Geane Vincler: 'História de já ganhou é perigosa'
Aluysio Abreu Barbosa, Edmundo Siqueira, Cláudio Nogueira e Gabriel Torres - Atualizado em 17/07/2024 08:31
Geane Vincler no Folha no Ar
Geane Vincler no Folha no Ar / Genilson Pessanha
“A gente não pode falar assim: ‘ah, tô eleita’, não tem isso. A eleição a gente vence ela depois que fecha as urnas”. A declaração foi feita pela prefeita de Cardoso Moreira, Geane Vincler (União), pré-candidata à reeleição, que aparece na liderança das pesquisas de intenção de voto. Ela participou nessa terça-feira (16) do programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3, onde ela avaliou o atual cenário e contou situações vividas, inclusive episódios preconceituosos por ser mulher, o que para ela foi uma quebra de paradigma em um município politicamente conservador. Geane também falou sobre o recente apoio do então pré-candidato Neto Sardinha, que retirou seu nome de páreo. Com a chegada de Neto como aliado, o grupo de Geane passou de quatro para seis partidos e o número de pré-candidatos a vereador também subiu de 40 para 60. A atual prefeita comentou, ainda, sua vitória apertada em 2020, assim como seus desafios no início da gestão. Geane também comentou sobre sua relação com o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, e possíveis projeções para 2026.
Cautela e pé no chão — Política é uma caixinha de surpresa. A gente não pode falar assim ‘ah, tô eleita’, não tem isso. A eleição a gente vence ela depois que fecha as urnas no dia 6 de outubro, fechou as urnas às 17h, teve a contagem dos votos, ganhamos as eleições. Então eu acredito muito nisso. Eu estou tendo até alguma dificuldade em Cardoso em relação a isso, porque o grupo (político) fala assim ‘a gente está com um percentual muito bom, já ganhamos, já ganhamos’. E essa história de já ganhou é muito perigosa. Isso é muito perigoso e eu não gosto muito desse já ganhou, não. Acredito muito na força do trabalho, vamos gastar sola de sapato, vamos visitar as famílias de casa em casa, porque nada é tão bom que não possa melhorar. Então vamos procurar melhorar esse percentual. E, aí sim, dia 6 de outubro, a gente vai ter a certeza da vitória nas urnas.

Cenário espontâneo — Acho que se você fala espontaneamente que você vota na pessoa, eu acredito que ela não vai mudar mais o seu voto. Acredito que já está consolidado. É um voto consolidado, uma vez que foi espontaneamente a opção da pessoa que foi pesquisada. Mas eu acredito que agora, com os novos acontecimentos (apoio de Neto Sardinha), eu acredito que vai aumentar ainda mais esse percentual. A gente não tem segundo turno em Cardoso Moreira, cidade pequena só temos um turno. Eu acredito muito na minha reeleição, que esses votos são realmente consolidados e que vai dar tudo certo.
Conservadorismo e preconceito — Cidades pequenas são conservadoras e Cardoso não é diferente. A gente enfrentou muitas dificuldades na campanha passada pela desconfiança, porque as pessoas desconfiam, até pelo fato de você ser mulher. Nós sempre fomos governados por homens lá em Cardoso Moreira. Foi Gilson, depois foi Renato, depois foi Gilson, depois foi Renato. E eles ficavam alternando no poder, as duas famílias. Depois veio o Gegê. E aí, na reeleição, acabou juntando o Renato com o Gilson, e tiraram o Gêgê, ficou apenas o mandato, e o Gilson voltou. E a gente teve muita dificuldade. Muitos homens falavam para eu ouvir: ‘Ah, lugar de mulher na cozinha, arruma um tanque de roupa para lavar’. E aquilo ali era uma maneira que as pessoas tentavam desmotivar, sabe? Mas eu sou muito focada no que eu quero, nos meus objetivos. E aquilo me dava ainda mais força, porque eu só pedia às pessoas uma oportunidade. A gente é muito rotulada. Às vezes, pelo simples fato de ser mulher, você é rotulada como se você não tivesse a competência de fazer um bom trabalho. E eu precisava quebrar esse paradigma. Para quebrar isso não foi fácil. Eu tive que andar muito. Então a gente ganhou as eleições pedindo essa oportunidade para as pessoas de mostrar um trabalho diferente, realmente uma política que pudesse cuidar verdadeiramente das pessoas. E hoje eles falam assim: ‘Poxa, uma mulher cuida muito bem de uma cidade’.

Obstáculos da mulher na política — A gente passa por situações complicadas, mas eu sou muito focada no bom trabalho. Acredito muito na força de um bom trabalho. Eu acredito que a gente conseguiu resgatar, vou falar pela minha cidade, quebrar esse paradigma na minha cidade de que mulher não sabe governar, que mulher tem que ser mandada por um homem. Eu acho que a gente conseguiu quebrar isso. A Neriete, por exemplo, que vai ser a nossa pré-candidata a vice, ela é uma vereadora de sete mandatos. Escolhi exatamente pelo histórico de trabalho dela. Uma mulher exímia, que todo mundo gosta. Então a gente acordou, juntamente com todo o grupo político, que ela seria o melhor nome e a gente vai agora enfrentar essa batalha aí, nós duas juntas. Hoje as pessoas pensam diferente lá em Cardoso Moreira em relação a dar uma oportunidade para a mulher governar o município.

Apoio de Neto Sardinha — A gente, há 15 dias, começou a receber algumas ligações do grupo do Neto (Sardinha), do próprio deputado Vitor Júnior (PDT), perguntando se teríamos como ter uma conversa, quem sabe uma parceria. E eu falei, lógico, deputado, com certeza. É um deputado que eu respeito muito, teve uma votação muito expressiva em Cardoso Moreira nas últimas eleições. Não me lembro ao certo, mas acredito que teve mais de 700 votos. Um parlamentar muito querido. E nós combinamos para que ele viesse tomar um café na minha casa, e sábado aconteceu essa conversa. Ele antes só foi pelo telefone, mas ele foi pessoalmente na minha casa juntamente com o Neto. Ele veio fazendo umas visitas no Norte e Noroeste e aí chegou a Cardoso. Tomamos um café, conversamos, e ele falou para mim que ele tinha orientado o Neto a desistir da candidatura porque estava bem difícil para ele, e orientou o Neto a fazer uma coligação comigo, a me apoiar. O Neto também, a gente sempre teve uma relação muito boa. Na época que eu fui secretária de Assistência Social, o Neto era secretário de Educação, da mesma gestão. Depois ele foi candidato a vice-prefeito com o Gegê. E eu fui candidata a vereadora. E a gente novamente veio o candidato, aí dessa vez ele veio candidato a prefeito, eu também vim, na época até a gente tentou fazer uma junção, nós dois, mas ele tinha um sonho de ser prefeito, eu estava bem nas pesquisas na época como vereadora, então também não tinha como eu ser vice dele, ele também não quis ser meu vice, e a gente acabou, cada um foi para o seu lado, ele veio candidato a prefeito, eu também vim. E essa decisão do Neto (em apoiá-la em 2024), eu acredito que o que tenha mais motivado ele a fazer isso, foi a questão do perfil do eleitor.

Migração de votos — O perfil do eleitor do Neto, ele é mais voltado para Geane do que para o Renatinho. Acredito que até as pesquisas mostram isso: que se Neto não fosse candidato, para onde os eleitores dele iriam. Eu acredito que o perfil do eleitor do Neto é mais voltado realmente para o meu grupo político. Até porque nós fazíamos parte de um único grupo político. Depois nós rachamos o grupo porque ele foi ser candidato e eu também. Então o grupo também automaticamente se dividiu. Parte foi para ele, parte veio para mim. A gente tem muitos amigos em comuns e acho que isso influenciou muito na decisão dele a vir para apoiar o nosso mandato, o nosso governo. Ele está com o MDB e o PL. E nós estamos com o União Brasil, PP, PSD e PDT. Então, nós tínhamos quatro, hoje nós temos seis. E ontem a gente fez uma reunião com os meus 40 pré-candidatos a vereadores e os 20 pré-candidatos a vereadores deles. São agora 60 pré-candidatos a vereadores de seis partidos. E aí ele falou: ‘gente, eu não estou vindo para cá para rachar, eu estou vindo aqui para somar’.

Críticas ao apoio de Neto — Preocupação, eu não vejo muita. Na verdade, eu olho muito o nosso grupo. Me preocupo muito com o nosso grupo, com os nossos projetos, com o que a gente precisa fazer. Eu sou muito focada no que a gente está fazendo. Tem gente que pega as redes sociais do outro pré-candidato e fica olhando. Eu não sou disso. Eu sou mais focada na minha campanha, no nosso governo, na nossa gestão. Não sou muito de ficar preocupada com o que fulano, beltrano está fazendo, não. Preocupação a gente sempre tem. Porque política se ganha nas urnas, mas não é nada que me assuste, não.

Nominata — A montagem da nossa nominata foi feita com muita cautela, com muito cuidado e muita estratégia também. Nós tínhamos 40 pré-candidatos. Dentro desses 40, nós temos sete vereadores. Nós montamos também uma nominata de vereadores dentro do meu partido, e o PP também com mais 10 pré-candidatos, o PSB com 10 candidatos e o PDT também com 10 candidatos. Então são 40 pré-candidatos, 42 pré-candidatos, juntamente comigo e com a Neriete. E agora a gente recebe mais 20 pré-candidatos a vereadores, 10 do MDB e 10 do PL. Então é um desafio porque você vem numa campanha, uma sequência de oposição e agora você se vê dentro da situação, dentro do governo. Nós temos a projeção de sete vereadores

Importância do Legislativo — É muito grande a importância do Legislativo. Sem o Legislativo a gente não consegue fazer exatamente nada. Se eles quiserem parar a gestão, eles param mesmo. Então assim, eu acho que tem que ter muito diálogo. Somos poderes independentes, totalmente independentes, porém somos harmônicos, precisamos viver em harmonia. Porque quando há uma harmonia, quem ganha é a população com isso. Eu procuro ter muito diálogo com os vereadores, todos os projetos de lei que eu vou descer. A gente fala descer porque a Câmara funciona no mesmo prédio da Prefeitura. Quando a gente encaminha a matéria para o Legislativo, eu faço questão de ir lá conversar, sento com os vereadores, explico a matéria, o que vai trazer de benefício para a população. Quando não posso fazer isso, eu peço o jurídico para que faça, o procurador-geral desce, faz uma reunião, conversa com os vereadores, ouve, de repente poderia mudar esse artigo aqui e tal, já discute. Isso é muito bacana. Porque eu sentia muita falta disso na gestão passada.

Participação feminina na nominata — Nós temos 30%. Nós temos 10 pré-candidatos em cada partido, sendo que em cada partido nós temos três mulheres. A gente começa a encorajar as mulheres a entrar na política. Eu não tive dificuldade para conseguir mulheres, não. As mulheres querem participar, estão mais participativas no seio político. Porque a mulher tem um olhar diferenciado, ela tem um olhar sensível. E a gente precisa desse olhar sensível dentro da política. Então a gente incentiva muitas mulheres a estarem participando desse pleito agora 2024.

Relação com Rodrigo Bacellar — A gente tem uma relação muito boa com o Rodrigo. O Rodrigo foi o deputado estadual mais votado da cidade de Cardoso Moreira no último pleito. Ele teve quase 2 mil votos. De 9 mil eleitores, ele teve 2 mil votos para deputado estadual. Então, em relação a percentual, a cidade que mais deu voto a ele em percentual foi Cardoso Moreira. Ele tem um carinho, um compromisso, um comprometimento muito grande com Cardoso Moreira. A gente tem um contato muito bom com o Rodrigo, hoje presidente da Alerj, e também um contato muito bom com o governador.

Projeções para Alerj em 2026 — Já recebi alguns convites em relação a isso, de repente pleitear a ser deputada, mas não passou isso na minha cabeça. Eu agora estou focada muito na minha reeleição, a gente está em uma pré-campanha aí e eu gostaria de governar o município por mais quatro anos. Eu gostaria de concluir oito anos, porque eu tenho muitos projetos ainda no papel. Tenho muitos sonhos no meu coração, na minha mente, que eu quero executar, eu quero entregar isso para a minha população. E acredito que, com apenas mais dois anos, eu ainda não vou conseguir entregar tudo o que eu almejo. Então eu gostaria, sim, de terminar o meu mandato, ganhar obviamente. Primeiro passo é tentar a reeleição, ganhando as eleições. Eu gostaria de ficar mais quatro anos para, realmente, executar e entregar tudo o que meu coração está pedindo para eu entregar para a minha população cardosense.

Vitória apertada em 2020 — Realmente, na eleição passada, eu tive uma margem muito apertada, de 8 votos. Até para mim foi surpresa. Porque a gente trabalha muito com pesquisa, na nossa campanha a gente faz muitas pesquisas, e eu achava que a diferença fosse de 200 votos, 250 votos, mas oito votos realmente surpreendeu a todos nós. E éramos quatro candidatos, tinha o Alexandre, tinha o Renatinho, o Neto e eu. E acabamos, com a graça de Deus, ganhando as eleições por oito votos. Uma eleição muito difícil, muito apertada. Éramos quatro candidatos novos.

Início da gestão — No início tivemos muita dificuldade, porque entramos em 2021 em plena pandemia, o comércio fechado, morrendo pessoas no nosso pronto-socorro. Realmente foi um ano caótico e eu não tinha experiência ainda do Executivo. Foi a minha primeira vez como prefeita, tinha sido vereadora na época. Mas eu vejo isso agora, esse percentual de 62,2%, como prova da realização de um bom trabalho. A gente vem realizando um bom trabalho lá em Cardoso Moreira, juntamente com a equipe, a equipe é muito boa. Nós temos secretários, subsecretários, superintendentes muito empenhados, focados, compromissados com a política pública e isso refletiu nas pesquisas.

Histórico de não reeleição — As pessoas lá em Cardoso Moreira, quando eu assumi, falavam assim: ‘Ah, foi difícil a eleição, a reeleição é muito mais difícil’. Mas eu não consegui enxergar dessa maneira. Eu acho que porque Cardoso Moreira só teve uma reeleição. Só conseguimos ter, em 35 anos, somente uma reeleição, que foi a do Gilson. O meu foco sempre foi realmente fazer um trabalho extraordinário, ouvindo a demanda da população, caminhando nas ruas, ouvindo as necessidades, os anseios da população e tentar realizar aquilo. Tentar entregar para população realmente o que elas pedem, o que elas precisam efetivamente. A gente buscou muitas parcerias junto ao governo federal, junto ao Governo do Estado, junto aos ministérios, emendas parlamentares dos deputados parceiros da cidade. Eu acredito que se você entrega uma política de fato, que é importante para a população, realmente que vai melhorar a qualidade de vida da população, eu acredito muito que elas reconheçam o trabalho.

Prevenção às enchentes — Deslocar a cidade de lugar, eu acho bem inviável. O que a gente tem feito lá em Cardoso é tomar medidas importantes para que diminua a quantidade de água dentro da cidade. Eu me lembro quando eu era secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, eu participei de uma reunião no Rio, o Comitê de Bacia estava presente. Na época, o governador era Pezão. E tinha um projeto do governo federal, juntamente com o Governo do Estado, que vinha essa criação de diques, de reservatórios, de Muriaé até Campos, para amenizar o sofrimento da população, porque Italva sofre com as cheias, Itaperuna também. Só que eu me lembro que o projeto, na época, era muito caro. Era coisa de bilhão. E não foi à frente. Mas, o que Cardoso Moreira tem feito? Primeiro, uma cidade de 35 anos, nós não tínhamos sequer uma secretaria de Defesa Civil. No caso, a gente implantou uma secretaria de Defesa Civil, compramos barcos, motores, coletes. A secretaria de Defesa Civil era acoplada à secretaria de Obra, de Infraestrutura. Nós dependíamos de barcos de pescadores. Por exemplo, se você entrar nos programas de Defesa Civil do governo federal, não tem nada lançado de Cardoso, como se nunca tivesse dado uma enchente. É surreal, mas é a pura realidade o que a gente passou. Criamos também o programa Cardoso 9.0, porque quando o rio (Muriaé) chega a 8 metros, ele já coloca a água para fora. E com esse projeto, Cardoso vai ter água nas ruas a partir de quando o rio chegar a 9 metros.

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