou uma importante figura do partido aqui para mim, né, tentando chamar para entrar na disputa ao Governo do Estado. Segundo ele me mostrou, tem uma pesquisa recente, bem recente, grande, feita no estado do Rio de Janeiro, onde eu apareço com 17% das intenções de voto. O segundo colocado é o general (Hamilton) Mourão (PRTB), com 15%, depois vem o Marcelo Freixo (PSB), com 12%, depois o governador (Cláudio Castro, PL), com 9%, o Rodrigo Neves (PDT) com 5%. Eu disse para ele que, a meu ver, o governador está se saindo bem, está fazendo uma boa administração, mas política é política. Vamos aguardar. É o que eu disse: quero ser deputado federal nessa eleição. Mas, às vezes, os fatos, as situações, o momento, podem te encaminhar para outra. A eleição que era mais difícil de eu ganhar era contra o César Maia, o auge do César Maia, e eu ganhei. A eleição que era imprevisível, que todo mundo dizia que ia fazer 1%, que era para presidente da República, eu cheguei pertinho, não fui para o segundo turno por questão de semana. A eleição ainda não está posta. Eu avalio que o governador está criando condições para crescer, está fazendo uma boa gestão. Mas, há questões aí e alguns aliados do governador... É muito difícil, né? É muito difícil.
Elegibilidade – A única coisa que eu posso responder nesse momento é que eu tomarei a minha decisão até março. Eu estou praticamente com a minha questão jurídica resolvida. Não tenho mais pendências. A última que existia foi a que me tirou da eleição passada. Eu fui tirado da eleição pelo artigo 15, inciso III, da Constituição, que diz: Sentença criminal transitada em julgado torna a pessoa sem direitos políticos enquanto durar a condenação. Pois bem, só aconteceu isso comigo porque o meu advogado perdeu o prazo, não recorreu pelo crime de calunia. Então, ele perdeu o prazo. Mas, agora, esse já foi afastado. Há uma questão da improbidade que é uma aberração. É um caso da improbidade que é uma vergonha. Na Chequinho, eu não estou inelegível ainda. A Chequinho não julgou ainda os embargos aqui no Tribunal Regional Eleitoral. Há uma questão que precede os embargos. Qual é a questão? É a suspensão do juiz. Assim como, no caso do Lula, o Sérgio Moro foi considerado suspeito, e, por ele ter sido considerado suspeito, todos os atos praticados por ele foram tornados inválidos, se, no julgamento da suspeição do Glaucenir, que foi considerado suspeito pelo próprio CNJ, Conselho Nacional de Justiça. Então, eu creio que essas questões todas vão ser resolvidas e justiça será feita. Eu não cometi nenhum tipo de patrimonialismo. Eu condeno patrimonialismo na política, não acho isso correto. Agora, eu não tenho como prever. Tenho que acordar. Estou indo para um partido que vai ter o maior tempo de televisão e o maior fundo partidário. Ontem (quinta-feira), me ligam e dizem: “Olha, talvez a gente precise que você se lance candidato a governador”. Eu tenho que aguardar. Embora eu diga que, com todo respeito, o governador está fazendo um bom governo, em que pesem algumas companhias, que podem lhe deixar muito mal.
União Brasil (PSL + DEM) – Eu conversei com a direção do partido antes da fusão. Depois que houve a fusão, eu perguntei a eles o seguinte: vai continuar esse mesmo interesse demonstrado por vocês de que eu vá para o partido? Eles disseram o seguinte: “Nós já tiramos algumas posições”. Candidatura própria (do partido) a presidente da República, isso me agrada, dependendo do candidato. Autonomia nos estados para poder fazer as suas alianças... O partido que vai ter o maior tempo de televisão e o maior fundo partidário; que tem, hoje, já a melhor chapa de deputados federais e estaduais. Eu sei que isso é difícil de a gente, que tem formação ideológica, aceitar, mas os partidos, hoje, são fantasias de Carnaval. Usam durante o Carnaval e depois tiram. Infelizmente, essa é a história do Brasil recente. Depois do bipartidarismo no Brasil, surgiram partidos para tudo. Lamentavelmente, você, quando entra numa disputa política, tem que se adaptar às regras daquele jogo. Se você perguntasse: em qual partido político você gostaria de estar? Nos princípios, eu sou conservador, eu sou cristão. E o cristão é o conservador, é a favor da família conforme está estabelecida na Constituição, não na interpretação do Supremo Tribunal Federal. Somos a favor dos valores cristãos. Mas, já pelo lado político, eu sou uma pessoa bastante progressista. Bom, eu gostaria de pertencer a um partido que pudesse unir. Com uma agenda que fosse capaz de resgatar os valores morais e, ao mesmo tempo, implementar um plano nacional de desenvolvimento. Mas, não há esse partido. Enquanto não há esse partido, eu tenho que me adaptar ao que existe.
Candidaturas do grupo – Eu sendo candidato a deputado federal, eu acho que deve se colocar mais um candidato a deputado federal. Foi como aconteceu com o deputado Paulo Feijó (em 2010). Ele teve uma votação pequena, mas, devido à quantidade de votos que eu fiz, ele acabou sendo levado naqueles 700 mil votos, onde fez, em Campos, pouco mais de 12 mil; no total, me parece que 20 mil. Então, agora, deputado estadual, é claro que, eu sendo candidato a deputado federal, minha filha não vai disputar a eleição comigo. Ela desceria para ser deputada estadual. Tem que avaliar. O Wladimir, hoje, tem um peso muito grande na decisão; a própria deputada tem. Temos que avaliar as nominatas dos partidos para ver se dar para fazer dois ou fazer três. Eu sempre faço uma conta: na eleição passada, você teve os votos do Gil Vianna, e todos na cidade de Campos, 14 ou 15 mil votos. Gil Vianna não disputa a eleição, faleceu, lamentavelmente, como todos nós sabemos. E teve o João Peixoto, que em Campos teve 13 mil votos. Então, 15 com 13, são 28. João Peixoto também não disputa, faleceu, mesmo problema, de Covid. Você tem os votos de Abu, que teve 16 mil votos, também não vai disputar a eleição. Então, você tem aí mais 16 mil. Estou falando só de deputado estadual. Você tem os votos que foram dados ao Pastor Éber, que me parece que em Campos foram em torno de 8 a 9 mil votos. Não deve também disputar a eleição. Você soma isso tudo, isso dá em torno de 50 mil votos. Então, tem que se analisar bem, né? Se o grupo político vai lançar dois, se vai lançar três. E você tem os votos que foram dados ao próprio Bruno Dauaire, que é do nosso grupo, e também os votos que foram dados a outros candidatos, de fora. Eu acho que dois federais e dois estaduais é (um número) bom. Mas, eu acho que ainda cabe um terceiro nome para deputado estadual.
Momento econômico – Eu acho que o momento é bom. Por alguns motivos, vai ser melhor. Posso expor dois, para não ficar muito longo. Primeiro motivo: lá atrás, no ano de 1999, eu pedi um estudo de batimetria do litoral norte do estado, com a firme crença, à época, de que apontaria um calado para um grande porto, que, a meu ver, seria, na época, Barra do Furado. Eu disse: bom, se Alair Ferreira já começou lá, algum estudo deveria ter tido. A empresa canadense depois me apresentou, e deu no Açu. Eu liguei então para o prefeito da época, que era Betinho Dauaire. Comuniquei a ele. Fiz todo o entendimento para que a Petrobras fizesse o porto. Depois, veio a crise da Ásia, a Petrobras desistiu, e aí, eu, numa apresentação do Conselho de Desenvolvimento Econômico do estado, quando apresentei vários projetos, apresentei o do porto. Quando terminou, Raphael de Almeida Magalhães me procurou e disse: “O doutor Eliezer Batista gostaria de conversar com o senhor. O senhor pode ir ali até a mesa?”. Claro. Fui lá, cumprimentei o doutor Eliezer, e ele disse: “Olha, eu gostaria muito de levar esse projeto do porto para o meu filho, o Eike Batista. Estou envolvido com outros negócios aí, mas eu acho que essa questão do vai ser muito importante e acho que é viável”. Bom, então, o caminho principal do desenvolvimento da região, e eu não estou falando só de Campos, é o porto. O porto que foi planejado por mim, foi levado até o Eike Batista, foi iniciado na minha época, e cuja pedra fundamental foi colocada pela Rosinha. Às vezes dizem assim: “Ah, Garotinho não procurou desenvolver a nossa economia”. O maior investimento privado incentivado... Claro que depois teve uma lambança aí com Cabral, desapropriação de terra do quinto distrito, mas isso é outra coisa. Isso não era o plano de ninguém. O Eike Batista, como empresário, viu as facilidades que foram dadas a ele e se enrolou todo. Bom, mas, de qualquer maneira, hoje o porto tem uma administração privada, um fundo americano que administra a maioria das ações do porto. Eles têm um projeto de transformar o Porto do Açu em um grande produtor de energia para o Brasil. Ou seja, isso vai ter um impacto dentro de Campos imenso. Na região toda será imenso.
Fortalecimento da cidade – Agora, para os próximos 10 anos, o Reino Unido colocou como definitivo que não haverá mais carro movido a combustível fóssil. Isso é definitivo. Bom, se não é combustível fóssil, o que vai substituir isso? Eles estão fazendo um projeto de um reator que dessaliniza a água do mar e produz energia. Energia que, hoje, é gerada em grande parte por combustíveis fósseis. Isso vai ser uma evolução. Então, o que que os países árabes estão fazendo agora? Como eles sabem que vão ter um tempo limitado do petróleo há mais 10 anos, no máximo, eles vão subir agora, de forma vertiginosa, o preço do barril do petróleo. Eu não duvido nada que, no final do mês, no mais tardar no princípio do outro, o barril do petróleo estará batendo 100 dólares. Com o dólar ao preço que está, eu acho que Campos vai recuperar jamais aquele volume de recurso, mas terá recursos para fazer obras necessárias, colocar a saúde para funcionar, colocar a educação para funcionar, tudo aquilo que o prefeito Wladimir tem vontade de fazer. A meu ver, o futuro de Campos passa pelo seu fortalecimento como polo universitário e cultural, passa por um processo de diversificação da sua agricultura... Campos é muito grande. Não há parque industrial hoje que dê conta da cana-de-açúcar, ou seja, ele mói toda a cana-de-açúcar que tem em duas, três vezes. É muito rápido. Os parques industriais foram modernizados, não modernizaram a plantação de cana, e não há espaço para fazer isso. Então, Campos tem que partir para uma produção agrícola diversificada. E fortalecer Campos como está acontecendo naturalmente. Olha as grandes redes varejistas do Brasil que estão indo para Campos. Há poucos dias, foi a Magazine Luiza. Olhe as grandes redes mercadistas que estão indo: todas elas estão em Campos, à exceção de uma ou outra.
Mudanças – Às vezes é preciso também dar um sacode nos empresários de Campos. Os empresários de Campo precisam ser mais ousados. Pegar essas pessoas como parceiros da cidade. Não é abrir uma loja nova e fechar uma loja tradicional. Esse modernizar, como dizia muito bem um frasista histórico, que é conhecido pelas suas frases, Winston Churchill... Ele dizia o seguinte: “olha, mudar sempre é bom, desde que seja pra melhor”. É que quando o cara manda para pior, né? Então, eu acho que está em curso em Campos um processo de mudança, de fortalecimento daqueles vetores que nós colocamos lá atrás. Acho que a região Norte será responsável em breve — quando as três termoelétricas estiverem funcionando, serão as três maiores do Brasil, a GNA1, GNA2 e GNA3, que é a proposta que eles têm — mais de 30% da energia consumida em toda a região Sudeste do país.
Proatividade – A prefeita Rosinha, à época em que era governadora, nós fizemos um trabalho para colocar gás na porta de todas as cerâmicas de Campos. As cerâmicas, se usassem gás, produziriam um tijolo, uma telha com uma qualidade infinitamente superior, com valor agregado lá em cima. Poderiam até produzir outros materiais a partir da argila que existe em Campos. O básico. Aí vai chegar alguém de fora daqui a pouco e vai fazer. Então, as pessoas precisam ter iniciativa. Reclamam da minha iniciativa na área que eu escolhi, política, mas eu fui proativo. Às vezes, a pessoa fala assim: “Ah, mas fica com esse negócio de programa social, programa de R$ 1”. Olha, uma coisa é uma coisa. O programa onde você monta uma rede de proteção social tem que existir, existe em todo lugar. Nos Estados Unidos, fortemente, para as camadas mais pobres da população existe proteção social. Agora, tem que saber que as pessoas têm que produzir, têm que se modernizar. Se você quiser vender sapato ou roupa ou móveis ou eletro da mesma maneira que você vendia há 20 anos atrás, não vai vender.
Rosinha fora – Rosinha vai se dedicar às atividades que ela está fazendo no momento. Terminou um curso para doceira, culinária. Está produzindo muito. Ela entende que já deu a sua contribuição, já deu a sua participação. Ela não vai ser candidata a absolutamente nada, segundo afirmação dela.
Ideologia política – Vamos que a vida segue. Eu tenho certeza que o Wladimir vai fazer um grande governo. Aí, outro dia, o sujeito diz assim: “Vocês estão loucos? Se o Wladimir fizer um grande governo, o garotismo vai levar mais 30 anos em Campos”. Não existe isso. Existe alguém trabalhista, que é conservador, que é de direita, que é de esquerda. Eu estou dizendo aqui: eu sou trabalhista, cristão, com princípios nacionalistas. Concordo com muita coisa do Bolsonaro, não concordo com muita coisa do Bolsonaro; concordo com muita coisa do PT, não concordo com muita coisa do PT. Eu tenho cabeça para pensar. Eu não sou obrigado a concordar com tudo de todo mundo que eu concordo.
Confira a íntegra da entrevista:
Publicado na edição deste sábado (16) da Folha da Manhã