Helinho Anomal: "Tendência do PT é ser puro sangue"
Edmundo Siqueira, Cláudio Nogueira e Mário Sérgio Junior 04/05/2024 08:20 - Atualizado em 04/05/2024 08:35
Helinho Anomal no Folha no Ar
Helinho Anomal no Folha no Ar / Rodrigo Silveira
Sem críticas ao atual governo, o pré-candidato a prefeito de Campos pelo PT, Helinho Anomal, declarou que existe em seu partido, apesar de ter três nomes cotados para disputar a eleição majoritária e fazer parte de uma aliança com o PV e o PCdoB, uma tendência de ser “puro sangue”. Ele foi o entrevistado dessa sexta-feira (3) do programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3. Durante a entrevista, Helinho também falou sobre as várias correntes do PT em Campos e destacou que vê um favoritismo forte dentro do partido pelo nome da deputada estadual e ex-prefeita de São João da Barra, Carla Machado, mesmo com a possibilidade de ela não poder concorrer às eleições diante da tese do “prefeito itinerante”. Indagado se Carla poderia atrair o apoio do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, ao PT, Helinho afirmou que não quer “ser candidato de nenhum desses grupos”. Sobre a Câmara de Vereadores, Anomal projetou que o PT faça até dois representantes no Legislativo. Ele também falou sobre a possível visita do presidente Lula a Campos, que segundo ele ainda está sendo articulada.
Pré-candidaturas a prefeito pelo PT — Nesse momento, por uma decisão do diretório nacional, ele outorgou aos diretórios municipais de todo o Brasil que quem vai escolher o candidato a prefeito ou a prefeita, vai ser o diretório municipal. Por esse aspecto, então, os 35 membros do diretório vão se reunir e vão deliberar quem vai ser o candidato. Obviamente que os três nomes estão colocados. Tenho respeito enorme pela companheira Carla Machado. Sempre tivemos um bom entendimento, um bom diálogo. O professor Jefferson, que se coloca pela primeira vez. O Jefferson nunca foi experimentado em disputar um processo eleitoral, nem de vereador, nem de deputado, nenhum mandato. Eu tenho também com o Jefferson um relacionamento muito bom, muito respeitoso. E considero, já disse isso lá dentro do partido, vou dizer aqui publicamente, qualquer que seja a deliberação do partido, do diretório, o Helinho Anomal vai estar na campanha do PT. Se o meu nome for escolhido como candidato do partido, eu espero que a recíproca seja verdadeira, tanto do Jefferson quanto da Carla. Por mais que o PT hoje está em uma federação, já existe uma tendência forte, com todo o respeito que a gente tem ao PV e ao PCdoB, é que a chapa do PT deve caminhar puro sangue. É bem provável que aconteça isso. Essas conversas já estão se dando, já tem em andamento, esse diálogo, essa posição dentro do partido. Na última reunião do diretório, alguém já fez isso como proposta, mas não está resolvido porque é uma federação e você tem que ter diálogo, tanto com o PC do B quanto com o PV. A tendência é ser puro sangue, com todo o respeito que a gente tem.

Correntes do PT em Campos — A história do PT se dá exatamente não só pela questão dos trabalhadores, mas também da igreja. A igreja católica, principalmente, do estado de São Paulo, o PT sempre foi muito forte no ABC Paulista, aquela coisa toda, a criação do partido. E, consolidado essa situação, o PT vem se estruturando. Eu fui muito questionado com relação à minha permanência no PT, da qual eu me orgulho muito. E algumas pessoas falavam assim: ‘rapaz, sai do PT porque olha tudo que está acontecendo. Eu falei, tá bom amigo, amigo, amiga, companheiro ou companheira. E eu vou fazer política onde? E eu fui tentado, perseguido: ‘você tem que sair do PT, você tem que sair do PT’. Todas as correntes, eu sempre fui da corrente majoritária, tanto no movimento sindical, na articulação, quanto também da corrente majoritária dentro do PT. Então, dentro desse contexto, a Odisseia, que é a nossa presidente, é da corrente majoritária também, mas procuro fazer política com todas as correntes do partido. A recíproca é verdadeira, apesar das divergências políticas que nós temos. A condução do primeiro governo Lula não era a condução que foi dada, porque nós sabíamos de antemão a fórmula que se fazia política da polarização entre PSDB e PT. Sempre disputando as alternâncias de poder, que é natural que isso aconteça, mas não tinha essa implementação do ódio que se tem hoje. Então, dentro do PT, eu continuo porque eu me sinto bem. Respeito para ser respeitado. Então, eu tenho essa tranquilidade de dizer isso. Por que não sair do PT? Porque me sinto muito à vontade de falar o que eu penso, mas também vou ter que ouvir aquilo que os outros pensam. Então, as correntes lá dentro do PT, ainda que estão nas correntes minoritárias, merecem todo o meu respeito.

Situação de Carla Machado — Essa questão pontual da Carla Machado, na reunião do diretório foi feito esse questionamento, está em andamento todas as perspectivas de apurar isso mais detalhadamente com relação à possibilidade ou não de Carla poder ser candidata. Eu quero aqui dizer a vocês que tenho a devida tranquilidade de reconhecimento pelo fato de Carla já ter sido prefeita aqui no município de São João da Barra. Por onde eu ando, por onde eu passo, não é questão de ser humilde, é de reconhecimento. Dentro do PT, percebe-se nitidamente quando você vai às ruas, e eu vou, eu frequento vários ambientes, e as pessoas questionam isso, a questão da mulher mesmo, de ser quem Carla já foi. Eu percebo, por mais que eu consiga falar com as pessoas que eu sou pré-candidato, mas se sobressai muito mais e eu sou reconhecedor de que isso acontece. Isso não tira de mim a possibilidade, a perspectiva de ser o candidato do PT. É um pouco diferente do meu nome e do nome do Jefferson. Entretanto, política, eu acredito em planejamento. Nós do PT, em decorrência de tudo que é o PT, nós estamos o tanto quanto atrasados na minha concepção. Eu acho que, eu falo isso lá dentro do meu trabalho, onde eu fui candidato várias vezes, se você quer fazer uma campanha propositiva contrária a que está colocada, a que está posta no momento, que é a candidatura da reeleição do atual prefeito de Campos, por várias razões, pelo menos dois anos antes, você tinha que começar a trabalhar. Então, quase que todos os partidos, quase que todos os partidos, e no caso do PT também, está deixando isso para os 49 de segundo tempo. E esse momento, pelo que eu percebo, vou dizer muito francamente, eu acho um favoritismo dentro do PT muito forte do nome da Carla Machado. Por mais que ela tenha esses empecilhos, tenha essas dificuldades, a corrente majoritária do PT é que vai decidir.

Possibilidade de apoio de Bacellar — Eu não quero ser candidato de nenhum desses grupos. Eu sou pré-candidato da população de Campos. Não é rejeitar apoio. Eu sou um homem do diálogo, de buscar o entendimento. Vou externar o meu pensamento. Tenho o maior respeito, trabalhei em todas as campanhas do presidente Lula. Mas isso para mim é indiferente. Porque o que eu penso, eu não posso divergir do presidente Lula? Que história é essa? As pessoas, assim, se sentem o suprassumo da verdade. A verdade está com ele só e acabou. Então, eu tenho o maior prazer de dizer assim, eu posso divergir de tudo que você pensa, mas respeitarei as suas opiniões até o fundo d’água, porque esse respeito, hoje, nos dias que nós vivemos, está faltando na sociedade.

Nominatas — Nós temos hoje a perspectiva muito grande. A gente está visando muito a questão do legislativo. O PT, eu acredito, tem alguns mais ousados, né, que já chegaram a dizer que o PT vai eleger três. Então, hoje eu acredito que, pela nominata que está montada, o grupo de trabalho que foi preparado, o PT está muito consolidado com pessoas realmente que se identificam com o partido. Tem as candidaturas do PV e do PC do B também. Nós já elegemos dois vereadores em Campos, o PT. Na década de 90, o PT teve dois vereadores na Câmara: o Antônio Carlos Rangel e o Fontes, José Carlos Fontes. E a nossa Câmara de Vereadores agora, eu acredito que com essa mudança nós vamos eleger um com perspectiva de ocupar o segundo espaço. Com a mudança da legislação eleitoral, eu acredito que a gente consiga eleger dois companheiros ou duas companheiras para representar o partido na Câmara Municipal.

Cota de gênero — O PT tem, vamos dizer assim, essas questões das minorias, essa coisa toda, o PT tem uma participação muito efetiva em estar cotidianamente discutindo essas questões. Então, a cota de negros, por exemplo, é a coisa mais fácil que tende a atingir. A questão da cota de mulheres, que tem uma dificuldade enorme. Nós não temos essa dificuldade no PT. Não só o PT, o PSOL e outros partidos, o PSB, o PDT, sempre foram partidos realmente muito vocacionados por trazer essas discussões para dentro do contexto.

Esquerda perdeu força? — O tempo não é nosso. Nós não conseguimos parar o tempo. O tempo vai determinar tudo isso. Eu só lamento que o tempo está mostrando que nós estamos no caminho errado. Ao invés de se pregar o amor, está se pregando o ódio. Há uma disputa. Eu fico impressionado. Eu fui procurado por algumas pessoas que votaram no ex-presidente da República e a pessoa falou assim: ‘rapaz, eu não consigo entender como que você é um cara do PT’. Olha a fórmula. E eu tenho buscado o máximo possível de fazer com que as pessoas entendam que tem que prevalecer o amor, não o ódio. E isso está muito impregnado. E o poder de mobilização do movimento sindical, dos trabalhadores que estão nos partidos, chamado de esquerda e direita, essa coisa mundial que está acontecendo, essas mudanças que estão acontecendo, nós vamos pagar um preço muito alto por tudo que está acontecendo, porque nós precisamos usufruir mais dessa essência verdadeira de saber respeitar uns aos outros. Nós precisamos procurar o caminho mais correto, de saber, de respeitar o próximo. As pessoas estão chegando a um grau de loucura, de fazer besteira, de fazer coisas que jamais poderia imaginar que poderia acontecer.

Lula em Campos — Ainda não. Isso está sendo feito uma articulação, né? O Gilberto (Gomes) é assessor do Lindbergh, tem trabalhado muito isso, um ótimo secretário de Comunicação do Partido. Tomara que venha. O Plano Safra é muito importante. Teria outros assuntos para falar além do Plano Safra. Falar de agricultura, de uma série de coisas que nós entendemos que ele pode estar ajudando. Agora como vai fazer? Campos teve mais de 20 usinas. Nós estamos pautados hoje na antiga Sapucaia, que está hospedando a Coagro, que é uma cooperativa. E tem ali a Canabrava. Campos tem que voltar. Eu não consigo enxergar uma cidade como Campos, com todo o respeito que eu tenho, não preciso nem estar falando isso, aos gestores públicos, é preciso saber respeitar, mas Campos teve, assim, a oportunidade. Nós de 99 até agora, quanto Campos teve de royalties de petróleo? 30 bilhões de reais de royalties de petróleo. Aí eu pergunto: Quem lembra da Codin? O espaço que foi criado. Eu acho que é preciso que haja algo diferente. Longe de mim de querer fazer campanha extemporânea, mas Campos merece algo diferente. Eu acho que nós temos que ter esse compromisso. E aí, dentro do PT, reitero aqui o meu compromisso de estar trabalhando, lutando fielmente para que nós possamos realmente fazer uma Campos melhor. O Muda Campos, eu acho que foi importante. Tem toda a sua perspectiva de mudança e agora eu acho que tem que repensar algumas coisas que foram feitas e que possam ser feitas melhor do que aquilo que já foi feito. E aí, com todo respeito, no momento certo, na hora certa do debate, se for o meu nome escolhido, estarei ali com muito prazer representando de forma mais honesta é que se possa imaginar, eu acho que a desonestidade é fruto do mal, e a gente procura fazer sempre o melhor, sem atacar as pessoas.

Trajetória política — Começo aqui em Campos a minha trajetória política sindical em 1986. Foi a primeira vez, eu fui convidado, pusemos uma chapa, ganhamos a eleição, e ali eu era secretário, o primeiro secretário da daquela chapa na ocasião, e entramos ali, depois fui ser vice-presidente da chapa, e depois de vice-presidente comecei como presidente do sindicato, e estou nessa trajetória do movimento sindical... Eu fui candidato já sete vezes pelo PT. E assim, todas as vezes que eu fui candidato, como compartilhar a vida sindical com a vida partidária? Parece um troço meio estranho, mas todas as vezes que, dentro do projeto, que é aquilo que nós articulávamos dentro do sindicato, tudo isso foi deliberado por diretoria, não era da cabeça do Helinho, a gente tinha projeto. Então, em 94, eu comecei muito cedo no PT, todas as campanhas do Pascotto aqui em Campos, o primeiro candidato a prefeito do PT, depois veio o Luiz Antônio, depois veio o Adilson Sarmet, depois Luciano D’Angelo, a Luisa, e até que chegou o doutor Makhoul, do qual eu já estava presidente do PT. Eu era presidente do sindicato, mas também era presidente do partido aqui em Campos. É uma história longa, né? Eu tinha sido candidato a deputado. Eu tive duas boas eleições de deputado. Também me submeti duas vezes a disputar a Câmara de Vereadores em Campos. Me coloquei à disposição, tivemos um bom desempenho, mas também não conseguimos êxodo na Câmara de Vereadores. E depois, por indicação do partido, eu aceitei esse desafio, ninguém me obrigou a fazer isso. Eu tenho muita satisfação. Eu fui candidato a vice-prefeito na chapa, antes de ser candidato a vice-prefeito com o doutor Arnaldo Viana, eu fui candidato também a vice-prefeito com o doutor Makhoul Moussalem.

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