Crítica de cinema - Filme inconsistente
- Atualizado em 11/06/2018 17:08
Divulgação
(Oito mulheres e um segredo) -
Dificilmente uma refilmagem supera o original. Tenho exemplos de muitas refilmagens que não agradaram, porém não me recordo de uma refilmagem que superasse o filme original ou o livro que lhe serviu de pré-roteiro. O filme original data de 1960. Naquele longínquo tempo, os ladrões tinham dignidade. Eram mais confiáveis. Face ao sucesso do filme, Steven Soderbergh resolveu produzir uma nova versão dele em 2001. Não contente, ele fez um novo filme com um novo segredo em 2004.
Não cabia uma quarta refilmagem, agora com oito mulheres em lugar dos homens. A menos que seja para agradar o movimento MeToo. É o politicamente correto, parece, que definiu esse “Oito mulheres e um segredo”. Se homens podem roubar com classe, por que as mulheres não? Para ser politicamente correto, além de o elenco ser composto por mulheres, ele deve integrar mulheres de tipos distintos do ocidental. Assim, integram o grupo uma negra (Rihanna/Bola Nove), uma indiana (Mindy Kaling/Amita) e uma oriental (Awkwafina/ Constance).
Mateusinho
Mateusinho / Divulgação
No mais, as brancas claras e louras (Sandra Bullock/Debbie Ocean, Cate Blanchett/Lou Miller, Anne Hathaway/Daphne Kluger, Sarah Paulson/Tammy e Helena Bonham/Rose Weil), todas elas norte-americanas, a mostrar que os Estados Unidos continuam no comando. O diretor Gary Ross, que também divide o roteiro com Olivia Milch, o produtor Steven Soderbergh divide com Olivia Milch a produção do filme e mostra que os homens continuam no controle. Há uma breve aparição de Elliot Gould, como é comum com Stan Lee nos filmes da Marvel, e uma foto de George Clooney, ambos para fazer um elo entre os filmes de Soderbergh e o atual.
Se, de fato, não me engano em detectar uma homenagem às mulheres no filme, levo a questão mais longe ainda. O cinema dos Estados Unidos sempre foi dominado por homens, que monopolizavam a produção, os roteiros e as direções. Por mais glamorosas que fossem as atrizes, até mesmo magnetizadoras dos filmes, os atores deveriam sempre os protagonistas. Se, para afirmar um movimento, for necessário a refilmagem de produções, a filmografia do país deverá toda merecer novos filmes estrelados por mulheres. Sempre entendi que os filmes originais são mais interessantes que suas cópias. Vejo, portanto, que é melhor filmes novos com diretoras, roteiristas femininas e atrizes.
Em “Oito mulheres...”, o problema dos dois filmes anteriores sob a batuta de Soderbergh persiste: roteiro longo para filme curto. A narrativa torna-se superficial. Ao sair da prisão, Debbie Ocean, irmã do líder de quadrilha Danny Ocean (George Clooney) já morto, é natural que ela tenha parceiras do lado de fora em quem confia e com quem pode trabalhar com segurança. Porém, as arregimentadas não têm tarimba para crimes sofisticados. Não há tempo para ensaiar o roubo. Então tudo acontece como que por encanto, com a ajuda providencial do roteirista e do diretor. Inconvincente.

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